Do UOL Notícias*
No Rio de Janeiro
Moradores procuram pertences nos escombros do morro do Bumba
Atualizada às 15h25
O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), visitou na tarde desta sexta-feira o morro do Bumba, em Niterói (RJ), onde acontecem as buscas aos desaparecidos no deslizamento da noite de quarta-feira. Segundo ele, as estimativas apontam que ainda existem de 100 a 150 corpos soterrados no local.
"São cerca de 100 a 150 corpos, segundo o pessoal dos bombeiros me passou. É uma situação totalmente estarrecedora", afirmou. "A responsabilidade é de todos nós. Não só autoridades, mas de toda a sociedade. Não quero fazer catarse de culpados, essa demagogia de ocupação irregular não vale a pena", completou.
Cabral afirmou ainda que, desde que assumiu, 7.200 desapropriações foram feitas. “Ordem pública sempre traz mais direitos humanos. A gente não pode pensar que direitos humanos e ordem pública são coisas contraditórias”, disse.
O número de mortos no Estado já ultrapassa 190, sendo mais de 110 na cidade de Niterói. A Prefeitura de Niterói e a Defesa Civil já haviam apontado que cerca de 200 pessoas moravam no local, onde existiam ao menos 50 casas. Para o subcomandante do Corpo de Bombeiros, coronel José Paulo Miranda, será difícil resgatar alguém com vida.
Prefeitura poderia ter evitado tragédia
no morro do Bumba, em Niterói (RJ)
As buscas em Niterói, cidade mais atingida, aconteceram durante toda a noite. Cerca de 300 homens, entre integrantes da Força Nacional de Segurança (FNS), policiais civis, bombeiros e policiais militares, trabalham no local com a ajuda de máquinas.
O trabalho de resgate não tem prazo para terminar e, segundo o governador Sérgio Cabral (PMDB), deve durar cerca de duas semanas. Segundo o vice-governador, Luiz Fernando Pezão, o governo do Estado pediu auxílio do Exército e da Marinha nas buscas.
Cabral também inaugurou hoje dois hospitais de campanha em São Gonçalo, onde 16 pessoas morreram por causa da chuva.
Alerta na capital
O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, anunciou hoje um decreto municipal que obriga o despejo de moradores em 158 bairros em áreas de risco, geralmente zonas de favelas construídas sem permissão nas encostas das montanhas.
Em entrevista à rádio CBN, Paes afirmou que se os moradores resistirem à medida a polícia terá permissão para "usar a força". "Todos devem obedecer à Prefeitura e não voltar (para suas casas) até a liberação da área risco. Não vamos brincar com isso. As pessoas têm que entender que temos que proteger vidas", disse o prefeito.
Você Manda: envie fotos ou vídeos da chuva no Rio
As mortes na cidade aconteceram no morro dos Prazeres, na comunidade Santa Maria, no morro dos Macacos, no morro do Turano, no morro das Oliveiras, no morro do Borel, na ladeira dos Guararapes, na Rocinha, no Andaraí, no Recreio, em Humaitá, em Cascatinha, na Ilha do Governador e na Quinta da Boa Vista.
Ressaca
Quase uma semana depois do começo do temporal, algumas ruas do Rio, principalmente nas colinas, continuam bloqueadas pelos desmoronamentos, embora a cidade esteja voltando a normalidade.
Hoje o dia amanheceu nublado e com uma chuva fina. A previsão é de novos temporais, que podem contribuir para piorar a situação.
Uma ressaca na orla da capital fluminense também está provocando transtornos aos cariocas. As ondas de quatro a cinco metros de altura interditaram uma das vias da avenida Atlântica, em Copacabana, que foi tomada pela areia e pela água do mar. A ressaca também provocou a interdição do Aterro do Flamengo, outra via expressa que faz a ligação entre a zona sul e o centro da cidade.
O mar da Baía de Guanabara também está bastante agitado e a água invadiu parte da cabeceira da pista do Aeroporto Santos Dumont, prejudicando parcialmente as operações no local. A travessia de barcas e catamarãs entre Rio de Janeiro e Niterói também foi afetada.
"A ressaca pode piorar ainda mais, porque a maré vai atingir o seu auge no início da tarde, então há mais riscos de mais areia e água invadindo as pistas", disse o oceanógrafo David Zee, ao ressaltar que um ciclone extratropical passou perto do litoral do Rio e aumentando o tamanho das ondas.
IML
A falta de documentos, perdidos com a chuva e com os deslizamentos de terra, está dificultando a liberação dos corpos das vítimas. A partir das 10h de hoje, dez defensores públicos do Estado do Rio de Janeiro estarão de plantão na sede do IML (Instituto Médico Legal) e na sede da Defensoria Pública para dar assistência jurídica às famílias e pedir alvarás à Justiça para sepultar os corpos que não podem ser identificados.
Área de lixão
O morro do Bumba, que hoje abriga moradias precárias, era ocupado por um antigo lixão. Em meio aos escombros é possível observar toneladas de lixo.
“Isso aqui é um lixão que se encharca muito mais rapidamente em comparação com outros morros. O solo vai ficando ensopado e ocorre a formação de gás metano. Com tudo isso, o ângulo estável fica muito menor. A prefeitura deveria ter um cadastro desta área, que é de altíssimo risco", explicou Adalberto da Silva, professor de geologia do Instituto de Geociências da UFF (Universidade Federal Fluminense).
A secretária Estadual do Ambiente do Rio, Marilene Ramos, afirmou que o deslizamento pode ter sido provocado por uma explosão ocorrida quando o gás metano do lixão entrou em contato com a atmosfera movendo a terra que já estava debilitada pelo acúmulo de água da chuva.
O prefeito de Niterói, Jorge Roberto da Silveira, visitou o morro do Bumba nesta quinta-feira e afirmou que não sabia que as casas da região tinham sido construídas sobre um lixão.
Mas, reportagem do UOL Notícias, revelou que a prefeitura da cidade não colocou em prática um plano de prevenção de riscos elaborado por pesquisadores da Universidade Federal Fluminense (UFF), com financiamento do Ministério das Cidades e da própria prefeitura. Finalizado em 2007, o plano custou R$ 120 mil e previa ações em vários pontos suscetíveis à ocorrência de desastres causados pela ação do tempo.
A Polícia Civil informou que abriu um inquérito para apurar eventual responsabilidade do poder público no deslizamento.
Tragédia estadual
O temporal que provocou a tragédia no Estado do Rio teve início no final da tarde de segunda-feira (5) e levou o caos à capital e à região metropolitana, que praticamente pararam na terça-feira. Segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), somente na terça-feira choveu mais do que o esperado para todo o mês de abril na região.
Segundo a Defesa Civil do Estado, o número de desabrigados em municípios das regiões metropolitana, Baixada Fluminense, Baixada Litorânea e Serrana mais atingidos pelas chuvas dos últimos dias é de 3.262, enquanto que o total de desalojados já soma 11.439 pessoas. Somente na capital, são cerca de 5.000 desabrigados.
Veja as cidades do Rio de Janeiro que registraram mortes
* Com informações de André Naddeo, no Rio de Janeiro, agências internacionais e Agência Brasil.