RODRIGO VARGAS
da Agência Folha, em Cuiabá
Em meio a uma epidemia com mais de 18 mil casos de dengue notificados neste ano, os 2.500 agentes de saúde de Campo Grande (MS) decidiram interromper o trabalho de combate à proliferação do mosquito Aedes aegypti e decretaram nesta terça (2) greve por tempo indeterminado.
Eles querem aumento de 60% sobre o valor de um adicional de produtividade que, segundo o Sintesp (Sindicato dos Trabalhadores em Saúde Pública de Campo Grande), não tem reajuste há cinco anos. A prefeitura diz que não negocia "com categoria em greve" e diz que vai cortar o ponto dos grevistas e demitir os que estiveram em estágio probatório.
Nesta quarta, foram ao trabalho apenas os 30% do efetivo exigido por lei, afirmou Amado Cheikh, diretor de política institucional do Sintesp. Segundo ele, uma comissão do sindicato se reuniu no último sábado com o prefeito Nelson Trad Filho (PMDB), mas um acordo foi "impossível". "O prefeito se recusou a discutir nossas reivindicações e nos expulsou do seu gabinete. Diante disso, não restou alternativa que não a greve", disse.
O salário-base de um agente de saúde em Campo Grande é de R$ 477. O adicional de produtividade, R$ 144. Além do reajuste de 60%, o sindicato defende que o adicional seja incorporado ao salário-base.
Epidemia
Em janeiro e fevereiro deste ano, foram notificados 18.346 casos de dengue na cidade _300 novos por dia, em média.
Este número é quase três vezes maior do que o total de notificações da doença nos anos de 2008 e 2009 (6.955) e representa um aumento de 5.439% em relação aos mesmo período do ano passado, quando foram contabilizadas 328 notificações. MS é um dos cinco Estados com epidemia de dengue neste ano.
Para o sindicato, eventuais consequências da paralisação devem ser creditadas à "intransigência do prefeito". "Não adianta a prefeitura empurrar o problema para o nosso lado. A greve só vai acabar na hora que o prefeito decidir concretamente o que pretende fazer."
Por meio de sua assessoria, o prefeito Nelson Trad Filho disse à Folha que o movimento dos agentes de saúde "não faz sentido, pois a data-base da categoria é apenas em abril". Disse, ainda, que o momento é "inadequado", em razão da epidemia instalada no município.
Trad atribuiu ao sindicato o fracasso da reunião do último sábado (27). O prefeito disse ter se irritado ao descobrir que o encontro era gravado pelos dirigentes sindicais e decidiu encerrar a negociação por "quebra de confiança."
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