Quanto a Palocci, decisão é mais um mimo de seu comportamento autoritário nessa crise
Desde que a Folha revelou o súbito enriquecimento de Antonio Palocci, a imprensa faz o seu trabalho e procura ouvi-lo. Inicialmente, o governo decretou que nada havia a explicar e, com o autoritarismo costumeiro, deu o caso por encerrado e tratou de lançar alguns factóides para distrair jornalistas. Um deles consistiu em tentar meter a Prefeitura de São Paulo no rolo, acusando-a de vazamento. Não foi o suficiente para matar o caso. O silêncio de Palocci só fez crescer a curiosidade.
Muito bem! Todos gostariam, vamos ser claros, de ter uma entrevista exclusiva com Palocci, certo? Se a Globo conseguiu, melhor pra ela. Mas aí vem a pergunta: “Conseguiu?”
Do modo como as coisas estão sendo feitas, o Planalto está deixando claro que a Globo não conseguiu nada; o governo é que DECIDIU que seria no Jornal Nacional. Então se pode fazer outra pergunta: “O Jornal Nacional deveria recusar?” Ora, claro que não!
A resposta é óbvia. Mas há condicionantes.
O Planalto está querendo usar o Jornal Nacional como uma variante do pronunciamento oficial. Como se trata de um programa jornalístico, a credibilidade é maior — e a audiência também. Afinal, pronunciamento oficial e horário político gratuito são sempre bons momentos pra fazer xixi, pegar um pedacinho de pudim na geladeira, botar uma meia mais quentinha (neste frio desgraçado que faz em São Paulo), fumar um cigarro na sacada até que a Marcha da Maconha não consiga botar o tabaco na ilegalidade…
Não há motivo para pôr sob suspeição a entrevista antes de ela ir ao ar. No que concerne à TV Globo, até agora, não há nada de errado. Agora, no que diz respeito a Palocci, as coisas, entendo, se complicam ainda mais.
Seu comportamento tem sido notavelmente autoritário. Ele age como se fosse apenas uma celebridade da esfera privada, que não tivesse satisfações a prestar a ninguém. Vive numa espécie de delírio de poder, arrastando consigo a reputação do governo e deixando até o PT em situação difícil. E olhem que isso não é fácil.
A Globo certamente tomará cuidado para que Palocci, na ânsia de se salvar, não contamine também o jornalismo da emissora.
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