Acolhida ao presidente deposto Manuel Zelaya deixou funcionários confinados na embaixada do país
Léo GerchmannCinco funcionários brasileiros se sentiam ontem ilhados na embaixada do país em Tegucigalpa, surpreendidos pela acolhida ao presidente deposto Manuel Zelaya e apreensivos com o que lhes reservariam as próximas horas. Da Rua República do Brasil, próxima ao centro da capital hondurenha, ouviam o coro dos que gritavam os versos do hino nacional e pediam para ver “Mel”, com faixas e palavras de ordem.
Zero Hora falou com um desses funcionários, um assistente de chancelaria, em seu celular. Ele pediu para não ter o nome divulgado, mas deu o tom do que vivia com seus colegas em uma exígua sala, próxima do escritório onde permaneciam reunidos o presidente deposto, Manuel Zelaya, sua mulher, Xiomara, e o diplomata brasileiro Francisco Catunga, encarregado de negócios da embaixada. O embaixador Brian Michael Fraser Neele está no Rio de Janeiro.
– Para nós, foi surpreendente. É claro que uma operação dessas não pode ser anunciada, envolve muitos riscos. Mas ninguém de nós esperava por isso – contou o assistente de chancelaria, enquanto uma emissora de rádio hondurenha, favorável ao governo que depôs Zelaya, desmentia os fatos que ele estava presenciando.
– Estamos nos sentindo ilhados. Deveríamos ter saído daqui às 14h, mas são 14h20min (17h20min pelo horário de Brasília) e ainda estamos aqui. Lá fora, tem umas 2 mil ou 3 mil pessoas. Cantam o hino. São a favor do presidente. Por isso, não nos sentimos a perigo. Estamos tranquilos.
As vozes que vinham da rua eram fáceis de ser ouvidas pelo telefone, em Porto Alegre. De acordo com o funcionário, o barulho, dentro da embaixada, era ensurdecedor. Gritos eram ouvidos em espanhol e até em garifuna – o idioma de um grupo étnico descendente de índios e africanos.
A movimentação começou a aumentar gradativamente, desde a chegada do presidente, no final da manhã. Imediatamente, o trânsito foi bloqueado e veio a determinação: ninguém entrava e ninguém saía do prédio, mesmo funcionários. Questionados sobre o ânimo dos funcionários brasileiros com a volta de Zelaya, o assistente de chancelaria, de 49 anos, mesmo sob anonimato, deu a resposta padrão da diplomacia:
– Não nos envolvemos em questões internas do país onde servimos.
Do lado de fora da embaixada, vive-se uma eleição presidencial rejeitada pela comunidade internacional. Cobertos de pichações, os muros de Tegucigalpa mostram a divisão da sociedade hondurenha desde o golpe de 28 de junho. As inscrições favoráveis a Zelaya aumentam, como forma de contrabalançar o que sai na mídia, em sua maioria favorável ao governo que o depôs. Para o governo instalado desde o golpe, a saída da crise virá com as eleições gerais de 29 de novembro. Na televisão, os pedidos de voto são alternados com a denúncia de supostos casos de corrupção atribuídos ao presidente deposto.
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