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terça-feira, 8 de julho de 2008

Parlamentares que investigaram mensalão se dizem surpresos com prisões

GABRIELA GUERREIRO
da Folha Online, em Brasília

Parlamentares da CPI dos Correios que investigaram o escândalo do "mensalão" no Congresso receberam com surpresa nesta terça-feira a notícia da prisão do ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta, do investidor Naji Nahas e do banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity. Os três foram presos pela Polícia Federal na Operação Satiagraha por desvio de verbas públicas, corrupção e lavagem de dinheiro.

O esquema foi descoberto com base nos desdobramentos das investigações do caso "mensalão. O relator da extinta CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), disse acreditar que ramificações do caso resultem em novos escândalos a serem descobertos pela PF e Justiça com os envolvidos no esquema.

"Há pendências em relação aos fundos de pensão. Tenho a convicção de que teremos também responsabilização no que diz respeito aos fundos", afirmou. Serraglio disse que a CPI suspeitava da ligação de Dantas com o publicitário Marcos Valério, mas não reuniu nenhum indício de envolvimento de Pitta e Nahas no esquema de desvio de recursos públicos.

"Apuramos que o Marcos Valério agradava o Dantas na medida em que o presidente do banco Opportunity o aproximava daqueles que comandavam o esquema. A previ havia tirado o Dantas da sua direção, ele precisava se aproximar do governo. O Marcos Valério servia para isso e ele, em troca, contratava empresas do Marcos Valério", disse Serraglio.

O relator disse que a operação da PF mostra que os trabalhos da CPI não terminaram em "pizza", uma vez que vem trazendo resultados práticos na apuração de crimes contra o patrimônio público. Assim como Serraglio, o senador Delcídio Amaral (PT-MS), que foi presidente da CPI dos Correios, também comemorou os desdobramentos das investigações.

"Acho que outros órgãos como o Ministério Público, Supremo Tribunal Federal e Polícia Federal tiveram muito mais tempo para investigar do que nós. Era impossível a CPI ter o nível de profundidade que esses órgãos têm. Obviamente, muitas informações que saíram da CPI deram resultado", afirmou.

O deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), que foi um dos sub-relatores da CPI dos Correios, criticou a demora na investigação dos desdobramentos tanto pela PF quanto pelo Poder Judiciário. "Demorou até demais. Eram muitas frentes de investigações. A gente [CPI] sempre sustentou que o volume de recursos movimentados no valerioduto era muito maior, especialmente com o envolvimento de doleiros", afirmou Fruet à Folha Online.

A exemplo de Serraglio, Fruet disse que a CPI não reuniu elementos contra Nahas e Pitta, mas chegou a pedir o indiciamento de Dantas no final dos trabalhos. "A investigação tinha o Daniel Dantas no que diz respeito à operação de fusão da Brasil Telecom com a Oi. Mas tinha empresas, que a gente não tinha tempo de investigar, que contratavam empresas do Marcos Valério", afirmou Fruet.

Operação

A operação Satiagraha cumpre 24 mandados de prisão e 56 de busca e apreensão nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, e em Brasília. Os mandados foram expedidos pela 2ª Vara Criminal Federal de São Paulo.

Segundo a PF, as investigações começaram há quatro anos, com o desdobramento das apurações feitas a partir de documentos relacionados com o caso mensalão. A partir de documentos enviados pelo STF (Supremo Tribunal Federal) para a Procuradoria da República no Estado de São Paulo, foi aberto um processo na 2ª Vara Criminal Federal.

Na apuração foram identificadas pessoas e empresas beneficiadas no esquema montado pelo empresário Marcos Valério para intermediar e desviar recursos públicos. Com base nas informações e em documentos colhidos em outras investigações da Polícia Federal, os policiais apuraram a existência de uma organização criminosa, comandada por Daniel Dantas, envolvida com a prática de diversos crimes.

Para a prática dos delitos, principalmente desvio de verbas públicas, o grupo possuía empresas de fachada. As investigações ainda descobriram que havia uma segunda organização, formada por empresários e doleiros que atuavam no mercado financeiro para lavagem de dinheiro. O segundo grupo seria comandado pelo investidor Naji Nahas.

Além de fraudes no mercado de capitais, baseadas principalmente no recebimento de informações privilegiadas, a organização atuava no mercado paralelo de moedas estrangeiras. Há indícios inclusive do recebimento de informações privilegiadas sobre a taxa de juros do Federal Reserve (Fed, o BC americano).

Os presos na operação devem ser indiciados sob acusações de lavagem de dinheiro, corrupção, evasão de divisas, sonegação fiscal e formação de quadrilha. Eles devem ser transferidos para São Paulo, onde permanecerão na carceragem da Superintendência Regional da PF.

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