Em 2007, foram registrados 774 boletins de acidentes, mas ninguém foi preso
Diego Zanchetta e Rodrigo Brancatelli, de O Estado de S. Paulo
O lado perverso das conversões proibidas, das disputas por espaço e da pressa diária no trânsito paulistano não atingiu apenas Bruno Cavaglieri Neto e sua família - Yolanda de Salles Freire Cesar, de alguma forma, também ficou marcada pelo acidente que tirou a vida do garoto. "É claro que marca, que traumatiza", diz a mãe da advogada, que foi no enterro e na missa de 7º dia de Bruno e ainda ajudou Yolanda a acompanhar a missa de 30º dia. "Nós mantemos contato com a família do Bruno, eles são muito espirituais, não ficou uma briga para saber de quem era a culpa."
Yolanda tenta hoje retomar a sua vida. Todo dia, é obrigada a passar pela Avenida Sumaré, onde aconteceu o acidente. Todo dia, é obrigada a lembrar do que aconteceu. A advogada mal consegue falar sobre a tragédia sem tropeçar nas palavras e chorar. "É muito triste", diz. "Só consegui melhorar por causa do lado espiritual. Fui a um centro espírita para tentar entender por que as coisas são assim. Se pudesse... A gente tenta aprender a lidar com isso, mas é muito difícil."
Um mês e meio depois do acidente, o boletim de ocorrência sobre o caso continua no 23º DP, esperando laudo pericial e croqui do local. Nem a advogada, que continua dirigindo o carro, nem nenhuma outra testemunha chegou a ser ouvida pela polícia. E não há prazo para o inquérito ser concluído.
No ano passado, exatos 774 boletins foram lavrados por homicídio culposo por acidente de trânsito, como o caso de Bruno Neto. E, da mesma forma, ninguém foi preso. "Só conheço um caso no Espírito Santo de alguém que foi preso por matar no trânsito", diz o presidente da Comissão de Trânsito da Ordem dos Advogados do Brasil, Cyro Vidal. "Em São Paulo, nunca ouvi falar disso. O que temos aqui são penas alternativas. Matou alguém? Faz trabalho voluntário para compensar. Por que matar com carro é diferente de matar com uma arma?"
Congresso
Na primeira semana de outubro, na volta do "recesso branco", a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado promete analisar um projeto de lei para endurecer as penas para motoristas envolvidos em acidentes de trânsito com vítimas. O texto também prevê que o juiz seja comunicado imediatamente pela polícia dos fatos para suspender a habilitação do motorista. Além disso, as penas não poderão ser substituídas por prestação de serviços comunitários. Se aprovado, o projeto, que já tem parecer favorável, seguirá diretamente para a Câmara. Nos casos de acidentes considerados crimes culposos (sem intenção), o projeto prevê um aumento nas penas - de 2 a 4 anos de prisão, como é atualmente, para de 3 a 5 anos.
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