[Valid Atom 1.0]

terça-feira, 19 de julho de 2011

Cissa Guimarães fala ao G1 depois de um ano sem o filho Rafael

19/07/2011 11h18 - Atualizado em 19/07/2011 11h28


'Ainda é uma coisa que é estarrecedora pra todo mundo', disse atriz.
Jovem andava de skate quando foi atropelado em túnel interditado.

Carolina Lauriano Do G1 RJ

Apesar de viver, há um ano, a dor da perda do filho caçula, de 18 anos, o músico Rafael Mascarenhas, que morreu de forma trágica ao ser atropelado enquanto andava de skate, a marca registrada de Cissa Guimarães, o alto astral, permanece.

Veja ao lado Cissa falando sobre cultura, dramaturgia e a importância que teve no ano sem Rafael

O que a move não é somente o teatro, que ela classifica como restaurador e fundamental em sua vida, mas também o humor, a família e a "bondade no coração", expressão que usou ao defender um maior respeito ao próximo no dia a dia.

Cissa recebeu a equipe do G1 horas antes de subir ao palco com a peça "Doidas e Santas", que está em cartaz há um ano e 4 meses e atualmente é encenada do Teatro Vanucci, no Shopping da Gávea, Zona Sul do Rio.


Mesmo passando por um ano difícil, ela vive o auge da carreira: o espetáculo, onde interpreta a protagonista, é a sua estreia como produtora. Além disso, a atriz ainda divide o tempo com a novela "Morde e Assopra", da TV Globo, onde vive a personagem Augusta, dona de um spa, no núcleo cômico da trama de Walcyr Carrasco.

Antes da entrevista, ela segue um ritual: ascende uma vela e faz uma oração, de frente para o retrato de Rafael, colado no espelho do camarim. Além da profissão, Cissa falou sobre religião; confessou que o filho virou seu anjo maior; disse que a terapia do luto continua sendo fundamental na sua vida; revelou que tem vontade de ter um programa de entrevistas; chorou ao falar do neto José; fez críticas à prefeitura ao lembrar do atropelamento do filho no Túnel Acústico e explicou seu projeto de abertura do local para a prática de skate e uma galeria urbana.

Recentemente, Cissa virou madrinha de um grupo de skatistas que pede abertura de locais públicos para a prática do skate.

A atriz, agora, luta por um projeto que visa transformar o Túnel Acústico em galeria de arte urbana e também que o esporte seja permitido em horários pré-determinados, como nas horas de manutenção. A proposta, segundo ela, surgiu de uma conversa com os amigos de Rafael.

No mês passado, a prefeitura anunciou a criação de uma nova praça para a prática do skate, que ganhará o nome Rafael Mascarenhas, em homenagem ao filho de Cissa. A praça será construída no Centro, próximo à Leopoldina, embaixo de viadutos.

A decisão do processo que apura a morte de Rafael Mascarenhas foi adiada para o dia 17 de agosto. Na mesma data, serão ouvidos Rafael Bussamra - motorista que dirigia o carro que atropelou o músico - e seu pai, Roberto Martins Bussamra. Na ocasião, o juiz Jorge Luiz Le Cocq D'Oliveira poderá decidir se Rafael Bussamra será julgado por um Júri Popular ou na Vara comum.

Leia abaixo os principais trechos da entrevista:

Religião

“Primeiro eu acredito numa força maior, acredito em Deus, acho Jesus Cristo bárbaro, nossa, sou fã dele, sou fã do Sidarta, do Buda, sou fã de Nossa Senhora, sou fã de Santa Clara, sou fã de Cosme e Damião, sou fã de Oxum, sou filha dela, adoro Santa Bárbara, enfim, medito, faço meditação budista que me faz muito bem. Eu acho que na realidade você tem que buscar o que consegue fazer a sua energia vibrar de uma maneira boa (...) Mas estou sempre com os meus aqui (no camarim), minha Nossa Senhora, minha Ave Maria e o meu anjo maior de todos agora, que é o meu Rafael”.

Dramaturgia

“Adoraria ter um programa, de repente, de entrevistas. Claro que a dramaturgia fala mais alto, claro que me toca mais, que me emociona mais, que eu me realizo mais, eu sou atriz em primeiro lugar”.

“Eu acho que (a dramaturgia) aumentou mais e eu acho que não só porque pelo que eu passei e que me salvou literalmente, mas eu acho que quando a gente é um artista, cada vez mais aquilo tem uma importância maior na sua vida, cada vez mais você se agarra no trabalho e esse trabalho da gente tem essa função louca, o poder que tem restaurador da vida, é uma pulsão dentro de você, então cada vez você quer mais, quer trabalhar mais”.

Humor

“Você precisa de vitamina C, você precisa comer, você precisa respirar e você precisa rir. Você precisa rir. Rir de você mesmo. Você precisa gargalhar.”

“Acho que é uma condição sine qua non de boa qualidade de vida, acho que é uma condição sine qua non de uma sobrevivência, que foi a minha. É saúde, humor é saúde. A minha qualidade de humor obviamente mudou. (...) Eu sinto que ainda dou umas gargalhadas intensas, mas a quantidade eu sei que diminuiu é óbvio. Nem quero também mais ficar rindo de qualquer coisa. Até nisso o Rafa me ensina, vamos parar de rir também de bobeira, porque é tão bom, é tão importante você rir bem, é que nem os amores, e tão bom que você tenha um amor de qualidade, tão bom que tenha um sexo de qualidade, que tenha um trabalho de qualidade, que vamos gargalhar de coisas que são muito boas e não ficar rindo de qualquer coisinha”.

Família

“O José é uma bênção na minha vida. (...) Ontem até o Pereio (o ator Paulo César Pereio, ex-marido da atriz, com quem ela teve os filhos João Velho e Thomaz) apareceu lá em casa. O Pereio mora em São Paulo, o avô do José, e o José estava lá em casa, então a gente ficou os dois avós, (...) de lá eu fui fazer ioga, ontem eu não gravei, fiquei com o José até por volta de meio dia, ele foi para o colégio e eu fui para a ioga. Você sabe que eu estava fazendo uma postura, quando eu vi eu estava chorando de felicidade. Eu falei "que barato...que barato". Ontem foi um dia que eu fiquei muito feliz. Eu senti uma felicidade que eu não sentia ha muito tempo”.

Skate

“Assim que aconteceu (a morte do filho), foi uma comoção muito grande para todo mundo. E eles (amigos do Rafael) ficaram muito mexidos. Vai fazer um ano agora, mas eu acho que ainda é uma coisa que é estarrecedora pra todo mundo, a maneira como aconteceu”.

“Essa prática de andar de skate no Túnel Acústico já existe há 10 anos, quando o túnel está fechado para manutenção. Com todo o respeito à prefeitura, essa manutenção acontece muito pouco, então o túnel fica fechado e nada acontece. (...) Não existe nenhum lugar no Rio de Janeiro que seja permitida a prática de skate em vias públicas. O skate é um esporte marginalizado”.

“Quando o túnel estiver fechado para a manutenção, que eles sejam fechados mesmo também, porque dessa vez foi o meu filho, mas pode uma vez, se estiver em manutenção, ser com pessoas da CET-Rio, que passe um outro carro louco e mate uma pessoa da CET-Rio que esteja lá limpando o túnel, porque a manutenção continua. E não tinha ninguém tomando conta do túnel pra ele ficar fechado (no dia da morte do filho). Ninguém. Nem da CET-Rio e nem da prefeitura”.







LAST

Sphere: Related Content
26/10/2008 free counters

Nenhum comentário: