Publicado em 18.03.2010, às 07h23
Do Jornal do CommercioA honestidade do auxiliar de serviços gerais Ivaldo Constantino da Silva Neto, 32 anos, rendeu-lhe um presente inesperado. O rapaz que dez dias atrás achou e devolveu uma frasqueira contendo o equivalente a R$ 200 mil em joias no Aeroporto Internacional do Recife, onde trabalha, ganhou uma moto comprada pela dona da maleta. Ele viu o veículo na concessionária na tarde dessa quareta-feira (17) e deverá recebê-lo em casa até sábado.
A bolsa da marca francesa Louis Vuitton, esquecida perto dos telefones públicos do terminal, pertence à socialite Luíza Amorim de Carvalho, que reside no Rio de Janeiro e havia vindo a Pernambuco participar de uma festa de família. Ela mesma resolveu divulgar a atitude de Ivaldo. Na reportagem do dia 10 deste mês, o JC contou que os sonhos do funcionário eram comprar uma moto e fazer concurso público. A partir daí, Luíza resolveu presenteá-lo.
Nos últimos dias, uma sobrinha da passageira passou por concessionárias do Recife em busca da moto que a tia daria ao rapaz. Assim que fechou negócio, terça-feira à tarde, telefonou para Ivaldo para dar a boa notícia. “Pensei que fosse trote. Fiquei agitado, para lá e para cá. Nem dormi direito depois”, contou ele, ontem, logo após chegar à loja, no bairro da Imbiribeira (Zona Sul), para ver a mobilete.
Ivaldo ficou sabendo também que levou um capacete, dois tanques cheios e uma revisão do veículo como cortesia da concessionária. O diretor comercial, Leo Toscano, elogiou a história do rapaz. “É importante mostrar atitudes como a dele nesse momento em que o País busca a moralidade”, disse.
Todos os meses, cerca de 300 objetos – de óculos a malas – são abandonados nas dependências do Aeroporto Internacional do Recife. No último dia 8, Ivaldo achou apenas mais um. Percebeu que a maleta era cara, porém não a abriu. “Fiz o procedimento padrão: chamei a segurança e levei, junto com eles, o objeto até o setor de achados e perdidos”, disse, na ocasião. E a postura de decência, que para ele e milhões de brasileiros é e sempre deveria ser encarada como normal, chamou a atenção de muita gente.
Nos quatro cantos do aeroporto, Ivaldo agora é cumprimentado. Antes de a história das joias ser divulgada, era alvo de chacota de colegas, que acreditavam que ele deveria ter ficado com a valise recheada de colares de pérolas, brincos e anéis de brilhante. Afinal, mora numa casa com reboco por fazer e se desloca de bicicleta até o trabalho. “É engraçado, estou sendo reconhecido em lugares onde nem espero”, espanta-se.
Mas Ivaldo não liga para a fama repentina. Quer continuar estudando para conseguir emprego com melhor salário. Está tentando fazer um curso para trabalhar no setor de inspeção de bagagens com raio-x, no próprio aeroporto. Tampouco desistiu da ideia de prestar concurso público. “Vou continuar trabalhando e procurando vencer”, afirma, com a confiança dos honestos.