16 de agosto de 2011
Brinquedo remendado com cola em forma de resina, ponta de parafusos enferrujados, cabos de aço puídos, atrações desniveladas e gato de luz. Peritos policiais e o Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea-RJ) constataram que os oito brinquedos do Glória Center, em Vargem Grande, não poderiam funcionar. Foi lá que, domingo, um carrinho - emendado com cola - se desprendeu matando Alessandra da Silva Aguilar, 17 anos, e ferindo 9 pessoas, duas gravemente. A dona do parque, Maria da Glória Pinto, foi indiciada por homicídio doloso, com intenção de matar.
Membro da Comissão de Análise e Prevenção de Acidentes do Crea-RJ, o engenheiro Jaques Sherique esteve ontem no Parque e condenou os brinquedos. "Todos estão em avançado processo de deterioração. A fibra de vidro que compõe o carrinho que se soltou estava tão deteriorada que se rompeu", concluiu.
De acordo com a delegada Adriana Belém, o brinquedo que vitimou Alessandra - o 'Tufão' - foi montado num chassi de 74 e nunca teria recebido manutenção. Segundo ela, o engenheiro Luís Soares Santiago, 77, emitiu laudo garantindo que os oito brinquedos estavam em boas condições e cobrou R$ 450 pelos documentos.
"Ele emitiu laudo para um parque visivelmente sem condições de funcionar. Já levava os laudos prontos durante as vistorias que fazia", afirmou Belém, destacando que a inspeção dele era superficial, só conferindo se a atração operava ou não.
Perguntado pela delegada se andaria ou deixaria um filho ou neto brincar nas atrações do parque, o engenheiro respondeu que não. Luís foi indiciado por falsidade ideológica e poderá perder o registro profissional do Crea-RJ, que investiga a conduta dele.
Dia 3, o Corpo de Bombeiros autorizou o funcionamento do parque. A corporação informou que só fiscaliza a lotação, localização dos extintores e saídas de emergência. Ontem, porém, emitiu laudo interditando o local. Desde janeiro a corporação recebeu 93 pedidos de autorização de parques no estado. A Prefeitura do Rio autorizou só 4.
Outro jovem já morreu no mesmo centro de diversões
Essa não é a primeira tragédia no Glória Center, que é um parque itinerante. Segundo a delegada Adriana Belém, em 2006, Robson da Costa, 14, morreu num dos brinquedos desse parque montado na Abolição. Em 2008, duas jovens ficaram gravemente feridas quando a atração estava em São João de Meriti.
"Glória falou de acidentes, mas não com gravidade. Nos leva a crer que ela sabia que o parque não tinha estrutura para o funcionamento seguro", avalia a delegada. O engenheiro Luís Soares já responde a inquérito por ter emitido laudo para outro parque onde morreu jovem em 2009.
O pedido de alvará para a festa foi feito pela Associação de Moradores e Amigos de Vargem Grande, que omitiu a existência do parque. Três membros da associação serão indiciados por falsidade ideológica.
O brinquedo Tufão operava superlotado. Testemunhas e o operador da atração, Jean Falcão dos Santos, 20, confirmaram que nos carrinhos para 4 pessoas, entravam 5. "Éramos 5 adultos no carrinho. O funcionário nem viu quando encaixamos a barra de proteção", contou Luciano Ferreira, 29.
Apelos por rigor e justiça no enterro
"Parque maldito! Essa mulher (dona do parque) tirou a vida da minha filha. Meu Deus, preciso de Justiça", dizia, aos prantos, a mãe de Alessandra, Adriana, durante o enterro da filha, ontem de manhã no Cemitério de Inhaúma.
Pelo menos 150 parentes e amigos acompanharam o sepultamento. O pai da vítima, o tenente PM reformado Carlos Augusto Aguilar pediu rigor na apuração do acidente, para que os donos do parque não montem os brinquedos em outro local: "Não sei como vou viver agora. Chorei nas últimas quatro horas o que não chorei nos meus 53 anos de vida. É preciso que eles paguem pela negligência!"
Atingidos por 3 toneladas
Sherique calcula que o impacto do brinquedo sobre as vítimas foi de 3 toneladas. Três dos 9 feridos estão no Hospital Miguel Couto. Daiane Mesquita, 17, e Vítor Alcântara de Oliveira, 16, que estavam na fila da bilheteria, estão em estado gravíssimo. Parentes vão processar estado e responsáveis pelo parque.
Francine Santana, 20, que estava no carrinho que caiu, perdeu 6 dentes e quebrou a mandíbula. "Ela alterna momentos de lucidez e confusão mental. Até agora, não sabe o que aconteceu", contou a mãe, Marilza Januário, 42.
Pâmela Santana, 17, que estava com Alessandra na fila, se recupera em casa: "não sei como estou viva. Só pode ser milagre, pois Lelê, que era uma das minhas melhores amigas, estava logo atrás de mim"
Sphere: Related Content
Nenhum comentário:
Postar um comentário