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terça-feira, 8 de julho de 2008

Operação da PF prende Daniel Dantas, Celso Pitta e Naji Nahas

da Folha Online

As investigações da operação da Polícia Federal denominada Satiagraha, deflagrada nesta terça-feira com a finalidade de combater um esquema de corrupção e lavagem de dinheiro, tiveram início há cerca de quatro anos. Entre outros foram presos o investidor Naji Nahas, o banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity, e o ex-prefeito Celso Pitta.

A operação, que tem seu nome numa palavra que significa resistência pacífica e silenciosa, cumpre 24 mandados de prisão e 56 de busca e apreensão nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, e em Brasília. Os mandados foram expedidos pela 2ª Vara Criminal Federal de São Paulo.

As investigações são um desdobramento das apurações feitas a partir de documentos relacionados com o caso do mensalão e enviados à Procuradoria da República de São Paulo pelo STF (Supremo Tribunal Federal).

Folha Imagem
PF prende o investidor Naji Nahas, o ex-prefeito Celso Pitta e o banqueiro Daniel Dantas
PF prende o investidor Naji Nahas, o ex-prefeito Celso Pitta e o banqueiro Daniel Dantas

A partir destes documentos foi aberto um processo na 2ª Vara Criminal Federal de São Paulo. O empresário Marcos Valério, suspeito de ser o pivô do mensalão, é apontado como intermediador de um esquema que visava desviar recursos públicos.

Os documentos recolhidos também sugerem que Dantas comanda o que a PF considera uma grande organização criminosa suspeito da prática de diversos crimes. Empresas de fachada foram criadas para camuflar o desvio de verbas públicas.

Paralelo a esse esquema, a PF descobriu ainda a existência de uma segunda organização criminosa, integrada por doleiros e empresários que atuavam no mercado financeiro com a única intenção de lavagem de dinheiro. Nahas, segundo as apurações da Polícia Federal, comanda um esquema que praticava fraudes no mercado de capitais. Para tanto os integrantes do grupo recebem informações privilegiadas.

Outro foco de atuação desse esquema comandado por Nahas é a atuação paralela no mercado de moedas estrangeiras. Indícios apontam que o grupo pode ter recebido inclusive informações privilegiadas sobre taxa de juros do Federal Reserve (Fed, o BC americano).

A PF informou que essas duas organizações, a comandada supostamente por Dantas e a que seria comandada por Nahas, atuavam de forma interligada para cometer crimes de lavagem de dinheiro, corrupção, evasão de divisas, sonegação fiscal e formação de quadrilha.

Ligação

A ligação de Dantas e Nahas foi descoberta após a investigação baseada no banqueiro, que, por meio do Opportunity, era o gestor da Brasil Telecom, dona da Telemig e da Amazonia Telecom. Essas seriam as principais fontes de recursos do mensalão. A PF chegou a essa conclusão após quebra de sigilo do computador central do banco.

Com isso, as investigações a respeito do mensalão apontam que as empresas de telefonia injetaram R$ 127 milhões nas contas da DNA Propaganda, administrada por Valério. Essa era a fonte que alimentava o esquema de pagamento ilegal a parlamentares, segundo a PF.

Entretanto, os dados disponíveis no material coletado não reuniam informações suficientes para elucidar os beneficiários do esquema. Os dados mostraram haver fortes indícios de prática de crimes contra o sistema financeiro nacional e também de evasão de divisas.

Dantas recebia informações privilegiadas de contatos que mantinha no meio das telecomunicações. Para investigar isso, as mensagens eletrônicas do servidor central do banco foram grampeadas.

Foi através de correspondências trocadas entre Dantas e Nahas, por meio de mensagens eletrônicas, que a PF descobriu que os dois recebiam dados privilegiados.

Trajetória

Celso Pitta foi prefeito de São Paulo entre 1997 e 2000, após ser secretário de Finanças na gestão anterior, de Paulo Maluf. Em março de 2000, sua ex-mulher, Nicéa Pitta, o acusou de participar de um esquema de corrupção --que foi conhecido como o "escândalo dos precatórios".

Os desdobramentos deste caso fizeram com que ele perdesse o cargo na Justiça em maio daquele ano, recuperando a posição 18 dias depois. Depois tentou, sem sucesso, se eleger deputado federal por duas vezes. Atualmente era filiado ao PTB.

Daniel Dantas é o dono do grupo Opportunity, fundado por ele em 1993. O banqueiro ganhou notoriedade ao se associar com o Citigroup, para se tornarem sócios do consórcio que venceu a concessão de telefonia que criou a Brasil Telecom. Depois iniciaram uma disputa societária que só terminou com a venda da empresa para a Oi (ex-Telemar) no início deste ano. Durante essa disputa foi acusado, entre outras coisas, de espionagem.

Ele aproximou-se da política no governo Fernando Collor de Mello. Depois tornou-se economista do PFL. Ganhou fama, entretanto, na época das privatizações da telefonia, em 1998, durante o governo Fernando Henrique Cardoso.

Já o megainvestidor Naji Nahas, nascido no Líbano, chegou ao Brasil na década de 70 e ficou conhecido em 1989, quando foi acusado de ser um dos responsáveis pela quebra da Bolsa de Valores do Rio. Porém, foi inocentado --a decisão final sobre o caso ocorreu apenas em 2005. Nahas também se envolveu na disputa societária da Brasil Telecom ao trabalhar como consultor da Telecom Italia, que foi uma das interessadas na compra da companhia telefônica brasileira.

da Folha Online

A Polícia Federal prendeu nesta terça-feira, durante uma operação contra suspeitos de corrupção e lavagem de dinheiro, o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta, o investidor Naji Nahas e o banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity.

A operação, batizada de Satiagraha, também investiga o suposto desvio de verbas públicas, mas nenhum dos três presos foi acusado por esse crime. Os policiais cumprem 24 mandados de prisão e 56 de busca e apreensão nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e em Brasília. Os mandados foram expedidos pela 2ª Vara Criminal Federal de São Paulo.

Dantas foi preso no Rio, juntamente com sua mulher, cunhado e irmã. A Polícia Federal apreendeu quatro carros importados, sendo que três deles possivelmente são de Nahas, além de documentos e um cofre.

O advogado de Dantas afirmou à Folha Online que a operação é resultado de uma "perseguição implacável" de representantes do setor público a seu cliente. Nem o advogado de Celso Pitta nem o do investidor Naji Nahas se pronunciaram até a publicação desta reportagem.

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PF prende o investidor Naji Nahas, o ex-prefeito Celso Pitta e o banqueiro Daniel Dantas
PF prende o investidor Naji Nahas, o ex-prefeito Celso Pitta e o banqueiro Daniel Dantas

A Justiça decretou as prisões temporárias de dez pessoas ligadas a Dantas: Verônica Dantas (irmã e parceira de negócios), Carlos Rodemburg (sócio e vice-presidente do banco Opportunity), Daniele Ninio, Arthur Joaquim de Carvalho, Eduardo Penido Monteiro, Dorio Ferman, Itamar Benigno Filho, Norberto Aguiar Tomaz, Maria Amália Delfim de Melo Coutrin e Rodrigo Bhering de Andrade.

Do grupo de Nahas, foram decretadas a prisão de mais dez pessoas: Fernando Nahas (filho), Maria do Carmo Antunes Jannini, Antonio Moreira Dias Filho, Roberto Sande Caldeira Bastos, os doleiros Carmine Enrique, Carmine Enrique Filho, Miguel Jurno Neto, Lúcio Bolonha Funaro e Marco Ernest Matalon e o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta, cliente dos doleiros, que teve operações financeiras ilegais interceptadas pela PF.

Também foi decretada a prisão preventiva de duas pessoas. Uma delas, Hugo Chicaroni, já foi presa. Ambas, supostamente a mando de Dantas, teriam oferecido, segundo o Ministério Público, US$ 1 milhão para um delegado federal que participava das investigações para que ele tirasse alguns nomes do inquérito.

A PF e o Ministério Público pediram ainda a prisão do advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, ex-deputado federal, por sua suposta participação na organização criminosa, mas o juiz federal Fausto de Sanctis entendeu que não existiam fundamentos suficientes para decretá-la.

Defesa de Dantas

O advogado do banqueiro Daniel Dantas, Nélio Machado, acusa representantes do setor público de perseguirem seu cliente. Ele disse acreditar que a operação da PF é decorrência da briga societária envolvendo Brasil Telecom e a Telecom Itália.

"Sei que há documentos na Itália que deixam comprometidos personagens comprometidos com o governo brasileiro, e esse episódio pode ter gerado uma vingança contra o meu cliente", afirmou, no Rio.

Machado negou ligação direta de Dantas com Nahas e Pitta. Ele admitiu que Nahas prestou serviços à Telecom Itália na disputa judicial entre a empresa e a Brasil Telecom. O advogado disse ainda que não há motivos para que Dantas seja preso por supostas ligações com o esquema do mensalão.

"Se houvesse alguma ligação do meu cliente com o mensalão, ele teria sido denunciado pelo STF [Supremo Tribunal Federal]", observou. Machado, no entanto, admitiu que Marcos Valério intermediou contratos de publicidade com a Telemig e a Brasil Telecom.

Investigações

Segundo a PF, as investigações começaram há quatro anos, com o desdobramento das apurações feitas a partir de documentos relacionados com o caso mensalão. A partir de documentos enviados pelo STF (Supremo Tribunal Federal) para a Procuradoria da República no Estado de São Paulo, foi aberto um processo na 2ª Vara Criminal Federal.

Na apuração foram identificadas pessoas e empresas supostamente beneficiadas no esquema montado pelo empresário Marcos Valério para intermediar e desviar recursos públicos. Com base nas informações e em documentos colhidos em outras investigações da Polícia Federal, os policiais apuraram a existência de uma organização criminosa, supostamente comandada por Daniel Dantas, envolvida com a prática de diversos crimes.

Para a prática dos delitos, principalmente desvio de verbas públicas, o grupo teria possuído empresas de fachada. As investigações ainda descobriram que havia uma segunda organização, formada por empresários e doleiros que supostamente atuavam no mercado financeiro para lavagem de dinheiro. O segundo grupo seria comandado pelo investidor Naji Nahas.

Além de fraudes no mercado de capitais, baseadas principalmente no recebimento de informações privilegiadas, a organização teria atuado no mercado paralelo de moedas estrangeiras. Há indícios inclusive do recebimento de informações privilegiadas sobre a taxa de juros do Federal Reserve (Fed, o BC americano).

Os presos na operação devem ser indiciados sob as acusações de lavagem de dinheiro, corrupção, evasão de divisas, sonegação fiscal e formação de quadrilha. Eles serão transferidos para São Paulo, onde permanecerão na carceragem da Superintendência Regional da PF.

A operação conta com a participação de 300 policiais.

Trajetória

Celso Pitta foi prefeito de São Paulo entre 1997 e 2000, após ser secretário de Finanças na gestão anterior, de Paulo Maluf. Em março de 2000, sua ex-mulher, Nicéa Pitta, o acusou de participar de um esquema de corrupção --que foi conhecido como o 'escândalo dos precatórios'.

Os desdobramentos deste caso fizeram com que ele perdesse o cargo na Justiça em maio daquele ano, recuperando a posição 18 dias depois. Mais tarde tentou, sem sucesso, se eleger deputado federal por duas vezes. Atualmente é filiado ao PTB.

Daniel Dantas é o dono do grupo Opportunity, fundado por ele em 1993. O banqueiro ganhou notoriedade ao se associar com o Citigroup, para se tornarem sócios do consórcio que venceu a concessão de telefonia que criou a Brasil Telecom. Depois iniciaram uma disputa societária que só terminou com a venda da empresa para a Oi (ex-Telemar) no início deste ano. Durante essa disputa foi acusado, entre outras coisas, de espionagem.

Ele aproximou-se da política no governo Fernando Collor de Mello. Depois tornou-se economista do PFL. Ganhou fama, entretanto, na época das privatizações da telefonia, em 1998, durante o governo Fernando Henrique Cardoso.

Já o megainvestidor Naji Nahas, nascido no Líbano, chegou ao Brasil na década de 70 e ficou conhecido em 1989, quando foi acusado de ser um dos responsáveis pela quebra da Bolsa de Valores do Rio. Porém, foi inocentado --a decisão final sobre o caso ocorreu apenas em 2005. Nahas também se envolveu na disputa societária da Brasil Telecom ao trabalhar como consultor da Telecom Italia, que foi uma das interessadas na compra da companhia telefônica brasileira

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