A humilhação a que a o lulo-petismo, por intermédio do PSB, submete o deputado Ciro Gomes deve ser inédita entre aliados. Ciro recebe, assim, uma dura lição numa quadra da vida em que as pessoas costumam estar se preparando para ser mestres. Quando rompeu com o PSDB, exercitando aquele seu discurso sempre estrepitoso, cheio de palavras fortes que apelam à moral, à honra, à dignidade, conquistou grande espaço na imprensa. Eram tempos em que se opor a FHC costumava tornar as pessoas maiores do que de fato eram. Ainda recentemente, no período de indefinição da candidatura tucana, bastava a Ciro uma viagem a Minas ou uma declaração antevendo a desistência de Serra, e sua visibilidade estava garantida. Nos bastidores, ou nem tanto, costurou um acordo com Lula que previa um Plano B, concorrer ao governo de São Paulo, caso não conseguisse tornar viável o Plano A: disputar a Presidência da República. Como segurança, transferiu o domicílio eleitoral para São Paulo.
Ciro gosta de se mostrar um senhor sabido, também um estudioso da política, daí que seu discurso seja salpicado de termos e expressões oriundos da ciência política. Mas demonstrou uma espantosa ingenuidade — além de ignorar, como já escrevi aqui muitas vezes, a natureza do PT. O que ele imaginou? Garantida a transferência de domicílio, acreditou que Lula realmente o deixaria livre para tentar arregimentar alguns partidos da base aliada para emplacar a sua candidatura? Apostou, em algum momento, que ele e Dilma concorreriam no livre mercado do governismo, e Lula acabaria indicando aquele que se mostrasse mais viável?
Sei lá que diabos se passou pela sua cabeça. Um pouco de teoria política — ou de prática, que ele tem!!! — adverte que não se dá àquele com quem se negocia a vantagem que Ciro deu a Lula: tornou viável o desejo do petista (fazê-lo candidato em São Paulo) e o deixou solto pra capturar todos os partidos com os quais ele, Ciro, poderia potencialmente se aliar, de sorte que este não teria como defender a sua candidatura nem junto ao PSB, que nunca, de fato, a levou a sério.
Nesta fase de pré-disputa, Ciro viu seu patrimônio eleitoral reduzir-se de modo vexaminoso. Dos 22% que já chegou a ter das intenções de voto, caiu para algo aí entre 8% e 9%, desidratado que foi pelo próprio Lula. Na reunião de hoje com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, também presidente do PSB, e com o vice-presidente, Roberto Amaral, foi obrigado a ouvir que a sua candidatura não emplacou, foi pro vinagre, está acabada. Por outra: Lula, o PT e o próprio PSB empurraram Ciro para a derrocada. E agora usam a sua situação ruim nas pesquisas para lhe impor a desistência.
Mas não só isso: o PSB instrumentalizou a sua eventual candidatura para arrancar vantagens do PT nos estados. Ciro foi usado como mercadoria mesmo; trocado por trinta dinheiros com uma desfaçatez como nunca vi. Tenho um aguçado senso de justiça. Mesmo Ciro sendo quem é, quase me solidarizo com ele. À sua maneira e do seu exclusivo ponto de vista, é mais uma vítima do lulo-petismo.
O que lhe resta? Sei lá eu! Fico a imaginá-lo, depois de uma conversa com Lula, o seu verdugo, a declarar apoio a Dilma Rousseff, o que significará, então, o endosso ao “roçado de escândalos”, segundo expressão sua, que une o PT ao PMDB… Seria uma boa forma de ele dilapidar os 8% que lhe restam de reconhecimento do eleitorado brasileiro…
Talvez, dado o andamento da coisa, acabasse lhe ficando bem a neutralidade, já que acredita que o desfecho eleitoral que aí está obedece a uma espécie de urdidura conspiratória. E qual lição pode ter aprendido? Esta:
“NEM SEMPRE O INIMIGO DO MEU INIMIGO É MEU AMIGO!” No caso, pode até ser meu pior inimigo. Romper com o PSDB fez Ciro parecer maior do que era. Aliar-se ao PT o tornou menor do que efetivamente era.