POR GUILHERME SCARPA Paulínia (São Paulo) - “Sou um cineasta bipolar!” A declaração do ator e diretor Selton Mello define muito bem sua segunda incursão por trás das câmeras. Ao contrário do sentimento de falência que dominava seu primeiro filme, ‘Feliz Natal’, ‘O Palhaço’ é movido a leveza e alto-astral. A começar pelo nome do picadeiro em que seu personagem, Pangaré, e o pai, Puro Sangue, vivido por Paulo José, são as grandes atrações: o Circo Esperança. Foi lá que a dupla formada por Selton e Paulo concedeu a primeira entrevista sobre o projeto e conseguiu arrumar um tempinho para conversar com O DIA, após visita ao set. Atemporal, ‘O Palhaço’ mostra a crise existencial do palhaço vivido por Selton. “É que ele também sonha ter um CPF, um endereço, questiona seu ofício. Mas é uma comédia sonhadora. Sem fúria, mas cheia de som”, define.
“A ideia de fazer o filme é pessoal, vem da crise que vivi. Estava em dúvida quanto a minha profissão”, entrega Selton, que, depois de começar a fazer análise, está mais seguro sobre seu ofício. “Deu um estalo. Este é meu ponto de partida. A história está na minha cabeça. É uma mistura de Oscarito, Didi Mocó e ‘Bye Bye Brasil’ (filme de Cacá Diegues sobre artistas circenses)”, explica sobre o longa, que está sendo filmado no Polo de Cinema de Paulínia.Foto: Divulgação
Pela primeira vez, Selton Mello atua e se dirige. Mas ele, que chegou a pensar em Rodrigo Santoro e Wagner Moura para interpretar seu personagem, conta que vem sendo instruído por si mesmo há algum tempo. “Acho muito melhor eu me dirigir. Como ator, trabalho com o diretor mais rigoroso que conheço: eu mesmo. São poucos os que gostam do ator e dirigem. Tive que me virar sozinho muitas vezes”, confessa Selton.
Com mais de 40 anos de estrada, o ícone do cinema nacional Paulo José aprova a conduta do ator-diretor. “Ele é agregador, generoso. E tem cara de honesto”, elogia Paulo. Aos 73 anos, o ator, que sofre do Mal de Parkinson, vem se dedicando de corpo e alma à produção.
“Quem tem Parkinson sabe que vai morrer. Tem horas que quero me esconder”, conta ele, que implantou um chip na cabeça para controlar os tremores, como revelou a O DIA em 2009. “Depois dos 50, as peças saem da garantia. Ainda mais depois de 30 anos fumando maconha”, diz Paulo, primeira opção para o papel no filme. “Somos vizinhos, moramos no mesmo condomínio, na Gávea. Só que agora fico bebendo Paulo José o dia inteiro”, brinca Selton, que vive bom momento. “Quando você pensa em coisas alegres, fica distante da morte”.
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