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terça-feira, 9 de agosto de 2011

Há 18 anos na fila do SUS

Edição de terça-feira, 9 de agosto de 2011


Esse é o tempo que Maria de Lourdes Araújo espera para realizar uma cirurgia vascular no Hospital Onofre Lopes
Maiara Felipe // maiarafelipe.rn@dabr.com.br

Ocaso de Maria de Lourdes Araújo completou a maioridade prevista na Constituição. Há 18 anos ela espera por uma cirurgia que vai corrigir seu problema de flebite - nome dado às acentuadas varizes que tem nas pernas - no Hospital Universitário Onofre Lopes. Exercendo sua condição de cidadã, Denise Araújo Correia, 28 anos, filha de Maria de Lourdes, escreveu uma carta para o Diário de Natal relatando o sofrimento da mãe de 59 anos, que passou por várias tromboses, internações, e vai recorrer à Justiça para poder ter seu direito à saúde garantido após quase duas décadas de espera. O caso de Lourdes é um no universo da enorme fila do hospital, que segundo informações não oficiais, chega a mil pacientes. A diretoria do Onofre diz que existe espera desde 2001, mas não confirma quantas pessoas aguardam pelo procedimento cirúrgico.


Lourdes sofre de flebite. Doença gerou diversas complicações Foto:Carlos Santos/DN/D.A Press
"Ela é paciente do Hospital Universitário Onofre Lopes há quase vinte anos, estando na fila para operar suas varizes desde então. Ou seja, há quase duas décadas ela está desassistida do único tratamento necessário para seu caso, que é a cirurgia", escreveu Denise. Em contato com a reportagem, a filha falou um pouco sobre o que sente desde os 10 anos, quando sua mãe entrou na fila de espera pela primeira vez.

A família mora no bairro das Quintas. Denise, que cresceu vendo as humilhações que a mãe passou por precisar do Sistema Único de Saúde (SUS), conseguiu se formar em Letras, e esperava um dia poder pagar a cirurgia. Foi a entrada no curso superior que acendeu nela a vontade de reivindicar seus direitos. De acordo com Denise, Lourdes entrou na fila em 1993 e chegou até a ser avisada da cirurgia. "Eles disseram que ela precisa de dois doadores de sangue. Nós conseguimos, mas ela não foi chamada", lembrou.

Sete anos depois e após muitos problemas de saúde causados pela demora na convocação do procedimento, a paciente resolveu procurar o hospital e saber o que estava acontecendo. A unidade informou que não tinha dados de Lourdes no hospital. SegundoDenise, a mãe voltou para o final da fila. No decorrer destes 11 anos, a única mudança que ocorreu no caso foram as sucessivas tromboses da paciente, internada por diversas vezes no Hospital dos Pescadores e no Walfredo Gurgel.

A flebite, em estágio avançado, pode causar danos e problemas ao sistema cardíaco, por possuir ligação com veias relacionadas ao coração. "Agora ela também sofre de pressão alta e tem tido batimentos cardíacos muito elevados, mesmo estando medicada para o controle disto", relatou Denise.

Até para conseguir entrar na Justiça e cobrar os direitos que lhe assistem, Lourdes tem enfrentado problemas. Ela precisa do prontuário do hospital, que está aguardando há uma semana, e de um laudo médico, que só pode ser feito quando os exames pré-operatórios forem concluídos. Do pré-operatório, Lourdes precisa somente de um exame, o ecodopler de membros inferiores, solicitado de forma urgente através do Ministério Público à Secretaria Municipal de Saúde. A requisição do exame está no órgão desde o último dia 25.

Ao telefonar para saber sobre o ecodopler da mãe, Denise foi informada por uma servidora que Lourdes teria que obedecer a enorme fila como os demais pacientes. "A luta é grande, já tem durado muitos anos, e intensificou-se nos últimos dias, em virtude de um agravamento da flebite e a necessidade do imbróglio judicial. As humilhações sofridas no meio do caminho entristecem. A desumanidade por parte de muitos é grande, chegando a assustar. Só não esmoreci ainda porque trata-se de minha mãe", declarou Denise que vai continuar lutando por um direito básico previsto em Constituição.

diariodenatal

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