Thomaz Vita Neto | | | Gerente de vendas Fabiana Pezzotti é contida por policiais: “Queremos mostrar nossa indignação contra esse pacote” | Com 13 votos favoráveis, a Câmara aprovou projeto de lei que recria 230 cargos em comissão e 266 funções gratificadas na Prefeitura de Rio Preto, o que vai custar R$ 14 milhões anuais aos cofres públicos. Os salários que serão pagos aos comissionados variam entre R$ 2,5 mil e R$ 6,2 mil. Vereadores da base aliada do prefeito Valdomiro Lopes (PSB), embalados por galerias lotadas de simpatizantes do governo, garantiram a contratação sem concurso dos chamados apadrinhados. A proposta segue agora para sanção do prefeito.
A sessão de ontem ocorreu, mais uma vez, sob forte esquema de segurança e muitos protestos contrários de estudantes, sindicalistas e populares em geral. Foram destacados 70 policiais militares, 15 motos, o canil, além do batalhão da Tropa de Choque que ficou de prontidão. Os homens do batalhão estavam armados com escopetas e escudos. Do lado de fora, pelo menos mil pessoas protestavam contra a aprovação do projeto e contra o prefeito.
A estratégia do presidente da Casa, Oscarzinho Pimentel (PPS), de reduzir a presença de munícipes na sessão, deu certo. Além de distribuir 51 das 190 senhas a assessores de vereadores, ele antecipou para as 10 horas a entrega do passaporte para entrar na sessão, o que pegou estudantes e sindicalistas desprevenidos. A previsão inicial era de que as senhas seriam entregues às 15 horas.
A antecipação ocorreu após Oscarzinho se reunir com o chefe de gabinete, Alex Carvalho. Os apadrinhados interessados em retornar aos cargos na administração conseguiram a maioria das senhas após provocarem tumulto em frente ao prédio da Câmara. Em bando, provocaram desordem na fila até então composta por estudantes e tomaram as primeiras posições. “Querem o lugar? Venham pegar”, desafiou o suplente de vereador Celso Luiz de Oliveira, o Peixão, um dos assessores de Valdomiro. Outras pessoas ligadas ao prefeito, como José Félix Sobrinho, o Paraíba, engrossavam o manifesto a favor do projeto.
Até mesmo jogadores das categorias de base do América Futebol Clube, convocados pela Secretaria de Esportes, foram mobilizados para segurar faixas com dizeres contra o vereador Marco Rillo (PT) e o deputado estadual João Paulo Rillo (PT). Dos 190 assentos disponíveis, os estudantes ocuparam somente cerca de 20 lugares. O restante foi tomado por apadrinhados e assessores de vereadores.
No discurso de Rillo contra o projeto, ele foi vaiado pelos apadrinhados. “Já fui vaiado por evangélicos, por violeiros e, hoje, sou vaiado por mercenários. Não esperava que o prefeito Valdomiro contratasse mercenários”, disse o petista. “Rillo safado e sem vergonha”, rebateram apadrinhados, que lembraram que o PT tem cerca de 25 mil comissionados na esfera federal e o próprio petista, quando secretário em administrações anteriores, também se beneficiou dos cargos.
Rillo tentou adiar a votação, mas não conseguiu. “O senhor pode pedir vista quantas vezes quiser”, gritou Oscarzinho, que foi chamado de “ditador” pelos estudantes contrários a proposta. “A Prefeitura não é depósito de cabo eleitoral”, rebateu o petista, que disse não ser contra os comissionados, e sim à forma como o projeto foi encaminhado. “Sem discussão, sem parecer.”
Pedro Roberto (Psol) também cobrou maior debate a respeito dos comissionados, como número de cargos e critérios para as contratações. Pedro pediu ainda a análise jurídica da proposta e disse que parecer do Cepam não dá aval ao projeto. “Esse projeto tem problema de legalidade”, disse. A vereadora Alessandra Trigo (PSDB) saiu em defesa da proposta alegando que ela garante a normalização dos serviços públicos. “O prefeito está criando um número menor de cargos”, afirmou Jorge Abdanur (PSDB) ao dizer que antes o município tinha 274 cargos cuja leis foram consideradas inconstitucionais pelo Tribunal de Justiça (TJ) de São Paulo.
De acordo com o chefe de gabinete, Alex de Carvalho, não há previsão para a recontratação dos apadrinhados. “Não será uma sangria. Vamos aguardar”, disse o chefe de gabinete. Por meio de seu twitter, Valdomiro se manifestou sobre a aprovação do projeto. Citou trecho da Bíblia: “Quando a verdade é dita, a Justiça é feita. Boa noite.”
Confira abaixo videorreportagem sobre a votação
Guilherme Baffi | | Apesar da maioria de apadrinhados, estudantes protestam no plenário contra criação dos cargos em comissão | Protesto reúne mil pessoas contra projeto
O protesto contra a votação do projeto do prefeito Valdomiro Lopes (PSB) que cria 230 cargos para apadrinhados e 266 gratificações para servidores na Prefeitura de Rio Preto reuniu aproximadamente mil manifestantes, de acordo com estimativa da Polícia Militar (PM), em frente à Câmara.
Todos protestavam contra a aprovação da proposta que sangra em R$ 14 milhões anuais os cofres públicos. O prédio do Legislativo foi isolado por policiais da Tropa de Choque da PM, que tentavam conter as manifestações contra a proposta de Valdomiro e a ameaça de invasão do prédio legislativo.
Durante a manifestação, a avenida Alberto Andaló também foi tomada por estudantes, que invadiram o prédio da Prefeitura e tentaram chegar ao gabinete de Valdomiro. Policiais militares tiraram os manifestantes e fizeram um cordão de isolamento na porta Executivo para impedir a entrada dos manifestantes.
Um grupo conseguiu furar o bloqueio e avançou pelos andares da Prefeitura. O chefe de gabinete do prefeito, Alex de Carvalho, fez um boletim de ocorrência contra a invasão. Em pleno horário de pico, por volta das 18 horas, o trânsito na avenida Alberto Andaló e em ruas no entorno da Câmara e da Prefeitura precisou ser desviado. Guilherme Baffi | | Rua Silva Jardim, em frente à Câmara, foi tomada por manifestantes; polícia precisou escoltar vereadores | Gritos
A cada discurso dos vereadores da base governista e do presidente da Câmara, Oscarzinho Pimentel (PPS), em favor do projeto dos apadrinhados, os manifestantes protestavam com apitos, megafone, faixas e cartazes. Carros de som de sindicatos transmitiam em tempo real a sessão, que durou cerca de duas horas e meia.
Gritos de “fora Oscarzinho” e “fora Valdomiro” ecoavam a todo momento no meio da multidão. “O prefeito vai usar o dinheiro de impostos para pagar os salários dos apadrinhados. Enquanto isso a situação da saúde só piora”, afirmou o universitário Pedro Cação, 24 anos, da Faculdade de Medicina de Rio Preto (Famerp).
Apadrinhados
Ex-assessores da Prefeitura, que aguardavam a aprovação do projeto para retornar aos cargos comissionados, bateram boca com manifestantes durante a votação do projeto. Os futuros apadrinhados ainda criticaram o posicionamento dos vereadores Dinho Alahmar (PSB), Marco Rillo (PT) e Pedro Roberto (Psol), que votaram contra o projeto.
Para evitar o contato com manifestantes que protestavam do lado de fora da Câmara, os futuros apadrinhados deixaram o Legislativo escondidos. Eles usaram a garagem da Câmara. Apesar da tentativa, eles foram perseguidos por um grupo de manifestantes que chegou a cuspir na ex-assessora da Secretaria da Mulher, Cida Maracanã. Com a aprovação do projeto, ela deverá ser reconduzida ao cargo comissionado.
Vereadores também estacionaram seus carros na garagem da Prefeitura tentativa de despistar os manifestantes. Não conseguiram. Depois da sessão, os estudantes cercaram os prédios do Executivo e do Legislativo, o que deixou vereadores, prefeito, secretários e assessores presos por pelo menos uma hora. Guilherme Baffi | |
| Cara pintada
Com um cartaz escrito “Não ao pacote de horrores” o torneiro mecânico Júlio Cirillo Guedes, 24 anos, se juntou aos estudantes para protestar contra o projeto de Valdomiro. “Esse projeto é um desrespeito. Só beneficia o prefeito e os vereadores, que vão indicar os apadrinhados”, afirmou.
O estudante Igor Miatello, 17 anos, lembrou os tempos dos “cara pintadas” e com traços verde e amarelo no rosto protestou contra o pacote de horrores. “Os vereadores trabalham em causa própria. Eles deveriam votar leis que beneficiam a população”, disse.
Intimidação
Para tentar intimidar os manifestantes que protestavam dentro da Câmara, Oscarzinho ameaçava os estudantes e os representantes de entidades afirmando que “câmeras de televisão” estavam flagrando abusos, como acusações de “ladrão.”
Os equipamentos citados por Oscarzinho estavam sendo usados por assessores do próprio presidente da Câmara, que do plenário filmavam os manifestantes nas galerias do Legislativo. A tentativa de intimidação de Oscarzinho não surtiu efeito e os estudantes permaneceram no interior da Câmara até o final da sessão. Guilherme Baffi | |
| Confronto
Após a aprovação do projeto dos apadrinhados, os 13 vereadores da base governista que votaram a favor da proposta montaram um esquema para deixar a Câmara escondidos dos manifestantes. Enquanto as pessoas que protestavam contra o pacote de horrores cercaram a garagem da Prefeitura, onde os carros dos vereadores estavam estacionados, os parlamentares usaram os veículos oficiais para deixar a Câmara. Assessores e diretores foram usados como motoristas. A polícia precisou escoltar os carros para evitar agressões e atos de vandalismo.
O carro que levava a vereadora Alessandra Trigo (PSDB) foi cercado por manifestantes, que chegaram a chutar o veículo. Policiais Militares perceberam o tumulto e entraram em confronto com manifestantes. A gerente de vendas Fabiana Pezzotti, 38 anos, foi contida por policiais. “Nós só queremos mostrar nossa indignação contra esse pacote de projetos ruins que os vereadores querem aprovar”, afirmou a manifestante.
Procurador
No momento em que deixava a Prefeitura, no início da noite, o procurador-geral do município, Luiz Tavolaro, também bateu-boca com um manifestante. O rapaz passou por Tavolaro e gritou: “Apadrinhado vagabundo.” Correndo atrás do manifestante, Tavolaro reagiu e disparou.
“Volta aqui. Você não pode me chamar de vagabundo. Vem falar isso na minha cara”. Tavolaro estava acompanhado de um amigo e da filha. “Não tenho sangue de barata. Não admito falta de respeito”, afirmou o procurador, que depois foi jantar na Cachaçaria acompanhado do chefe de gabinete, Alex de Carvalho, e do secretário de Comunicação, Deodoro Moreira. Thomaz Vita Neto | | Em coro, centenas de estudantes gritam “não” ao projeto de Valdomiro que cria cargos: exercício de cidadania | Salários e cadeiras congeladas
Dos projetos que integram o “pacote de horrores”, os vereadores votaram apenas a proposta do prefeito Valdomiro Lopes (PSB) que cria os cargos comissionados e gratificações. O projeto que reajusta o salário dos vereadores de R$ 4,8 mil para R$ 8,4 mil e a proposta que aumenta o número de cadeiras da Câmara de Rio Preto de 17 para 23 estão congelados, mas podem ser incluídos na pauta de votação a qualquer momento.
Por isso, os manifestantes prometeram novos protestos contra vereadores e Valdomiro. “Não vamos desistir. Vamos lutar contra o reajuste (do salário dos vereadores) e contra o aumento de cadeiras. Os vereadores devem olhar para as necessidades do povo e não defender interesses pessoais”, afirmou a estudante Lívia Moretto, 21 anos.
O projeto que reajusta em 75% o salário dos vereadores foi apresentado pela Mesa Diretora, que é formada pelo presidente, Oscarzinho Pimentel (PPS), e pelos vereadores Márcio Sansão (DEM), Jabis Busqueti (PTB), Tadeu de Lima (PSDB) e Emanuel Tauyr (DEM). Já o projeto que eleva de 17 para 23 o número de cadeiras da Câmara de Rio Preto tem como autores Gerson Furquim (PP), Jabis Busqueti, Manoel Conceição (PPS), Nelson Ohno (PTB), Tadeu de Lima e Walter Farath (PR).
Internet
As redes sociais como Facebook e Twitter foram fundamentais para a mobilização e continuarão sendo usadas para convocar manifestantes para novos protestos contra a aprovação do pacote de horrores. Estudantes e representantes da sociedade civil organizada utilizaram as redes sociais para organizar os protestos realizados ontem e na última quinta-feira, quando a votação dos projetos polêmicos foi adiada.
É por meio de postagens nas redes sociais que são feitas as convocações para os protestos na Câmara de Rio Preto. Em poucos minutos uma postagem com o horário da sessão do legislativo é compartilhada por centenas de usuários. Em grupos de debates do Facebook os internautas discutem os projetos apresentados pelos vereadores e intensificam as manifestações contrárias às propostas. Durante a sessão de ontem, o Twitter foi usado por internautas para comentar minuto a minuto os discursos e as posições dos parlamentares.
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