Autor(es): Carla Jimenez |
Isto é Dinheiro - 18/07/2011 |
O movimento "caras-pintadas", que derrubou o ex-presidente Fernando Collor no início dos anos 90, consolidou-se como a última relevante mobilização social no País
Um artigo publicado pelo correspondente do jornal espanhol El País, Juan Arías, no dia 7, provoca os brasileiros sobre a apatia popular diante dos casos escancarados de corrupção, como os ocorridos, recentemente, no Ministério dos Transportes, que derrubaram o titular Alfredo Nascimento. Sob o título "Por que os brasileiros não reagem diante da corrupção de seus políticos?", Arías discorre, estarrecido, sobre a falta de mobilização dos jovens e trabalhadores, que não saem às ruas contra a hipocrisia e a falta de ética de alguns ocupantes de cargos públicos. O jornalista espanhol tem lá uma forte dose de razão. Enquanto o mundo árabe se articulou contra seus ditadores, e a Europa faz manifestações seguidas contra a redução de benefícios sociais, o Brasil ainda não se rebelou contra os vampiros e sanguessugas do dinheiro público. Talvez, porque, a correlação que existe entre o dinheiro desviado do Ministério dos Transportes e o número de mortes nas estradas do País, pareça fictícia. O estelionato no Brasil acontece em doses homeopáticas, e travestido por complexas engenharias burocráticas, o que torna mais difícil entender sua lógica. Mais fácil enxergar, no atacado, para quem está de fora. O artigo do El País chega a questionar a natureza pacífica do Brasil, que teve nos "caras-pintadas", que resultou no impeachment do ex-presidente Fernando Collor, sua última grande mobilização nacional. No caso do jornal espanhol, contudo, vê-se que falta ao correspondente mais alguns anos para estudar um pouco a história do Brasil. É uma falácia imaginar que a população brasileira seja resignada, argumenta o historiador carioca André Dutra Boucinhas, um dos autores do livro "Pernambuco em Chamas", lançado no ano passado. "Só em Pernambuco, houve cerca de 30 revoltas populares, desde o Brasil-Colônia, incluindo a rebelião de escravos contra injustiças sociais, e da elite, que se sentiu desprestigiada na troca de comando entre liberais e conservadores, no século XIX", afirma. No fundo, o brasileiro tem suportado o abuso porque não conhece todos os dados da equação e ainda não sabe como reagir de modo assertivo. Mas já começou a fazê-lo, sim, por meio de ONGs, como a Transparência Brasil, ou a Contas Abertas, que disseca os orçamentos públicos, apontando a natureza de todos os gastos feitos pelas diferentes esferas públicas. É fato, também, que tanto na Europa, quanto nos países árabes, a crise econômica acelerou o processo recente de conscientização. O bolso apertado é um grande aliado das revoltas sociais. O Brasil, que surfa numa boa onda, está deixando a discussão para depois. Não é preciso, contudo, esperar as vacas magras chegarem para refletir a respeito da responsabilidade de uma parcela de cidadãos brasileiros nesse cipoal corrupto. Uma pesquisa feita, no ano passado, por um importante instituto de pesquisa, apontava os diferentes perfis do eleitorado brasileiro. Um mais conservador, outro mais ligado a questões sociais, e outro, que elegia seus representantes, a partir de uma ética relativa: se aquele político iria beneficiar seus interesses próprios, acima de qualquer crença coletiva. Essa fatia, representava um terço do eleitorado brasileiro. Esse padrão, sem dúvida, tem relação direta com os fatos vergonhosos protagonizados pelo Ministério dos Transportes. |
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