Investigação
Publicada em 07/07/2010 às 00h11m
Gustavo GoulartRIO - O Ministério Público do Rio acolheu o pedido da polícia e já solicitou à Justiça a prisão temporária, por cinco dias, do goleiro Bruno, do Flamengo, acusado de ser mandante do sequestro de Eliza Samudio, sua ex-amante. Também foi pedida a prisão preventiva do amigo do goleiro, Luiz Henrique Ferreira Romão, conhecido como Macarrão, suspeito de ser cúmplice. O depoimento que um primo do jogador, de 17 anos, prestou nesta terça-feira pode ajudar a esclarecer o desaparecimento de Eliza, que já dura quase um mês e no qual Bruno é suspeito de estar envolvido. Na Divisão de Homicídios, na Barra da Tijuca, o menor confessou ter participado do sequestro de Eliza e dado coronhadas na cabeça dela. À policia, ele revelou que a jovem morreu, mas negou que seu golpe tenha sido a causa. Pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, se condenado, o menor pode ficar internado por, no máximo, três anos.
O adolescente foi detido no início da tarde desta terça-feira na casa do goleiro, no condomínio Nova Barra Residence, no Recreio dos Bandeirantes, onde teria passado o fim de semana na companhia de advogados do atleta. À noite, ele foi levado por policiais da DH para Minas, onde vai ajudar a localizar o corpo de Eliza.
A polícia chegou ao rapaz após um tio dele, motorista de ônibus que mora em São Gonçalo, procurar a Rádio Tupi e informar que o rapaz estava sendo mantido em cárcere privado na casa do goleiro. Três carros da DH chegaram ao condomínio por volta das 13h e demoraram cerca de meia hora no local. Bruno estava em casa.
Ouça o depoimento do tio do menor à Rádio TupiNa versão do menor, o jovem livra o goleiro da acusação de homicídio. Segundo o inspetor Guimarães, da DH, o menor confessou ter dado três coronhadas na cabeça de Eliza. O adolescente contou que a agressão ocorreu dentro do Range Rover do jogador, quando a jovem era levada para o sítio de Bruno, em Esmeralda, região metropolitana de Belo Horizonte, por Macarrão. Segundo o menor, ao descobrir que ele estava escondido no bando traseiro do carro, Eliza teria se assustado e tentado fugir. Foi quando ele desferiu os golpes. No Range Rover do goleiro, a perícia encontrou marcas de sangue que estão sendo analisadas para saber se o material genético é semelhante ao da jovem desaparecida.
(Leia mais: contraprova mostra abortivos na urina de Eliza)(Confira a cronologia do caso e seus personagens )
Depoimentos se contradizemAinda de acordo com o menor, foi Macarrão quem articulou o sequestro, e não Bruno. Ele acusou o amigo do goleiro de ter "desossado" a jovem e dado seu corpo para cachorros comerem. Mas, no inquérito que corre em Minas, há testemunhas que relatam terem visto Eliza no sítio na data em que ela, por este novo depoimento, já estaria morta.
(Leia mais: advogado de amigo de Bruno quer nulidade do depoimento)Pela manhã, o tio do menor afirmou à Rádio Tupi que o sobrinho era a chave para esclarecer o crime. Ele disse que o pai do jovem é tio do goleiro:
- A chave toda é o menino. Ele já falou que vai dar tudo. A hora que polícia botar a mão no garoto, ele vai dar tudo. O problema é que tem que ser rápido porque o Bruno pode mandar o garoto pra outro estado - disse o tio. - A coronhada quem deu foi ele (o menor), que abriu o cérebro da garota, tá entendendo?
" A coronhada quem deu foi ele (o menor), que abriu o cérebro da garota, tá entendendo? "
A entrevista do motorista complicou a situação do goleiro do Flamengo. Ele afirmou que Bruno deu R$ 3 mil para que Macarrão sumisse com o corpo de Eliza. Macarrão, por sua vez, teria chamado um outro amigo, identificado por ele como Clayton, que contratou traficantes de Belo Horizonte para dar fim ao cadáver. Na rádio, o motorista garantiu que o menor denunciaria todos os envolvidos no caso.
- A menina foi desossada, tá entendendo? O Bruno pagou três mil para um traficante. Esse cara transportou a garota para o traficante desossar. Tá enterrada. O garoto viu aonde tá, o garoto vai dar tudo. A garota foi desossada, enterram os ossos da garota e concretaram - disse ele.
Na entrevista, o motorista explicou que sabia da história porque o rapaz o havia procurado no sábado passado para contar como tudo acontecera. Neste mesmo dia, ainda segundo ele, Bruno ligou para o menor pedindo que ele fosse para sua casa. Desde então, o adolescente estava sendo mantido no condomínio do jogador, onde era orientado por advogados a dizer que tivera uma discussão com Eliza e dera um soco nela. O motorista disse que a família temia que o menor desparecesse. Porém, o advogado Monclar Eugênio Gama, que atua como assistente de Michel Assef Filho na defesa do goleiro do Flamengo, negou a acusação. Segundo ele, Bruno, que estava em sua residência no momento da chegada da equipe da DH, franqueou a entrada dos policiais.
O motorista mostrou-se emocionado durante a entrevista e justificou o motivo que o levou a fazer as revelações:
- Eu tô fazendo porque o sentimento é muito forte. A dor é muito forte. E o sangue que está no carro...
A reviravolta no caso que apura a suposta morte de Eliza fez com que todas as atenções ficassem voltadas para a Divisão de Homicídios, na Barra da Tijuca. À noite, o promotor Homero Neves, coordenador da 1ª Central de Inquéritos do Ministério Público estadual, chegou à delegacia para acompanhar o desenrolar das investigações. O grande número de repórteres, fotógrafos e cinegrafistas no local fez com que policiais fechassem as portas da delegacia. Advogados que defendem Bruno estavam no local, mas não atuavam oficialmente em nome do menor.
Caso do goleiro Bruno se encaixa no perfil de violência contra a mulher, diz representante da ONU
Plantão | Publicada em 05/07/2010 às 12h32m
AgênciaBRASÍLIA - A representante do Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (Unifem) Rebecca Reichmann Tavares, disse que o caso do desaparecimento de Eliza Samudio, há três semanas, enquadra-se no padrão de ocorrências de violência contra a mulher.
- Normalmente, o perfil é de um homem cuja mulher está procurando trabalhar fora de casa, desenvolve as próprias amizades e às vezes volta a morar junto com a família. Os homens não aceitam que a mulher saia da relação, então, a resposta é com violência - disse Rebecca, nesta segunda-feira, em entrevista ao programa Revista Brasil, da Rádio Nacional AM.
O principal suspeito do desaparecimento de Samudio é o goleiro Bruno Fernandes, do Flamengo, com quem ela teria tido um filho. Segundo Rebecca, a maioria dos casos acontece por três motivos: a mulher que quer terminar um relacionamento ou retomar o controle sobre a própria vida e o homem que não quer assumir paternidade.
A americana ressalta que a violência contra a mulher é um problema universal.
- Não tem classe social nem faz parte de um ou outro lugar do mundo. Todas as culturas são machistas. A diferença é que, em alguns países, a resposta do Estado em proteger a mulher é mais forte - explica a representante.
De acordo com Rebecca Tavares, o Brasil tem muitas políticas de proteção e conscientização nessa área. No entanto, as denúncias não recebem o tratamento adequado, principalmente por uma questão cultural.
- As mulheres são tratadas como se estivessem provocando a violência, que não deveriam sair de casa, porque policiais e juízes estão convivendo com os próprios preconceitos e com a cultura que muitas vezes culpa a mulher por esse tipo de caso.
A representante da Unifem acredita que a criação da ONU Mulheres, anunciada na última sexta-feira, vai aumentar a capacidade de trabalhar com governos e com a sociedade civil no combate à violência contra a mulher. Ela destaca que os índices de violência são menores nos países onde há maior igualdade de direitos de gênero.
Para Rebecca, é necessário ainda que as mulheres reconheçam os próprios direitos e denunciem qualquer abuso, assim como os homens devem saber que as mulheres têm os mesmos direitos que eles.
Caso Bruno: promotor pede prisão de goleiro
O goleiro Bruno Souza, do Flamengo, pode ser preso a qualquer momento. Nesta terça-feira, o coordenador da 1ª Central de Inquéritos, promotor Homero das Neves Freitas Filho, pediu à Justiça a decretação da prisão temporária do jogador e de seu amigo Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão. O pedido está sendo analisado pelo juiz de plantão do Fórum da capital.
Nesta terça-feira, o menor X., de 17 anos, primo de Bruno, confessou à Divisão de Homicídios do Rio, num depoimento que durou mais de oito horas, ter sequestrado, em companhia de mais duas pessoas — entre elas, Macarrão — a modelo Eliza Samudio. Durante uma discussão, ele teria agredido Eliza com duas coronhadas. Mãe de uma criança de 4 meses, que seria filha do goleiro, Eliza, segundo depoimento do menor, foi levada para um cativeiro em Minas Gerais e, depois, morta.
O adolescente contou à polícia que levou Eliza à força de um hotel na Barra para Minas. Para isso, ele teria contado com a ajuda de Macarrão, amigo do goleiro, e de uma terceira pessoa, identificada apenas como Sérgio. Este último estava dirigindo o Ranger Rover de propriedade de Bruno, enquanto X. permanecia escondido, com uma pistola, no banco traseiro do carro.
O jovem contou que, como Eliza tentou resistir, levou duas coronhadas. Ela foi levada para o sítio de Bruno, em Esmeraldas, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. O local teria servido de cativeiro da modelo.
‘Resolvam isso aí’
O menor contou ainda que o filho de Eliza estava no carro quando a mãe levou as coronhadas. Segundo o depoimento do menor, Bruno viu Eliza no sítio e teria dito a ele e a Macarrão a seguinte frase:
— Vocês resolvam isso aí.
A denúncia da participação do menor no crime surgiu da entrevista de um homem, morador de São Gonçalo, dada à Rádio Tupi. Ele revelou à radio carioca detalhes sobre o desaparecimento da ex-namorada do goleiro Bruno.