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quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Lília Cabral: 'Sou feliz com o que tenho'

Há exatos dois anos, fui recebida naquela mesma sala-de-estar. Mais aconchegante que o ambiente, colorido e bem-decorado, só o sorriso da dona da casa. Lília Cabral se dispunha a falar do então sucesso na pele da megera Marta, de “Páginas da vida”, novela de Manoel Carlos. Desde então, o sucesso só fez aumentar. Ela foi indicada ao Emmy Awards, o Oscar da Televisão, na categoria Melhor Atriz, no ano passado - feito inédito para uma profissional brasileira - e agora volta a arrebentar no horário nobre, desta vez como a sofrida Catarina. João Emanuel Carneiro não a elegeu “A favorita”. Mas quem disse que Lília, aos 51 anos, se importa em não ser a protagonista, mais uma vez? O que ela sempre quis, nesses 27 anos de carreira televisiva, foi ser desafiada a cada papel, e surpreender o público. O que ela quer é ser a dona da sua própria história.

- Como você se sentiu depois que “Páginas da vida” (2006) acabou e você teve que se despedir da Marta?
- A princípio, deu um alívio. Alívio porque um trabalho chegou ao fim. E quando você realiza bem um trabalho, é que nem ganhar uma Copa do Mundo. Ficou uma sensação de alívio e de realização, porque tudo o que eu me propus a fazer foi bem aceito pelo autor e pelo público. Eu soube contar a história. Depois, vem o vazio. O ator fica que nem uma barata tonta durante quase um ano, só se dedicando à novela. Acorda às 6h da manhã, estuda o texto, vai gravar, espera, volta pra casa, estuda capítulo, às vezes não tem capítulo... Quando tudo isso acaba, a sensação é a de um peru bêbado: e agora, eu faço o quê? Viajei para tentar relaxar. Mas, no meio do Canadá, me lembrei daquela história toda de um ano atrás. A gente sempre viaja com a desculpa de descansar, mas, na verdade, foge porque houve uma morte. E tenta-se separar esta perda da vida que virá depois. A Marta, de fato, morreu. Ela vai ficar na memória das pessoas, mas não a interpretarei mais. Então, a viagem funciona como uma válvula de escape para a gente dizer que está completamente abandonada, essa é que é a realidade.

- A Marta deixou saudades?
- E como deixou! “Páginas da vida” foi tão boa, que vivi ativamente a novela em 2006 e mais durante 2007 inteiro. Teve o reconhecimento dos prêmios e, ainda, o Emmy (Awards, com a primeira indicação a Melhor Atriz brasileira). Estar ali foi muito significativo. Independentemente do tapete vermelho, as pessoas se aproximavam com admiração. Quando é que eu iria imaginar que alguém da Austrália conhecia o meu trabalho? Até a Marta, a maioria das minhas personagens na TV tinha um lado muito simpático, divertido, leve. As vezes que eu mostrei um lado mais denso foram no teatro. O público que freqüenta, já conhecia esse meu lado dramático, mas é um público muito pequeno em relação aos milhões que assistem à televisão. Então, quando eu encarnei uma personagem que ninguém estava esperando, com um comportamento psicológico e, ao mesmo tempo, real, foi um alvoroço.

- Qual é a sensação de passar de víbora a vítima?
- Pois é (risos). Conheci o João (Emanuel Carneiro, autor de “A favorita”) quando filmei “A partilha”, ele era um dos roteiristas, e a gente trocava muitas idéias. Também acompanhava o trabalho dele como autor de novela das sete, mais voltado para o humor. Quando ele me ofereceu essa personagem, achei que viria uma coisa muito diferente, mais leve. Mas, ao estudar a Catarina, fiquei lisonjeada. Senti que eu tinha uma função importante e especial na novela - não na trama, porque a trama passa longe da Catarina. Ela é completamente o oposto da Marta, que judiava do marido. Agora eu sou a coitada.

- Nas cenas em que ela apanha ou é agredida verbalmente, você se sente mal?
- Tem texto que, quando eu leio, me dá uma sensação ruim. Fico me perguntando: será que alguma mulher passa realmente por essa humilhação toda? Na mesma hora, respondo: não vou questionar, não posso defendê-la! As pessoas podem até ficar com raiva de mim por eu não reagir. Mas se eu reagir, num olhar que seja, vou estragar tudo. A hora dela vai chegar, mas não sou eu quem vai determinar, é o autor. Agora, a Catarina já começa a enxergar mais claramente o marido que tem, mesmo com as raízes ainda fincadas naquele casamento desastroso.

- As cenas em que ela consegue comprar o ar-condicionado com os trocadinhos e é obrigada pelo marido a devolvê-lo mexeram com muita gente...
- Aquilo foi uma sacanagem, né? Até a Giulia, minha filha (de 11 anos de idade), ficou abaladíssima, chorou muito. Aí eu expliquei que ela não precisava ficar assim, que de alguma forma eu estava ajudando muita gente. Em cena, eu poderia me revoltar, ter a postura de uma mulher digna, mas não era essa a idéia. A Catarina foi ao encontro de sentimentos que todo mundo conhece, o da conquista e o da perda. Por exemplo: o sujeito luta para comprar um apartamento, junta suas economias durante anos, consegue quitar, e aí vem um infeliz e bota cal na construção e o prédio inteiro desmorona. Daí você é obrigado a ficar morando em hotel. Isso é uma injustiça e uma humilhação. Quem fez isso não teve a menor responsabilidade, tripudiou em cima das pessoas e elas foram vítimas. Então, essa pequena situação é aquele gesto de humilhação que todo mundo conhece. Tive a maior sorte de ter caído um personagem desses na minha vida agora. Fui por um outro caminho e pude mostrar para quem ficou com aquela imagem de vilã que eu também posso ser vítima.

- Como a personagem, você já teve algum sonho de consumo e juntou dinheiro para conquistá-lo?
- Ah, quando eu saí do meu Fiat 147, aquele caixotinho, e comprei um carro com ar-condicionado foi uma vitória! Ah, gente! (suspira) Juntei todos os trocados que eu podia e comprei um Uno. Era tudo de bom, um carro fresquinho no calor do Rio de Janeiro!

- A Marta e a Catarina, embora sejam opostas em suas atitudes, carregam a amargura e a humilhação, sentimentos pesados. Você parece uma pessoa tão leve, positiva... Interpretá-las afeta o seu psicológico de alguma forma?
- Esses sentimentos das duas, eu passei por eles em algum momento da minha vida. Lógico que jamais fui uma vilã, mas não vivo na hipocrisia. E, do lado de vítima, já convivi com isso no ambiente familiar, ou já passei por situações em que tive de abaixar a cabeça, me senti humilhada. Mas eu não sou uma pessoa nem um pouco parecida com elas. Da Catarina, não tenho nada, nada (com ênfase). Só a meinha, que eu uso em casa. E da Marta, vou ser sincera, o único traço em comum comigo é a franqueza. Eu digo o que penso, mesmo. É lógico que filtro, mas não fico fazendo média, sabe? Já sou madura o suficiente, e quando eu falo, falo com procedência. A gente às vezes fala besteira, mas acredito que na maioria das vezes eu faça gol.

- Ter apanhado do seu pai lhe causou traumas?
- O fato de eu ter freqüentado um analista durante tantos anos não foi só por causa das surras que eu levei. Apanhar do pai na minha época de criança era muito comum. A minha geração era cheia de conflitos. Tinha a Igreja de um lado dizendo tudo o que era certo e a direita e a esquerda de outro, falando tudo o que era errado. Se você não concordasse, iria preso. Muito diferente de agora, que tem muito mais liberdade, mas uma liberdade que não tem limites.

- Já bateu na Giulia?
- Algumas vezes, no bumbum. Nunca bati na cara nem em qualquer outro lugar. Ela nunca apanhou de machucar. É bobo esse negócio de dizer que uns tapinhas deixam a criança traumatizada. Ela não está ligando nem um pouco pra isso. Está é preocupada em eu não deixar ela comer bala todos os dias, só sexta, sábado e domingo. Nisso ela pode reclamar com os outros que eu sou uma mãe muito ruim.

- E sua auto-estima, você a construiu sozinha?
- Construi através do que a vida me ofereceu, dos amigos, das oportunidades que eu tive. Sempre fui muito elogiada, desde o pré-primário, e isso me dava a garantia de que eu estava indo bem. Ganhava prêmios, mas eu queria sempre mais. Dentro de casa, não. Eu podia tirar a nota mais alta, que eu não fazia mais que a obrigação. Mas, fora de casa, sempre adorei ouvir elogios, até hoje. Tenho uma disposição muito grande para ouvir as pessoas. Às vezes os fãs nos abordam de um jeito estranho, mas eu tenho a paciência e o respeito de ouvi-los. Eles podem falar comigo o que for, quanto tempo quiserem. Sou simpática a isso. E tudo é decorrente da minha escola de vida: sempre estimulei as pessoas a me estimularem cada vez mais. Ser reconhecida em cada vitória minha me ajudou a acreditar que eu podia, que eu era boa e capaz.


- O que o Iwan (Figueiredo, economista, de 59 anos), seu marido, pensa das cenas em que a Catarina apanha do Leonardo (Jackson Antunes)?

- Ele fica passado. Mesmo. No começo, ficava visivelmente perturbado com a situação, mas nunca foi muito de falar. Quando saiu que o Jackson tinha apanhado na rua, ele foi direto: “Eu achei até que demorou muito!” (risos). Acho que, dentro dele, ele tinha vontade de reagir. Iwan não é de ficar exteriorizando opinião, é muito fechado, reservado. Agora, como está se aproximando minha separação na novela, ele tem ficado mais aliviado.

- Como se não bastasse o Leonardo, a Catarina ainda é ofendida pela filha, Mariana (Clarice Falcão), que vive falando que a mãe é um capacho, que não é exemplo para ninguém e que nunca vai ser igual a ela...
- Mariana não é uma boa filha. O Domenico (Eduardo Mello), sim. Tão pequenininho, ele abre mão da vida dele, se cala, pela mãe. A sensação que eu tenho é a de que o coração dele é mais parecido com o da mãe e o da Mariana, com o do pai, que tem essa revolta, esse lado rebelde, intempestivo. Agora, com a história de a filha ter ficado grávida e a mãe apoiar, ela, pelo menos, pára de ofender. A Catarina diz que vai ficar do lado dela sob qualquer circunstância. Engraçado: na outra novela, a Marta colocou a Nanda (Fernanda Vasconcellos) para fora de casa a pontapés quando soube da gravidez da filha. As duas personagens passam por situações muito parecidas...

- É uma preocupação sua servir de bom exemplo na vida para a Giulia?
- Minha maior preocupação é educar. Os conflitos começam desde criança. É briguinha na escola, é rusguinha com as amigas... A Giulia me conta tudo até então. Talvez, com 15, 16 anos não vá contar mais, o que eu acho certo. Filho tem que ter mãe e tem que ter amigo da mesma idade para conversar. O Iwan tem outras três filhas grandes, do primeiro casamento, meninas bem-sucedidas. Eu vejo por elas que ele está sendo um excelente pai para a minha filha. Já eu tento passar o que eu sei, mas não sou a sabedoria em pessoa. Não tenho esse histórico, não tive filhos com ninguém, sou filha única, não tive irmãos. Acho que vou mais errando do que acertando. Mas não tenho medo de errar e reconhecer meu erro, não sou nem um pouco arrogante, não fico na defensiva.

- Quando você volta do trabalho para a casa, sente um alívio por ter um marido e uma filha tão companheiros e carinhosos, muito diferentes dos da ficção?
- Eu agradeço muito! Minha família é um presente divino. Como não tenho irmãos e meus pais faleceram, sempre contei com os amigos, e me protegi com a minha solidão. Aprendi a ser sozinha de uma forma extremamente positiva. Quando surgiu o Iwan e, depois, a Giulia, eles vieram coroar um sonho meu. Eu pensava “um dia, vou ter uma família minha”. Não tem coisa melhor do que chegar em casa, tomar um banho, pegar um prato de sopa e levar pro escritório para ficar com eles. A Giulia me perguntando de cinco em cinco minutos: “Mãe, o que vai acontecer agora?”, “E agora?”... Ela não me deixa nem esquecer do trabalho. Se o Iwan e a Giulia não fossem compreensivos... Desde que a novela começou, eu só tive dois sábados de folga. Não posso viajar. Às vezes, faço falta numa história familiar mais divertida, de ir pra um lugar, levar o cachorro, se enfiar lá no mato. Mas eu estou muito em função do meu trabalho, não dá.

- A Catarina bate no peito para dizer que tem uma família, um marido. Mas até que ponto vale manter essa instituição? Qual é o limite?
- Quando o amor acaba, quando o respeito acaba, não há mais família. A Catarina só não termina esse casamento porque é a única coisa que ela conquistou. Ela não tem trabalho, perdeu a auto-estima, só teve esse homem a vida toda, como namorado, como marido. A sensação que tem, eu acredito, é que se esse casamento não der certo, vão olhar para ela como se fosse mais uma derrota na sua vida. O que essa mulher não entende - ou não entendia, porque daqui a pouco isso vai mudar - é que enquanto ela não se ver livre dessa instituição falida, não vai conquistar nada. Porque ter casado com esse homem a impediu de viver. Ela chegou aos 40 e poucos anos sem vida nenhuma.

- O casamento de Catarina e Leon já deveria ter acabado, não é?
- Há muito tempo. Pelo menos, há uns seis anos. Tem uma seqüência em que ela fala que no começo do namoro era ela feliz, que teve uns bons anos de casada, até ter os filhos. Aí começaram os problemas. Ela virou mãe e uma mulher sem vaidades. Foi quando o marido começou com as frustrações dele também. Ele não vê nada de bom em si próprio e olha para ela e vê a capacidade que ela poderia ter. Daí, começa a jogar nela as dores que tem. É como se, quanto mais ele a destruir, mais vai ganhar força. Ele se sente uma porcaria, então precisa diminuir alguém. Viver num ambiente assim é se propor a viver uma doença. E se Catarina continua, provavelmente ela morre com algum câncer de amargura. Como ainda é jovem, pode mudar seu destino.

- E aí chegou a Estela (Paula Burlamaqui). Leon agora só tem olhos para a nova vizinha. É verdade que o feitiço vai virar contra o feiticeiro, e Catarina e Estela terão um relacionamento homossexual?
- O autor nunca disse que a Catarina seria homossexual. A função dela na história é ser o espelho das mulheres sofridas, humilhadas pelos maridos. A gente só não imaginava que tanta gente se identificaria. Virou uma comoção, o público sente a necessidade de falar da personagem. Não dá para ir a lugar nenhum em que não tenha uns três ou quatro abordando o tema.

- Mas João Emanuel já confirmou que Estela vai se apaixonar pela Catarina...
- Pois é. Uma outra questão levantada pelo autor era: como fazer Catarina se separar desse homem tão machista? Não é que ela vá se encantar amorosamente por outra mulher e largar dele. O que acontece é que a minha personagem vai ver na Estela, com uma história também sofrida de vida, uma mulher com liberdade total para viver. Catarina sentirá uma admiração por ela, que superou tudo e agora é dona do seu próprio nariz. As duas vão se tornar grandes amigas, o homossexualismo não é o foco. E, embora o João tenha declarado que é a Estela que se apaixona pela Catarina, isso também não significa que ela seja gay. Ele ainda não sabe de que forma vai conduzir essa história. Por enquanto, deixou em aberto, o que eu acho certíssimo.

- Você teme alguma coisa?
- Dependendo de como será escrito, eu não quero que o público fique contra a Catarina por puro preconceito. Eu quero que entendam que, se a Catarina resolver ficar com essa mulher, não é porque ela se tornou gay. Meu desejo é que as pessoas digam: “A Catarina podia ficar com a Estela, porque elas iam se dar bem”. Ou não. De repente, prefiram que ela fique com o Wanderley. Ou achem que ela mereça ficar sozinha. O que eu quero é o melhor para a personagem, o mais natural.

- Com essa história de a Estela nem ligar para o Leon, a Catarina vai se sentir vingada?
- Ah, vai ser uma senhora humilhação para ele! O Leo fica em cima da Estela, canta a vizinha na frente da mulher, fala absurdos, e de repente ela se apaixona pela mulher dele, e não por ele! Isso é uma vingança contra os machistas. O cara é capaz até de se matar. Ele fala para a esposa: “Você não serve para nada, você é um bagulho, a boa é a outra, ela é linda e maravilhosa”. E tudo se vira contra ele. Eu gostei disso! Adorei essa saída do autor, porque é uma saída real, pertinente aos personagens daquela cidadezinha.

- Você acha que uma mulher carente como a Catarina, desiludida com o homem da sua vida, possa procurar nos braços de uma outra mulher o amor verdadeiro?
- Ultimamente, inclusive muita gente famosa vem demonstrando não uma preferência sexual, mas uma situação amorosa de carência, de amizade. Eu não acho impossível acontecer com uma Catarina. Mas, respondendo particularmente, não acredito que, saindo de uma relação sufocante como a dela, o mais certo seja tirar uma peça e colocar outra no lugar para recomeçar a vida. Eu acredito mesmo é num tempo de solidão. E se ela depositar todas as expectativas numa outra pessoa e ela não corresponder do jeito ideal? Ficaria frustrada, mais uma vez, ou sempre na expectativa de ter aquilo. Enquanto a mulher não se auto-conhecer, não adianta. Por isso, eu não tenho medo da solidão. Agora: não é impossível uma mulher conhecer outra e elas se tornarem muito amigas e até amantes. Não sou contra, motivos existem. Tenho amigas que ficaram casadas por dez anos ou mais e só se separaram quando acharam outra pessoa. Nesses dez anos de casadas, apanhavam e tal, tudo gente da sociedade paulistana, feliz da vida na aparência. Elas se casaram de novo, tiveram filhos e estão felicíssimas. Então, não tem uma fórmula, não há regras. O errado é botar defeito, recriminar.

- A Catarina é uma mulher sem vaidades, usa meias, casaquinhos de lã antiquados, anda despenteada e sem maquiagem. A Lilia tem um lado mais mulherzinha?
- Eu uso maquiagem, mas pouca. No calor em que a gente vive no Rio, quanto menos, melhor. É só o suficiente para realçar a beleza. Só não uso botox. Tenho, graças a Deus, uma genética boa contra rugas. Mas também tenho celulite, fazer o quê? Não sei quando eu vou entrar na faca, e até duvido que eu vá, porque tenho muito medo. A gente tem que saber envelhecer. Vou aproveitar essa genética favorável e continuar me alimentando bem, fazendo exercícios e coisas que me valorizem. Quanto às roupas, procuro me vestir adequadamente com a minha idade, de acordo com o meu gosto, sem virar escrava da moda. Muitas vezes você vê gente com comportamento de adolescente tendo mais de 60 anos, é ridículo.

- Como você consegue fazer sucesso no horário nobre e cultivar esse lado mais reservado de ser?
- A Lília Cabral celebridade não existe. Nunca tive essa preocupação. Minha preocupação maior é com a minha profissão. A escola me ajudou muito, ser paulista me ajudou muito. Dentro da USP, conversava com muita gente, ouvia histórias de vida de gente como Gianfrancesco Guarnieri... São pessoas que foram muito importantes na minha formação e nunca viraram estrelas. O meu trabalho é que o meu cartão-de-visitas.

- Mas o artista pode não querer ser uma celebridade e acabar sendo perseguido pelos paparazzi... Você acha que é uma atitude do famoso que o faz ser enxergado assim pela mídia?
- Com certeza. Ninguém vira celebridade sem querer ser, sem dar motivo. Dão motivo para correrem atrás. Não é só porque a pessoa é bonita, ela é bonita e tem 500 namorados por aí, aparece em um monte de lugar com um par diferente. Depois vem dizer que não quer falar da vida pessoal? Não dá! É possível viver reservado, nossa, se é! É só querer. A pessoa faz as maiores besteiras, sai na mídia e fica irritado, faça-me o favor! Vá jantar em restaurantes que não tenham vidros no lugar de paredes de concreto viradas para a rua!

- Não é a primeira vez que você rouba a cena no horário nobre, mas suas personagens não costumam fazer parte da trama principal. É melhor que ser a protagonista?
- Diferentemente do teatro, na televisão, desde que eu comecei a minha carreira, fui colocada em papéis importantes, mas com histórias próprias. Se você me perguntar se eu gostaria de trocar, lhe respondo que não. Meu trabalho é muito valorizado dentro dessa novela. Eu sou a protagonista da minha história, sou feliz com o que tenho. Agora, se você me perguntar se eu ainda quero fazer a protagonista na TV, eu diria que sim, mas que depende muito do autor. Às vezes, não ser a principal, como em “Páginas da vida”, é muito melhor. Minha antagonista deu o que falar. E o público é cruel, fica em cima para descascar o trabalho daquele personagem que é o eixo central da trama.

- Mas ser o protagonista sempre mexe com o ego do ator, e televisão é uma guerra de vaidades, não?
- Sinceramente? Meu ideal não é ser a protagonista. O que eu quero é ter bons papéis para mostrar o meu trabalho, surpreender o público e me surpreender também. O fato de eu conseguir colocar esse personagem em evidência foi um desafio para mim. Outra atriz poderia ter feito a personagem de uma forma não tão verdadeira, que impediria as pessoas de olharem para ela como uma mulher que, de fato, existe. Minha próxima meta não é ser uma protagonista, mas ser a dona da minha história. E se um dia eu ganhar um prêmio de melhor atriz-coadjuvante, eu não vou negá-lo (Marília Pêra se recusou a receber seu troféu na categoria, no último Prêmio Contigo! de Televisão, pelo sucesso de Gioconda em “Duas caras”). Para mim vai ser tão feliz e especial quanto qualquer outro. Prêmio é sempre um reconhecimento. Aliás, eu já ganhei muitos prêmios de TV como atriz-coadjuvante, e acho que, naquele mar de gente boa, você ser destacado e vencer, o que mais se há de querer?

Naiara Andrade
Canal Extra

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