No Brasil, apenas 5% dos casos são diagnosticados no início da doença
Foto: Getty Images
O mieloma - câncer na medula óssea - leva cerca de dois anos para ser diagnosticado no Brasil. De acordo com a professora de hematologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, Vânia Hungria, um dos sintomas da doença é a dor lombar, com isso os pacientes procuram ortopedistas que acabam receitando anti-inflamatórios e outros tratamentos, sem investigar a real causa das dores. "Nos Estados Unidos, cerca de 30% dos diagnóticos são feitos no início da doença. No Brasil, este número soma menos de 5%", compara Vânia.
De acordo com a médica espanhola especialista em câncer hematólógico, Maria-Victoria Mateos, o mieloma não é uma doença de alta incidência, atinge cerca de cinco a cada um milhão de europeus, no entanto, se não é tratado no início, mata rapidamente. "A produção das células plasmáticas tumorais dentro da medula óssea causa anemia - que aparece em 80% dos pacientes, - lesões ósseas - sintoma de 90% dos doentes -, insuficiência renal e imunodeficiência", enumerou Maria-Victoria.
A doença atinge, principalmente, pessoas com mais de 60 anos, o que, de acordo com a especialista espanhola, dificulta ainda mais o diagnóstico, pois o médico pode ligar a dor lombar à idade avançada. "A chave para identificar a doença no início é o médico de atendimento primário, no caso o ortopedista, pensar na possibilidade do mieloma, se existe uma dor lombar não controlável e sem causa concreta", explicou a médica.
Apesar da demora dos médicos brasileiros para descobrir a doença, o mieloma pode ser detectado em um simples exame de sangue, a eletroforese de proteína. "Nas radiografias também é possível ver as lesões e fissuras ósseas no crânio e coluna", explicou Maria-Victoria. Uma vez que existem sintomas, é feito o exame na medula óssea para comprovar o câncer. Para a espanhola, falta os profissionais que recebem o paciente com dores nos ossos, não só os do Brasil, mas no mundo todo, serem instruídos sobre os sintomas, causas e o que é o mieloma.
Tratamento e sobrevida
"Ainda que detectada precocemente, o mieloma não tem cura", afirmou Maria-Victoria. O tratamento se consiste em garantir qualidade de vida ao paciente. Segundo a médica Vânia Hungria, quando o câncer é descoberto após dois anos, como acontece com frequência no Brasil, a pessoa pode morrer em semanas. No entanto, os medicamentos usados no combate à doença garantem cerca de cinco anos de sobrevida, se o câncer for diagnosticado no início. "Apenas 20% dos pacientes sobrevivem mais que dez anos", afirmou Vânia.
O tratamento tem o foco em ajudar o paciente a suportar as dores por conta das lesões ósseas. Maria-Victoria explica que existem métodos variáveis de acordo com a idade e condições do doente. "Os com menos de 65 anos recebem fármacos, para reduzir a carga tumoral. Depois, às vezes ainda são submetidos a um transplante de medula". Já os pacientes com mais de 70 anos são medicados com uma combinação de substâncias, com o objetivo de retardar o avanço do câncer, segundo a especialista Maria-Victória.
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