Para Dirceu, não houve inversão de papéis entre o discurso de José Serra e do governo em relação ao BC
Ao comentar as críticas do pré-candidato à Presidência José Serra (PSDB) sobre o atraso na redução dos juros pelo Banco Central (BC) durante a crise mundial, o ex-ministro da Casa Civil e integrante da direção do PT José Dirceu disse que "os tucanos não têm autoridade para falar sobre juros".
— O Gustavo Franco (presidente do Banco Central no governo Fernando Henrique Cardoso) manteve o País com câmbio fixo e com juros reais de 27,5% por três anos. Dobrou a dívida interna e vendeu 100 bilhões de reservas, patrimônio do País — afirmou o petista, ao participar da reunião da Central Única dos Trabalhadores (CUT).
Para Dirceu, não houve inversão de papéis entre o discurso de José Serra e do governo em relação ao BC. O ex-ministro disse que sempre foi crítico "notório" em relação ao banco, mas ponderou que, como disse a pré-candidata Dilma Rousseff (PT), a autoridade monetária teve papel fundamental para o País sair da crise. Segundo o ex-ministro, o BC está "no tamanho bom", sem independência e mandatos fixos para os seus diretores, previstos em lei, mas com autonomia de fato. Ele ponderou que essa autonomia é relativa, porque tanto a meta de inflação como a banda de flutuação da meta para cima ou para baixo são definidas pelo presidente da República e pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Apesar do elogio ao BC no enfrentamento da crise, José Dirceu afirmou que não vê razão para o aumento dos juros. Segundo ele, o aquecimento da economia é real, mas ele não coloca em risco as metas inflacionárias.
— O BC tem opinião diferente e aumentou juros. Mas não vai acontecer nada. A economia vai crescer 6%, 6,5% em 2010 e 5%, 5,5% em 2011 — previu.
Ele aproveitou para fazer críticas a Serra e à declaração do ex-governador paulista de que não haverá disputa na sua equipe econômica caso ele seja eleito presidente da República.
— Ele era a crise da equipe econômica do governo Fernando Henrique. Quem não se lembra disso? Ele sempre foi um dissidente da equipe econômica — alfinetou Dirceu.
Segundo ele, a equipe econômica do governo Lula tirou o Brasil da crise financeira internacional e a equipe econômica de FHC colocou o País em duas crises. 'Ciúme' Dirceu também atacou as críticas de Serra ao fato de a Petrobras ser presidida por sindicalistas.
— Por que sindicalista não pode presidir a Petrobras: dois sindicalistas transformaram a Petrobras numa das maiores empresa do mundo. O que os tecnocratas deles fizeram com a Petrobras?
Ele também atacou o FHC que, segundo Dirceu, sofre "crise de ciúme" em relação ao presidente Lula.
— Ciúme de homem com homem é a pior coisa do mundo.
Para o ex-ministro, também é irrelevante as críticas de que o presidente Lula teria sido autoritário ao impor ao PT o nome da pré-candidata Dilma Rousseff para sua sucessão. Conforme o ex-ministro, Dilma tem o apoio unânime do partido. Dirceu disse que o PT não é um partido a quem se diz o que se deve fazer.
Ele ainda minimizou as críticas de que Dilma não tem experiência para disputar a Presidência da República e comparou a situação ao técnico Dunga, da seleção brasileira.
— É que nem o Dunga dizer que para ir para a Copa tem que ter experiência. Se fosse assim o Pelé não teria ido para a seleção — disse Dirceu, acrescentando que os jogadores do Santos Neymar e Ganso, preteridos por Dunga, não têm experiência, "mas têm grande paixão".