Diego Zanchetta
Milhares de pessoas fora de suas casas sem saber para onde ir, 15 bairros alagados, fábricas e escolas fechadas, tentativas de saques, alojamentos superlotados e um rio que não para de subir. A 64 quilômetros da capital, o município de Atibaia, de 119 mil habitantes, assiste à saída de moradores das áreas alagadas. Desde segunda-feira, 1,3 mil pessoas deixaram seus imóveis em barcos da Defesa Civil jurando não voltar mais. No total, desde dezembro, 900 famílias - ou 4 mil pessoas - tiveram de abandonar suas residências.
Na mesma região, em áreas de encosta e de várzeas nas cidades de Piracaia, Bom Jesus dos Perdões e Bragança Paulista, funcionários de prefeituras tentavam, no fim da tarde, remover centenas de moradores de áreas de risco. A água, que chegou a 2 metros de altura em algumas ruas, também isolou condomínios fechados, com casas de alto padrão, a maior parte usada por paulistanos nos fins de semana.
A possibilidade de novas enchentes em 12 municípios do interior - alertada pelo governo do Estado na segunda-feira, após dois dos quatro reservatórios do Sistema Cantareira chegarem ao limite da capacidade - se concretizou de manhã: mesmo sem chuvas, o Rio Atibaia subiu meio metro durante a madrugada, reflexo do transbordamento da Represa Atibainha, um dos reservatórios do Sistema Cantareira. O rio inundou a estação de tratamento da cidade, levando esgoto para as áreas alagadas, incluindo duas escolas municipais. A Represa Atibainha chegou a 101% de sua capacidade, recorde em 40 anos.
O socorro às famílias de Atibaia que tentavam carregar seus pertences em barcos a remo se tornou ainda mais dramático por causa da forte correnteza nas ruas alagadas. Só os barcos motorizados da Defesa Civil conseguiam se locomover nos bairros Parque das Nações e Caetetuba. Na tentativa de salvar geladeiras, colchões e fogões, quem se arriscou em embarcações precárias de madeira por pouco não foi tragado pelo rio. Nas partes nas quais a água chegava à cintura, a força da correnteza impedia moradores de entrar a pé em suas casas.
Assustados, nem mesmo moradores antigos tentaram resistir. Depois de 30 anos na mesma residência onde criou os três filhos, a dona de casa Tânia de Souza, de 55 anos, colocou ontem seus móveis e o papagaio de estimação em um galpão, sem saber para onde ir com a família. "Fiz uma barricada de cimento na porta de casa, mas não teve jeito. Tirei tudo de lá. É a maior tristeza da minha vida. Nem sei por onde recomeçar. Só sei que não vai mais ser na margem do Atibaia."
Com centenas de casas isoladas, moradores temem saques. Na madrugada de terça-feira, a Guarda Municipal prendeu dois homens que tentavam roubar móveis de uma casa alagada do Parque Centenário.
Sulamérica Trânsito
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