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domingo, 14 de fevereiro de 2010

Evolui na avenida o Carnaval da Unidos do Plebiscito


Paixão
Esqueça Mangueira e Salgueiro. Dê de ombros para Beija-flor e Portela. Não perca o seu tempo com Vila Isabel e Mocidade.

A grande sensação do Carnaval de 2010 é o desfile da Escola de Samba Unidos do Plebiscito.

Em vez do enredo único, dois. Um par de puxadores divide o carro de som. O presidente-puxador grita:

“Olha a continuidade aí, geeeeeeeeeente!. A gente já fez muito. Mas vai fazer muito maisssssssss!”

Irrompe na avenida, abrindo o desfile, o carro alegórico do “Redescobrimento”. Uma imensa caravela.

No lugar da vela, um bigode de Sarney posicionado na vertical. Grudados no casco da embarcação, várias caras de papelão: Renan, Jucá, Jáder, Collor...

No alto do carro, acomodado numa plataforma rotativa, um boneco de Cabral estilizado. Ele acena para as arquibancadas. E os foliões: “Ohhhhhh!”

O neo-Cabral é barbudo. Veste um macacão de operário –feito de papel marchê marrom e adornado com lantejoulas vermelho-sangue.

Acima da cabeça do Cabral pós-pós pisca um letreiro. Reproduz o refrão do samba que o presidente puxador despeja sobre o microfone:

“Nunca antes/na história do Brasil/Que os vacilantes/Vão pra ponta do funil”.

Girando em volta do carro, sertanejos banguelas aceleram motocas novas em folha. Os faróis piscam. Ao acender, expõem uma inscrição: “Sem IPI”.

Vestidos de baianas, mensaleiros com máscaras de Dirceus e Genuinos equilibram sobre a cabeça maquetes de obras do PAC. Hidrelétricas, ferrovias, barragens...

Atrás das baianas, a ala dos “coligados”. Pemedebês, pedetês, pecedobês e pepês sambam em círculo. No centro da roda, uma jaula com um boneco Ciro dentro.

Súbito, o boneco Cabral abre a bocarra. Salta de dentro dele o torso de uma boneca menor. “Olha a candidata aí, geeeeeente!”, berra o presidente-puxador.

Numa das mãos, a boneca-candidata traz um grande cartão de plástico. Traz escrito, em maiúsculas: BOLSA FAMÍLIA.

Movimentos mecânicos, a boneca-candidata recolhe no bolso do macacão do boneco-Cabral a alegoria de um tucano.

Sacode-o. Arranca-lhe o bico. Depena-o, enfurecida. E o presidente-puxador: “Mata, esfola, deita e rola...” A arquibancada, em transe, repete: “Mata, esfola...”

Logo atrás, outro carro alegórico gigantesco. Desliza pelo asfalto revestido de notas de Real. Nas laterais, negros fortões com as vergonhas em riste.

Estão nus, os falos embrulhados em papel celofane. Erguem os braços, exibem os mísculos, como a realçar o vigor da velha nova moeda.

O desfile ganha atmosfera saudosista. Vestido de doutor honoris causa, um mulatinho pé-na-cozinha aciona o gogó:

“Olha a volta da estabilidade aí, geeeeeeeeeente!”

A essa altura, já familiarizada com o samba-enredo da “continuidade”, a bugrada canta, adaptando a letra:

“Nunca antes/na história do Brasil/Que os vacilantes/Vão pra pu...”

Voz firme, o mulatinho-puxador não se dá por achado. Ele entoa o novo refrão: “Tucano sim/não urubu/Melhor champanhe/Que cachaça com caju”.

Os foliões se animam. Cantam junto. Mas substituem a rima de urubu por um vocábulo menos doce que caju.

O multatinho-puxador, refinado, finge que não ouve. E segue na sua toada. No centro do carro do Real, ladeada pelos negões viris, uma grande cabeça calva.

A careca começa a rodopiar. Tem olhos de peixe morto, o olheiras tingidas de carvão. Não traz nenhuma identificação. É o não-candidato, todos imaginam.

O tampo da careca se abre repentinamente. Saltam de dentro dela índios pelados falando ao celular, mendigos sorvendo iogurte, operários devorando frangos...

No asfalto, tentando sambar, uma ala de economistas engomadinhos. Sacodem diplomas da USP, canudos da PUC do Rio, certificados de Harvard.

Mais atrás, na ala do “quanto pior, dezenas de figurantes. Estão fantasiados de esquerda raivosa. Carregam a alegoria de um grande pênis.

Traz duas letras ponta: PT. Os figurantes avançam em direção aos economistas engomados. Depois, recuam. Avançam. E recuam...

De acordo com a programação, o desfile seria encerrado com um carro batizado de “Alternativa”.  Um locutor avisa pelo alto-falante:

“Senhoras e senhores, a ala passadista da Unidos do Plebiscito manda avisar que não deu tempo de terminar o último carro. Assim, não teremos a prometida Alternativa”.

- Em tempo: Ilustração via Gazeta do Povo.

Sulamérica Trânsito












LAST





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