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terça-feira, 22 de setembro de 2009

Em tom desafiador, Zelaya diz que seu lema agora é ‘pátria, restituição ou morte’

22/09/09 - 01h48 - Atualizado em 22/09/09 - 02h03


Zelaya voltou de surpresa ao país e está abrigado na Embaixada do Brasil.
Governo interino pede que Brasil entregue presidente deposto.

Do G1, com agências internacionais *


O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, disse nesta segunda-feira (21), que ninguém voltará a expulsá-lo de seu país e que seu lema a partir de agora será “pátria, restituição ou morte”.

Quase três meses depois de sua deposição, Zelaya regressou a Honduras nesta segunda e se refugiou na embaixada do Brasil em Tegucigalpa. O clima é de tensão, pois assim que a noite caiu a energia no entorno do prédio da embaixada brasileira, na região de Colonia Palmira, foi cortada.

“A partir de agora, ninguém voltará a nos tirar daqui. Por isso, nossa posição é pátria, restituição ou morte”, afirmou Zelaya diante dos milhares de simpatizantes que cercaram a embaixada brasileira para comemorar a volta do presidente.

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O presidente interino de Honduras, Roberto Micheletti, disse nesta segunda à noite que agora considera encerrada a mediação da crise pelo presidente da Costa Rica, Oscar Arias, devido ao retorno de Zelaya ao país. “Creio que o senhor Arias não tem absolutamente nada a fazer”, afirmou.

Micheletti pediu, também na noite desta segunda, que o governo brasileiro entregue o presidente deposto do país, para que ele seja submetido à Justiça. O governo interino protestou contra o Brasil por ter abrigado Zelaya e o responsabilizou por qualquer ato de violência que possa acontecer perto da sede diplomática, que está cercada de manifestantes favoráveis ao presidente deposto.

“Faço um apelo ao governo do Brasil que respeite a ordem judicial ditada contra o senhor Zelaya, entregando-o às autoridades competentes de Honduras”, disse Micheletti em cadeia de rádio e TV.

O Ministério de Relações Exteriores de Honduras divulgou nota de protesto contra o que considera uma “ingerência em assuntos privativos dos hondurenhos”, e, segundo o governo de fato, uma “flagrante violação do direito internacional”.

Foto: AFP

O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, cercado de partidários, em frente à embaixada do Brasil, em Tegucigalpa, nesta segunda-feira (21). (Foto: AFP)

Zelaya

Por telefone o presidente deposto concedeu entrevista a “TV Brasil”. Ele falou sobre as razões que o levaram a retornar ao país. “Nós queremos que se restabeleça a paz no país e a democracia. Para isso, estamos dispostos a entrar em um diálogo de acordo com os princípios que mandam as normas jurídicas”.

Zelaya voltou clandestinamente ao país, por terra, por uma rota ainda desconhecida. Ele está abrigado na embaixada do Brasil, acompanhado de assessores e de sua mulher, Xiomara Castro.

A Frente de Resistência contra o Golpe disse à BBC Brasil que milhares de pessoas estão viajando do interior do país rumo a Tegucigalpa para apoiar a volta do presidente eleito, mesmo com o risco de serem detidos.

Toque de recolher

O governo interino decretou toque de recolher a partir das 16 horas (horário local) até as 7 horas desta terça-feira (22). Logo depois, ainda na noite da segunda, com um chamado em cadeia nacional, o governo interino estendeu o toque de recolher para as 18 horas (horário local) desta terça.

Com isso, qualquer pessoa pode ser presa durante a noite. O clima de tensão tomou conta do país.

O governo interino também ordenou o fechamento dos aeroportos de todo o país “até segunda ordem”, informou a Aviação Civil hondurenha.

Em um breve comunicado, o governo interino indicou que a medida é “devida a eventos ocorridos nas últimas horas”, com o objetivo de “proteger a tranquilidade, a vida e os bens das pessoas”.

Zelaya, por sua vez, disse estar disposto a estabelecer um diálogo com todos os setores do país, com o fim de solucionar a crise política instaurada em 28 de junho, quando o líder foi preso, ainda em pijamas, por um grupo de militares e levado ao exílio na Costa Rica.

OEA

Segundo Zelaya, o secretário-geral da Organização de Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, chegará a Honduras nesta terça para ajudar a solucionar a crise.

Brasil

O chanceler brasileiro, Celso Amorim, falando a jornalistas em Nova York, onde está para a Assembleia Geral da ONU, confirmou que falou por telefone com Zelaya sobre a sua volta.

Amorim negou que o Brasil tenha participado do planejamento da volta de Zelaya. O presidente deposto chegou ao prédio da embaixada “por meios próprios e pacíficos”, de acordo com o ministro, e foi recebido porque o Brasil o considera o presidente

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Segundo o chanceler brasileiro, a volta de Zelaya a Honduras representa “um novo passo” nas negociações para tentar encerrar a crise política do país, iniciada com o golpe militar de 28 de junho que o expulsou do país, mandou-o para a Costa Rica e colocou o poder interinamente nas mãos de Micheletti, presidente do Congresso.

Amorim afirmou que o Brasil deseja encontrar “uma solução pacífica e rápida” para a situação.

Agradecimento

Falando por telefone à agência EFE, Manuel Zelaya agradeceu ao apoio do governo brasileiro e pediu a seus seguidores que se reúnam próximo ao prédio, para “protegê-lo”.

Ele também pediu às Forças Armadas de Honduras para que não tentem impedir sua presença, interrompendo assim sua busca pelo diálogo.

EUA

A secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, disse que é “imperativo” que os dois lados negociem e que evitem a violência. Ela deu a entrevista após reunião com o presidente da Costa Rica, Oscar Árias, que se ofereceu para continuar mediando a crise.

Mais cedo, o porta-voz do Departamento de Estado, Ian Kelly, havia pedido aos dois lados que evitem “qualquer ação que possa derivar em um surto de violência”.

Honduras, um dos países mais pobres da América Central, foi um aliado importante dos norte-americanos na época da Guerra Fria.

Foto: AFP

Manifestantes pró-Manuel Zelaya celebram nesta segunda-feira (21) em Tegucigalpa, capital de Honduras, a suposta volta do presidente deposto ao país. (Foto: AFP)

Chávez

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que é aliado político de Zelaya, disse ter falado com o presidente deposto pelo telefone, e confirmado que ele estava de volta ao seu país. As imagens foram transmitidas pela TV na Venezuela.

Chávez afirmou que a presença da comunidade internacional em Honduras é importante “para evitar um massacre” no país. “Temos que apoiar a presença de organismos internacionais para evitar um massacre e para que se garanta de maneira pacífica seu retorno (de Zelaya) ao poder”, disse Chávez em transmissão ao vivo pela televisão estatal.

Porta-malas

Chávez revelou ainda que Zelaya teria entrado em Honduras escondido no porta-malas de um carro e assim teria burlado pelo menos 20 pontos de controle do Exército. “Foi uma operação de engano bem planificada. Zelaya enganou os golpistas no porta-malas de um carro e em um trator”, disse o presidente venezuelano.

Segundo Chávez, Zelaya, que estava na Nicarágua, voltou a Honduras por terra, depois de dois dias de viagem cruzando rios e montanhas e “arriscando sua vida”.

O golpe

Zelaya foi derrubado em 28 de junho e obrigado a deixar o país rumo à Costa Rica. O governo interino que o derrubou tem uma ordem de prisão contra ele por crime de traição e prometeu prendê-lo caso ele voltasse ao país.

Os golpistas acusam Zelaya de corrupção e de ter tentado mudar a Constituição para obter mais uma reeleição - acusações que o presidente deposto nega.

O golpe criou uma grave crise em Honduras e foi condenado pelo presidente norte-americano, Barack Obama, pela União Europeia e por governos latino-americanos, representados pela OEA.

Washington tem defendido a volta de Zelaya ao poder e a restituição da normalidade democrática, mas alguns governos esquerdistas latino-americanos, como o de Cuba, acusam Obama de não se mostrar suficientemente crítico ao golpe.

Zelaya, que mantém seu tom desafiador desde sua derrubada, se refugiou a maior parte do tempo na Nicarágua. Enquanto isso, o governo de facto que apoiou sua derrocada se fortificou no poder, desafiando pedidos internacionais para que permitisse a volta do presidente deposto.

Em 24 de julho, Zelaya já havia tentado voltar ao país para tentar retomar o poder, mas foi barrado pelo Exército na fronteira e teve de recuar.

(*) Com informações das agências de notícias EFE e France Presse







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