O próximo Grammy vai incluir as trilhas de jogos entre suas principais categorias de premiação. Estava na hora, considerado que 72% dos americanos praticam regularmente algum tipo de game. A idade média dos jogadores é de 34 anos, jogando há 12. 40% dos jogadores é mulher. 8% são chamados de extreme gamers, pois passam mais de 50 horas por semana a jogar. A média semanal de atividade nos EUA, a propósito, é de 18 horas.
Ao redor do mundo a situação não é diferente: World of Warcraft passou dos 12 milhões de usuários. Já são mais de 160 milhões de consoles de Xbox, PS3 e Wii no mundo. Cerca de 60% dos aplicativos disponíveis para iPhone são videogames. Angry birds, o mais popular deles, registra o equivalente a 125 anos jogados a cada dia. Na Coréia do Sul há mais de 300 "atletas" patrocinados, que lotam auditórios grandes em apresentações públicas.
A indústria de jogos eletrônicos faturou mais de 10 bilhões de dólares em lucros no ano passado, um valor bem superior às indústrias fonográfica e cinematográfica combinadas. Ela é tão importante que é mais fácil imaginar um blockbuster que não comercialize sua trilha sonora do que um sem versão em jogo.
Goste você ou não de videogames, não há como negar que os "joguinhos" são um sucesso sem precedentes. Deve haver algum motivo além dos suspeitos tradicionais-- banalização da mídia, isolamento social, infantilização do público, cultura de consumo e tantos outros argumentos usados para criticá-los --que explique tal popularidade e crescimento.
E há. Ele não está só na capacidade de processamento dos consoles nem no realismo gráfico de seus cenários --senão a fazendinha do Facebook não seria tão popular-- mas no uso intenso de uma ferramenta acessível, estratégica e, em boa parte, gratuita: a análise de métricas de usos e acessos. Em português, isso quer dizer a medição estatística de quem clica aonde, de onde vem, para onde vai e quando abandona o recinto.
A mensuração de serviços online é quase tão velha quanto a web. Em seu início, ela não revelava muito mais do que o número de páginas acessadas, a quantidade de visitantes e os horários de pico. Hoje é possível medir os locais por onde o mouse andou e até simular o caminho percorrido pelos olhos quando se vê uma página. Em e-books, dá para saber que trechos são marcados, em que página a leitura é interrompida e quanto tempo ela leva para ser retomada, se o for. Em celulares, dá para agregar a essas medições dados de localização, deslocamento e velocidade - e assim deduzir se um aplicativo é consumido no trânsito ou até mesmo se o usuário está no volante ou não, dado que dificilmente seria revelado em uma pesquisa.
A análise dessas medições permite comparar versões de textos, cores e formas de cada interação que um serviço tem com seus usuários, saber com precisão quais são as que geram melhores resultados e tomar decisões estratégicas rapidamente. Para os prestadores de serviços, essa tecnologia é uma bênção sem precedentes.
No entanto são poucos os websites que se dão ao trabalho de mensurar, mesmo de forma precária e genérica, o desempenho de suas páginas. Várias lojas virtuais não entendem a mágica que faz algumas seções venderem bem enquanto outras encalham, publicitários continuam deixando o "gênio criativo" de suas campanhas sem auditoria, órgãos públicos distribuem mal seus investimentos na área digital e a maioria dos portais de revistas parece não ter deixado o papel quando ignora completamente o assunto e perde com isso uma excelente oportunidade de medir, ao vivo e a cada instante, que tipo de diagramação, fotografia e formato de texto funciona bem contra o que é só ruído. Intuição que ignora a tecnologia não é talento: é teimosia.
A medição da visita e comportamento do usuário ainda é um diferencial competitivo. Mas não demorará para que seja um pré-requisito essencial que, como acontece na indústria de videogames, separa o trabalho profissional do amador. Quem adotar essa tecnologia mais cedo terá tempo suficiente para aprender e testar suas estratégias e aplicá-las com segurança quando for necessário.
A concorrência é selvagem e só tende a se acirrar. Por mais que você acredite na qualidade do biscoito fino que fabrica, não custa nada verificar se quem o consome concorda com a sua opinião.
Luli Radfahrer é Ph.D. em Comunicação Digital pela ECA (Escola de Comunicações e Artes) da USP, onde é professor há 18 anos. Trabalha com internet desde 1994 e já foi diretor de algumas das maiores agências de publicidade do país. Hoje é consultor em inovação digital, com clientes no Brasil, Estados Unidos, Europa e Oriente Médio. Mantém um blog com seu nome www.luli.com.br, em que discute e analisa as principais tendências da tecnologia. Escreve quinzenalmente no caderno Tec da Folha e na Folha.com.
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