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quarta-feira, 7 de julho de 2010

Comportamento


07/07/2010


Mistério no futebol - Parte 1

Os bastidores da conturbada relação de Eliza Samudio, desaparecida há 20 dias, e do goleiro Bruno, que a polícia suspeita de ter cometido sequestro e homicídio

Francisco Alves Filho, Solange Azevedo, de Contagem (MG), e Wilson Aquino - Parte 1

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CONFRONTO
Eliza queria que Bruno assumisse o filho e pagasse
uma pensão. Ele queria distância dela e da criança

Poucos meses depois de nascida, Eliza Samudio já era levada dentro de uma cestinha às peladas de futebol que seu pai disputava, em Foz do Iguaçu (PR), sua cidade natal. “Eu jogava e minha filha ficava ao lado do gramado com meus familiares”, recorda o arquiteto Luiz Carlos Samudio, 46 anos. Ele era obrigado a carregá-la para onde ia, uma vez que a mãe, Sonia, abandonara a menina com cinco meses. A “bebê do papi”, como ele a tratava, continuou atraída pelo esporte e chegou a jogar bola na adolescência. Seu time do coração era o mesmo do pai, o São Paulo. “Um dia vou conhecer esses jogadores”, costumava repetir. Aos 20 anos, mudou-se para a capital paulista decidida a se aproximar de seus ídolos e a ser modelo. Nas passarelas, não teve sucesso. Mas o outro objetivo foi facilmente alcançado.

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BEBÊ
Dayanne Souza, mulher de
Bruno, ficou alguns dias com a criança


Sensual e adepta de decotes e roupas provocantes, ela se destacava nos eventos nos quais trabalhava como recepcionista e nas festas que também eram frequentadas por jogadores, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Teve relacionamento íntimo com alguns desses atletas, e o último foi com o goleiro Bruno, do Flamengo. Mas a história entre eles progrediu mal: Eliza acusara Bruno de agressões violentas devido a uma gravidez que, segundo ela, o goleiro queria interromper. Ela está desaparecida há mais de três semanas e ele, segundo a polícia, é o principal suspeito de seu sumiço. Os policiais trabalham com a hipótese de que ela esteja morta e de que Bruno tenha participação no crime. Se isso se confirmar, a atração que Eliza sentia por jogadores de futebol pode ter selado de forma trágica o seu destino.

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Eliza e Bruno, ambos de 25 anos, se conheceram durante um churrasco na casa do jogador Adriano, então no Flamengo, no dia 20 de maio do ano passado. A atração foi imediata. Ao som do conjunto de pagode Pique Novo e em clima de festa, os dois se aproximaram e se beijaram. Naquela mesma noite fizeram sexo pela primeira vez. Mesmo casado há seis anos com a mineira Dayanne Souza, 23 anos, mãe de suas duas filhas – de 1 e de 4 anos –, ele saiu com Eliza outras vezes. O triângulo amoroso perdurou até entrar uma quarta pessoa em cena, a dentista Ingrid Calheiros, 24 anos, em julho. Irritada ao saber desse novo romance, Eliza decidiu vir a público revelar que esperava um filho do goleiro. E o inferno começou.

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Bruno teria passado a ameaçá-la. Em outubro, ela denunciou à polícia carioca que fora sequestrada e agredida por ele e que, com uma arma apontada para sua cabeça, disse ter sido ameaçada de morte e obrigada a tomar uma bebida abortiva. Eliza fez exames no Instituto Médico Legal e comprovou imediatamente a agressão física, mas a presença de remédio que provocaria aborto em sua urina só foi confirmada na quinta-feira 1º, mais de oito meses depois. O Departamento Geral de Polícia Técnico-Científica da Polícia Civil do Rio de Janeiro (DGPTC) informou, em nota, “que foi encontrado um grupamento de substâncias consideradas abortivas na urina de Eliza Samudio”. Segundo os peritos, a conclusão será revista no laboratório da Universidade Federal do Rio de Janeiro porque a mistura de álcool e fumo pode induzir ao mesmo resultado. O laudo final ficará pronto na segunda-feira 5.

Após as agressões, Eliza voltou para São Paulo e hospedou-se na casa da mãe de uma amiga, em Cangaíba, na zona leste. “Eu acompanhei a gravidez e estava junto na hora do parto, que foi a fórceps”, diz a enfermeira A., 52 anos. “Quando ela disse que ia ao Rio para negociar um acordo com o pai do menino, aconselhei a não ir, fiquei preocupada”, recorda. As duas conversaram pelo telefone pela última vez no dia 7 de junho. “Ela disse que o Bruno tinha levado o menino para mostrar aos avós. Eu e minha filha falamos para tomar cuidado, mas ela respondeu que não havia risco.” Desde que Bruninho nasceu, há quatro meses, Eliza e Bruno vinham se enfrentando através de advogados. Ela queria que ele assumisse a paternidade e pagasse uma pensão. Ele queria distância dela e da criança. Por fim, Eliza disse às amigas que iria até a cidade mineira de Contagem, na Grande Belo Horizonte, onde o jogador tem um sítio em um condomínio, para acertar os detalhes de registro da criança. As últimas ligações feitas por ela ocorreram no dia 9 de junho. Foram quatro telefonemas, o último às 17h57 para uma amiga.

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Bruno enfrentou privações (a exemplo de tantos jogadores brasileiros) até atingir o estrelato, virar capitão do Flamengo e ser dono de um salário de R$ 200 mil. Órfão de pai e abandonado pela mãe aos dois anos, foi criado pela avó em um bairro humilde de Ribeirão das Neves, na região metropolitana de Belo Horizonte. Aos 12 anos, foi levado para o Venda Nova Futebol Clube, time da Segunda Divisão de Minas. “Fomos à casa dele num dia de chuva para fazer o convite. A rua era de terra, tinha uma valeta enorme”, lembra o treinador Valmir de Menezes. A diretoria do Venda Nova bancava as conduções e, eventualmente, fornecia até cestas básicas para a família do garoto. Em 2004, Bruno se casou com Dayanne, sua namorada de adolescência, e foram morar no andar de cima da casa da avó paterna. A carreira começou a decolar de fato com a transferência para o Atlético Mineiro, em 2005, onde se sagrou um dos melhores goleiros do Campeonato Brasileiro daquele ano. Na mesma época, começou a virar notícia por se envolver em polêmicas e brigas (leia quadro ao lado). Teve uma breve passagem pelo Corinthians e no final de 2006 chegou ao Flamengo.

Mistério no futebol - Parte 2

Os bastidores da conturbada relação de Eliza Samudio, desaparecida há 20 dias, e do goleiro Bruno, que a polícia suspeita de ter cometido sequestro e homicídio

Francisco Alves Filho, Solange Azevedo, de Contagem (MG), e Wilson Aquino - Parte 2

Alguns amigos de Bruno acreditam que a infância de privações e abandono somada à fama e ao dinheiro mexeram com a cabeça do jogador. “O pessoal do Atlético chegou a contratar um psicólogo para ele”, conta o treinador Menezes. “Bruno sempre foi uma criança alegre, determinada, sorridente, generosa. Mas tinha o temperamento forte.” Para o psicanalista carioca Sócrates Nolasco, especialista em comportamento masculino e autor do best-seller “De Tarzan a Homer Simpson” sobre violência masculina, quem migra abruptamente de classe social baixa para a alta pode reagir de forma violenta contra as pessoas que ameacem o novo status. “Eles vivem em estado de combustão, como se pudessem perder tudo o que ganharam da mesma forma rápida”, explica. Nolasco enfatiza também a falta de estrutura para lidar com a fama: “Eles têm a sensação de que podem tudo, de que estão acima da lei. Por isso, é comum se envolverem em escândalos.”

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Para desvendar o mistério do sumiço de Eliza, a polícia tenta reconstituir os passos dela e de Bruno entre os dias 4 e 10 de junho. Eliza deixou o Rio com o filho no dia 4 rumo a Minas Gerais. Os registros de entrada do condomínio em Contagem mostram que o goleiro esteve no sítio entre os dias 6 e 10. Em depoimento à polícia, uma testemunha afirmou ter visto a jovem algumas vezes no local, no início de junho. Em uma das ocasiões, ela estaria usando short azul e blusa branca. “No momento, o que temos é um caso de desaparecimento, que pode evoluir para homicídio e, posteriormente, para ocultação de cadáver. Mas são apenas hipóteses, já que não encontramos nenhum corpo”, diz o delegado Wagner Pinto, chefe da Divisão de Crimes contra a Vida.

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A polícia realizou na semana passada buscas no sítio de Bruno e também em sua casa no Rio de Janeiro. Os investigadores encontraram vestígios de sangue humano no porta-malas e no console de uma Range Rover de Bruno que foi apreendida no dia 8 de junho, uma dia antes do último telefonema feito por Eliza, em uma blitz por estar com documentação irregular. O material está sob análise e o resultado deve ser conhecido em duas semanas. Mais de 20 pessoas foram ouvidas pela polícia mineira, que começou a investigar o caso a partir de uma denúncia anônima, feita no dia 24 de junho, de que Eliza teria sido espancada e morta por Bruno e dois amigos dele.

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NA MIRA
O sítio do atleta, um dos mais luxuosos
do condomínio: polícia investiga denúncia
de que Eliza teria sido agredida e morta no local

Luiz Carlos Samudio, pai de Eliza, não tem esperança de encontrá-la com vida. “Bruno planejou essa armadilha para cumprir a ameaça de matá-la”, acusa ele. O bebê foi encontrado pela polícia em uma casa da periferia de Contagem onde moram dois amigos do goleiro. Dayanne, que chegou ao sítio no dia 23 de junho, tomou conta da criança por alguns dias e depois a encaminhou para esta casa na periferia. Bruninho foi levado até o sítio por Luiz Henrique Romão, conhecido como Macarrão, que trabalha para Bruno. Macarrão sumiu e Dayane chegou a ser presa por “subtração de incapaz” e liberada a seguir por ser primária. Segundo ela, Eliza era “garota de programa” e abandonou o bebê. “Essa criança é fruto da traição de meu marido”, admitiu Dayanne em entrevista ao jornal “O Dia”. Para Samudio, a filha está sendo retratada como prostituta injustamente. “Eliza trabalhava como recepcionista em eventos e gostava de crianças, ajudou inclusive a cuidar de um dos seus três meio-irmãos”, disse. Agora, ele oferece recompensa de R$ 5 mil para quem der pistas que esclareçam o caso.

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PIVÔ
A dentista Ingrid Calheiros, também namorada de Bruno, teria
motivado Eliza a revelar a gravidez

As últimas pessoas a verem Eliza viva foram duas amigas do Rio, que dividem uma casa onde ela costumava se hospedar. “Quando ela disse que ia para Contagem encontrar o Bruno, pensei que estava brincando, não acreditei”, disse uma delas à ISTOÉ. “Eliza estava em minha casa quando Bruno chamou-a para um encontro, em outubro. Ela foi até o carro dele, que estava estacionado perto e sumiu. Somente no dia seguinte, me ligou dizendo que estava numa delegacia denunciando Bruno por sequestro e agressão.” Uma dessas amigas conheceu Eliza numa festa na casa do jogador Adriano. Igualmente bonitas e jovens, elas também já namoraram alguns jogadores de futebol e são amigas de outros.

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Diante do escândalo, Bruno, a princípio, se calou. Mas na manhã da quinta-feira 1º participou de um treino no Flamengo e deu uma entrevista coletiva. Aparentando tranquilidade, disse: “Torço para que ela possa aparecer, é constrangedor para mim e para a minha família. Quero que a gente possa voltar a conversar e ser feliz. Tá difícil...”, disse ele, que afirmou não ver Eliza há mais de dois meses. Sobre o aparecimento da criança em seu sítio, o atleta repassou a responsabilidade: “Quem trouxe (a criança) para mim foi o Macarrão. Ela deixou a criança com ele porque queria resolver uns problemas pessoais. Mas ele (Macarrão) pode responder melhor do que eu.” Até o fechamento desta edição, o paradeiro de Macarrão continuava ignorado. Por conta do escândalo, noticiado mundo afora, a presidente do Flamengo, Patrícia Amorim, decidiu afastar Bruno. Em seu lugar, foi efetivado o reserva imediato, Marcelo Lomba. Por irônica coincidência, Lomba também anda às voltas com a Justiça por conta de uma agressão à estudante e ex-namorada Carolina Miranda.

Bruno e Macarrão se entregam na Polinter do Andaraí

POR PAULA SARAPU

Rio - O goleiro Bruno, do Flamengo, e o amigo e funcionário Luiz Henrique Ferreira Romão, conhecido como Macarrão, se entregaram por volta das 17h desta quarta-feira, na sede da Polinter, no Andaraí, Zona Norte do Rio.

Eles chegaram acompanhados do advogado Michel Assef Filho, do chefe do Setor de Investigações da Polinter, Ricardo Wilke, e da delegada Alessandra Wilke, da Delegacia de Homicídios de Contagem, responsável pelo inquérito do desaparecimento de Eliza Samudio, 25 anos, com quem o goleiro teria um bebê de quatro meses.

O jogador e o amigo vão fazer exame de corpo de delito, no Instituto Médico Legal (IML) e em seguida serão levados para a Divisão de Homicídios (DH), na Barra da Tijuca, Zona Oeste, que investiga o caso. De acordo com o delegado, Felipe Ettore, Bruno é o mandante do sequestro de Eliza. "Só o avanço das investigações vão dizer se o sequestro foi para matar a jovem", disse.

Segundo o delegado, Eliza foi levada para Minas Gerais, onde foi estrangulada e morta. "A vítima foi arrebatada e teve sua liberdade cerceada. Bruno se aproveitou disso", finalizou.

De acordo com a Delegacia de Homicídios, Bruno deixou sua residência, por volta de 14h de terça. As investigações mostram que o goleiro saiu de casa logo após a apreensão do menor J., que foi levado para a DH, na Barra da Tijuca, para prestar depoimento. Nesta madrugada, a Justiça acatou o pedido de prisão temporária de cinco dias expedido contra o jogador.

Mulher do goleiro está presa

Policiais civis do Rio e de Minas Gerais cumpriram dois mandados de busca e apreensão, na tarde desta quarta. Um deles foi na casa de Dayanne Souza, mulher de Bruno, na Barra da Tijuca. Policiais também estão procurando o veículo New Beattle amarelo, que seria um dos carros do jogador.

Sangue encontrado no carro é de Eliza

O sangue encontrado no carro de Bruno é mesmo da estudante Eliza, segundo informou uma fonte do Instituto de Criminalística (IC) de Minas Gerais. Ainda nesta manhã, Sônia de Fátima Moura, mãe da jovem, realizou a coleta de amostras de DNA no IC em Belo Horizonte, para comparar o código genético dela com o extraído de manchas de sangue encontradas no carro do goleiro.

Menor diz que corpo foi escondido

Na terça-feira, a polícia apreendeu um adolescente de 17 anos, primo de Bruno, que confessou ter participado do sequestro de Eliza. Ele foi levado para a Delegacia de Homicídios, onde prestou depoimento. Aos policiais, J. contou que seguia para Minas Gerais com Macarrão na Range Rover de Bruno - onde peritos identificaram vestígios de sangue humano.

Ele declarou ter dado três coronhadas na cabeça da jovem, que teria sangrado muito e, mesmo assim, seguido viagem por mais cinco horas até o sítio, em Esmeraldas. No depoimento, o menor afirmou que Macarrão matou a moça e negou a participação de Bruno no crime.

Ainda segundo o menino, até dia 9, Eliza foi mantida em cárcere privado. Logo depois ela conseguiu falar com uma amiga pelo telefone e, na madrugada do dia 10, foi morta.



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