Planalto pressiona
Publicada em 19/08/2009 às 00h01m
Gerson Camarotti e Adriana Vasconcelos - O GloboReutersBRASÍLIA - Pressionado pelo Planalto, o PT deve ser decisivo nesta quarta-feira para enterrar as investigações contra o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Com a resistência do líder do partido, Aloizio Mercadante (PT-SP), a participar da manobra para substituir os dois suplentes da legenda no Conselho de Ética - Ideli Salvatti (SC) e Delcídio Amaral (MS) -, a orientação da cúpula do PT é que pelo menos um deles se abstenha, para impedir que a oposição consiga os oito votos para reabrir as investigações.
Com o impasse, Mercadante ameaçou renunciar ao cargo. Isso porque integrantes da tropa de choque comandada pelo líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), pressionaram para a substituição de Ideli e Delcídio pelo líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), e Roberto Cavalcanti (PRB-PB).
- Eu me recuso a fazer esse tipo de coisa. Que seja outro líder a fazer essa substituição. Eu coloco meu cargo à disposição se insistirem nessa proposta - disse Mercadante.
" Eu coloco meu cargo à disposição se insistirem nessa proposta "
A estratégia definida pelo governo com o PMDB é de tentar engavetar os 12 recursos contra o arquivamento das denúncias contra Sarney e Arthur Virgílio (PSDB-AM). Na noite desta terça-feira, Renan esteve no Centro Cultural Banco do Brasil, sede provisória da Presidência, para acertar o enquadramento do PT.
Delcídio e Ideli não escondiam a irritação, pois passaram a ser os responsáveis pelo engavetamento. Se Delcídio se ausentar, Eduardo Suplicy (PT-SP) vota pelo desarquivamento. Mas se Ideli se abstiver, o assunto será encerrado.
Desde cedo, Ideli vinha articulando para convencer Mercadante a fazer a troca. Ela e Delcídio são candidatos ao governo de seus estados, e não querem votar pelo desarquivamento dos pedidos de investigação contra o aliado. Mas também não querem ficar mal perante o eleitor, se abstendo e colaborando para enterrar as investigações. Se Mercadante renunciar e outro líder fizer a troca, os dois petistas estaria livres da votação no Conselho de Ética.
Os senadores petistas estão preocupados com a repercussão do assunto na opinião pública devido às eleições de 2010. Preocupado com a própria reeleição no próximo ano, o líder vem resistindo a impedir a reabertura de parte dos 11 pedidos de investigação contra o presidente da Casa.
O líder do DEM, senador José Agripino Maia (RN), assegurou que os três senadores da legenda no Conselho votarão pelo desarquivamento. Heráclito Fortes (DEM-PI) - que se considera impedido - deve ser substituído por Rosalba Ciarlini (RN).
Lula: "O que eu não quero é esse oba-oba do denuncismo"
Em mais uma defesa de Sarney, o presidente Lula citou governantes que teriam sido vítimas do que chamou de "oba-oba do denuncismo" no país. Na lista, Getulio Vargas, Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros, João Goulart e Fernando Collor. As declarações foram dadas em entrevista à Rádio Tupi, do Rio.
Lula disse que Sarney tomou as medidas certas, ao pedir que a Polícia Federal investigue seu filho e que a Fundação Getulio Vargas fizesse um estudo sobre o Senado, para mudar seu "gerenciamento". Segundo ele, o país não pode eleger e derrubar governantes "no ano seguinte".
- O que eu não quero é esse oba-oba do denuncismo, porque isso não dá certo em lugar nenhum do mundo.
O presidente do Conselho de Ética, senador Paulo Duque (PMDB-RJ), arquivou as ações protocoladas contra Sarney por falta de decoro parlamentar que podem levar à cassação de seu mandato. É grande a dificuldade para alterar a decisão de Duque, uma vez que, dos 15 integrantes do órgão, dez são da base aliada, pró-Sarney. O PT é o fiel da balança.
O presidente do Senado é acusado de estar envolvido em irregularidades administrativas na Casa, empregar pessoas ligadas à sua família e desviar recursos públicos por meio da fundação que leva o seu nome. (Confira as denúncias contra Sarney na linha do tempo)
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