Os consecutivos registros de corrupção envolvendo o governo da União –
certamente também presentes nos estados, onde a vigilância da imprensa
não é tão eficaz – expõe o grau de deterioração da atividade pública,
que projeta uma péssima imagem do País no exterior. Não é preciso ir-se
em busca de mais evidências, senão observar o governo Dilma Rousseff. Em
oito meses e meio caíram cinco ministros, quatro deles por supostas
corrupção e um, Nelson Jobim, por desentendimento e críticas aos
ministros e aos petistas de maneira geral. Jobim entregou o cargo com a
dignidade intacta. Foi o único.
As irregularidades na atual gestão não devem ser imputadas à
presidente. Seria injusto assim proceder. Elas vêm de antes, da herança
recebida do governo anterior que, para se blindar e agradar aliados,
elasteceu a gestão com nada menos 37 ministérios, a maioria deles
absolutamente dispensável. Ademais, Rousseff aceitou a quase imposição
do ex-presidente ao seu governo dos quatro afastados: Antônio Palocci,
Alfredo Nascimento, Wagner Rossi e Pedro Novais. Um de Lula, Palocci, um
do PR, dois do PMDB, o último deles, Pedro Novais, indicado por um dos
sócios da legenda, o senador José Sarney. Que também indicou o
substituto, Gastão Vieira. Ambos são do seu feudo, o Maranhão.
Nesse aspecto, Dilma passa a ter responsabilidade. Falta-lhe coragem
para enfrentar os velhos vampiros da República, certamente por
orientação de Lula que a aconselhou “a não esticar muito a corda para
não ter problema com a governabilidade.” Traduzindo o conselho de Lula: o
perigo que envolve a governabilidade transforma os partidos em sócios
do tesouro da República. São todos, sem exceção, farinha do mesmo saco.
Está nos partidos, em última análise, a origem do mal da corrupção, que
somente pode ser debelada com uma reforma política séria, daí as
dificuldades para fazê-la. Muitos políticos exercem o seu mandato com
honradez, mas grande parte se enriquece à sombra de negócios escusos
resultado da venda, de uma forma ou de outra, das vantagens que os
poderes republicanos oferecem ou do fisiologismo abjeto.
A sucessão de denúncias contra integrantes do governo nos diversos
escalões, todas elas até aqui, são fruto da imprensa livre. Não partiu
do Estado, do governo, nenhuma iniciativa a não ser levado a investigar
as mazelas divulgadas. Daí porque a todo o momento há movimentos para
restringir a liberdade de imprensa, entronizada na Constituição de 1988.
Na medida em que a vigilância arrefeça, os corruptos, que se proliferam
não sem razão à semelhança dos ratos, tomam conta da República. O poder
que entendem ter serve como ameaça à livre manifestação do pensamento,
da opinião. A cada denúncia, porém, a imprensa se fortalece e soma
crédito junto à opinião pública.
Curioso é que, recentemente, em declaração, a presidente Dilma Rousseff
defendeu a imprensa, a sua liberdade de manifestação e de opinião, mas,
como contraponto, disse em sequência que “não se deixava pautar pela
imprensa”. O que acontece é, justamente, os dois casos. Ela tem o mérito
democrático de respeitar o livre pensamento e a imprensa, mas,
queira-se ou não, a corrupção a leva ser pautada pelas denúncias nos
diversos veículos de comunicação. É fácil constatar. Todos os ministros
substituídos, além dos integrantes do segundo escalão, caíram depois das
denúncias efetuadas. Não surgiram do próprio governo, mas de fora do
governo. Ela tem méritos, no entanto, ao reconhecer a exata essência da
imprensa em suas diversas formas.
Os brasileiros estão se aglutinado para realizarem marchas para uma
limpeza generalizada. Essas marchas são necessárias. O governo terá que
ouvir o grito das ruas porque ele além de legítimo é a voz da nação que
quer reformas, a reforma política, sobretudo, porque sem ela os
corruptos continuarão aboletados no poder. Não há país sério que não
esteja estribado em princípios da moralidade e da ética pública.
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O ESTRANHO OTTO
É estranha a posição do vice-governador Otto Alencar de oferecer apoio
ao movimento que quer dividir a Bahia e criar o estado de São Francisco,
no rastro do processo divisionista do estado do Pará, em cujo
território pretende-se, através de plebiscito, ou consulta popular,
criar o estado de Carajás. Uma situação nada tem a ver com a outra.
A postura de Alencar é meramente política. Vincula-se a interesses
eleitorais do seu partido que acaba de ser criado, o PSD. Vai, no
entanto, de encontro à Bahia, cujo território, por desejo dos baianos, é
indivisível. O curioso é que ele se submete a um desgaste absolutamente
desnecessário. Ao tentar agradar aos eleitores da região do Oeste, ou
do além São Francisco, ele desagrada os demais, como poderá comprovar se
levar sua posição adiante e essa história terminar (o que não
acontecerá) em consulta à população.
Simplesmente porque na região do Oeste, rica produtora de grãos, está
apenas pouco mais de um milhão de eleitores. Otto não tem como, nem
voto, para acarinhar os eleitores que pretende. Gerou uma polêmica
desnecessária. Definitivamente, a Bahia não se divide.
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CENTRO HISTÓRICO-I
O centro histórico e o patrimônio colonial que o Pelourinho representa
estão abandonados pelo Estado e pelo município, conforme se vê, onde
perambulam pedintes, marginais e drogados, que afugentam os turistas do
mais belo e maior conjunto colonial da América Latina.
É possível observar, à luz do dia, adolescentes e até crianças se
drogando com crack sem que nada se faça para impedir controlando com a
destinação de espaços específicos para a cura. O que se vê é um lento
processo de suicídio. Visitar o centro histórico é um programa que
deprime baianos e turistas.
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CENTRO HISTÓRICO-II
No entanto, há formas de tentar controlar as drogas, e recuperar a área
do conjunto arquitetônico colonial. Se houver boa vontade oficial e
ações, prometidas, mas nada além de promessas das autoridades. Pior.
Ainda recentementente, o provedor da Santa Casa da Misericórdia, que se
situa na Rua da Misericórdia, que liga a Praça da Sé à Praça Municipal,
José Antônio Rodrigues, ofereceu às autoridades instalar posto de
tratamento para drogados e de saúde na área, de sorte a estancar ou
diminuir o processo decadente da população da área.
A resposta foi o silêncio. O absoluto silêncio das autoridades
públicas. Postura que bem demonstra que elas estão alheias ao que por lá
se passa. Estão indiferentes à degradação do conjunto colonial e ao
drama dos miseráveis que por lá perambulam sem nenhum objetivo de vida.
Apenas esperando a morte. José Antônio Rodrigues já foi secretário de
saúde do Estado, bom secretário, antes de assumir a provedoria da Santa
Casa.
*Coluna de Samuel Celestino publicada no jornal A Tarde deste domingo (18).
*Coluna de Samuel Celestino publicada no jornal A Tarde deste domingo (18).
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