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sábado, 31 de julho de 2010

Procuradoria pede multa a filho de Dirceu por propaganda para Dilma





O Ministério Público Eleitoral entrou ontem com uma representação contra o ex-prefeito de Cruzeiro do Oeste (PR) Zeca Dirceu, filho do ex-ministro José Dirceu, por propaganda eleitoral antecipada para a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff.

Segundo a procuradoria, a propaganda foi feita em um texto publicado no blog de Zeca, que é secretário do PT do Paraná, no dia 3 de junho.

O relator do pedido no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) é o ministro Joelson Dias.

"Como já ficou claro, nós não estamos começando do zero. A candidatura de Dilma já vem crescendo de forma expressiva no Paraná", escreveu o filho de Dirceu. Ele também disse em junho que o PT "deve priorizar desde já a campanha Dilma presidente".

Para a vice-procuradora-geral eleitoral Sandra Cureau, o texto tem uma claro caráter eleitoral.

O herdeiro de Zé Dirceu
Candidato a deputado, o filho do presidente do PT foi registrado com o sobrenome fictício do pai, que vivia como clandestino na ditadura

Rodrigo Cardoso

Fotos: Arquivo Pessoal
Em sua formatura, ano passado, ao lado da mãe, Clara, e de José Dirceu, que segura Camila, filha de Zeca
Ele nasceu José Carlos Becker Gouveia de Melo, em 1978, em Cruzeiro do Oeste (PR), filho de Clara Becker, proprietária de uma confecção na cidade, e Carlos Henrique Gouveia de Melo. Judeu de Guaratinguetá (SP), Carlos havia aportado três anos antes na pequena cidade paranaense e tornou-se dono de uma fábrica de calças. No ano seguinte, quando houve anistia aos presos políticos no Brasil, o verdadeiro pai de José Carlos revelou-se. Carlos Henrique era, na verdade, o ex-líder estudantil José Dirceu de Oliveira e Silva, que estava clandestinamente no País.

José Dirceu, atual presidente do PT, fixou residência em Cruzeiro somente depois de ir para uma mesa de cirurgia em Cuba, onde estava exilado, e construir a nova identidade. Com uma plástica, moldou as maçãs do rosto, fez um novo nariz e passou a usar bigode e óculos. "Minha mãe não conhecia a família do meu pai e não sabia de onde ele vinha. Mas ele nunca inventou histórias. Apenas dizia que não podia contar algumas coisas. Cresci com isso como se fosse uma coisa natural, como aprender a falar e comer. Hoje, faria tudo que meu pai fez", diz José Carlos, o Zeca, candidato a deputado federal pelo PT.

Fotos: Arquivo Pessoal
... na praia de Camboriú (SC) aos 14 ...

Há duas semanas, José Dirceu visitou Cruzeiro, onde fez carreata e comício em apoio à candidatura do filho de 24 anos, que precisa de 40 mil votos para se eleger. "Apesar de nunca morar comigo, meu pai sempre esteve presente. Não faltava em aniversário, Páscoa, Natal, Ano Novo", diz Zeca. "Nunca levantou a mão para mim e não admitia que me batessem. Já minha mãe é meio general. Tomei muita chinelada e cintada dela." Formado em Ciências da Computação, Zeca é dono de uma empresa de informática e de uma papelaria. Mas começou cedo, com uma caixa de engraxate. E também vendeu sorvete e maçã-do-amor. "Sou meio precoce", diz ele.

É verdade. Aos 16, tornou-se pai de Camila, hoje com 8, mas nunca morou com a mãe de sua filha. "Foi um acidente." Nessa época, Zeca era líder de turma no colégio: "Articulava, junto com outros alunos, as coisas boas e as molecagens também e exercia influência sobre os professores". Clara, sua mãe, conta que o filho já fazia política antes disso. "Quando criança, ele subia na mesa de corte da confecção, segurava um cone de linha e fazia discurso para minhas funcionárias", diz ela, que nunca mais se casou depois de se separar de José Dirceu. "Queria ter mais cinco filhos. Mas filho é com um pai só. E o pai de Zeca nunca lhe fez falta porque eu fui uma mãe nota mil."

Fotos: Arquivo Pessoal
... e, em junho passado, discursando no lançamento de sua pré-candidatura a deputado federal em Cruzeiro do Oeste

Zeca tem duas irmãs, frutos de dois outros relacionamentos de José Dirceu. De pavio curto, como define sua mãe Clara, foi exonerado do cargo de Secretário da Indústria e Comércio de Cruzeiro, em 2000, depois de denunciar irregularidades na prefeitura. "Vieram para cima de mim e houve ameaça. O vice-prefeito já tinha dado um tiro num cara. Aí, saí da cidade, dei um tempo e depois voltei", conta Zeca, que no mesmo ano tentou e não conseguiu uma vaga como vereador.

O filho de José Dirceu nunca leu nada sobre Lênin ou Marx e só usa terno e gravata quando a ocasião pede. Do pai, diz ter herdado o "jeitão e o corpão". "Meu pai agora tá com barriga. Mas é genético ter barriguinha e bunda murcha." Zeca ainda mora com a mãe, gosta de badalar em bares de Cruzeiro ou em boates em Umuarama, a cidade universitária mais próxima. "Mas eu me divertia mesmo era com a história dos dois sobrenomes. Ninguém tinha duas identidades como eu e gostava de brincar com o pessoal", diz Zeca, que trocou o Gouveia de Melo do fictício Carlos Henrique pelo Oliveira e Silva de seu pai verdadeiro.



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