16 de março de 2010 • 21h25
O PSDB está rompido com a política externa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, anunciou o senador Arthur Virgílio (AM), durante a votação nesta terça-feira, informou a Agência Senado. Os senadores discutiam a indicação do embaixador Oto Agripino Maia para representar o Brasil em Atenas, na Grécia.
De acordo com o líder, o partido deixará de dar seu apoio às autoridades indicadas pelo governo para representar o Brasil no exterior, quando considerar que a indicação não está de acordo com os interesses do País.
"Não acredito em obstrução absoluta, nem queremos parar as atividades diplomáticas brasileiras, mas nos declaramos rompidos com a política externa desse País. Não temos mais nenhum compromisso com essa aprovação simples e rápida de embaixadores", disse.
A decisão, de acordo com Virgílio, foi motivada pela discordância em relação ao que o partido considera equívocos da diplomacia nacional, que, no seu entender, estariam a ridicularizar o País. Entre as críticas, o senador se referiu ao diálogo do governo com ditaduras, como Cuba e Irã.
"Chegou ao paroxismo o nível de equívocos da política externa brasileira. Não aceitamos mais que ela seja feita exclusivamente pelo Executivo. Entendemos que nossa função é ajudar a governar. O Senado quer participar, o PSDB quer participar. Há espaços que não estão sendo ocupados por nós", afirmou.
Trajetória de equívocos
Arthur Virgílio elencou o que chamou de "trajetória de equívocos" da política externa nacional, desde o início do governo Lula. Ele citou, por exemplo, o episódio da desapropriação dos ativos da Petrobras na Bolívia, a "tentativa de empurrar Hugo Chávez presidente da Venezuela goela abaixo como membro do Mercosul", o asilo concedido ao presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, a "simpatia absurda declarada à ditadura do Irã", a "tolerância com o regime da Coréia do Norte".
"Me parece que há uma tendência a privilegiarmos regimes de exceção. E isso não é bom para o país", disse.
O líder tucano também mencionou as declarações feitas pelo presidente em recente visita à Cuba, quando Lula comparou os presos políticos daquele país aos criminosos comuns do Brasil. Por fim, Arthur Virgílio criticou o presidente da República por não ter visitado, durante a visita à Israel, o túmulo de Theodor Herzl, fundador do movimento sionista, o que gerou um constrangimento diplomático com aquele país.
Sabatinas suspensas
Ao tomar a palavra durante o discurso de Arthur Virgílio, o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), se declarou solidário à posição da liderança de seu partido e informou a suspensão das sabatinas com autoridades indicadas para representar o Brasil no exterior, até que o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, compareça ao colegiado.
"A nossa Comissão de Relações Exteriores tem a obrigação de acompanhar a política externa do governo. Não podemos nos omitir", disse Azeredo.
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) chegou a fazer um apelo pela reconsideração do presidente da CRE e dos tucanos de forma geral, no que não foi atendido. Ele ressaltou que a vinda de Celso Amorim à comissão já está agendada para o dia 7 de abril. O senador João Pedro (PT-AM) também protestou.
"O Senado não pode deixar de trabalhar por conta da análise do PSDB. O líder do PSDB foi pontual. É preciso ter profundidade nessa análise", disse.
Pronunciamento histórico
Por outro lado, diversos senadores manifestaram seu apoio ao pronunciamento de Arthur Virgílio. O presidente do PSDB, Tasso Jereissati (CE), o considerou "histórico".
"Esse governo tem demonstrado simpatia por todos os atos autoritários e não democráticos do mundo", disse.
O senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) disse considerar a política externa brasileira "terceiro-mundista". Já o senador Marco Maciel (DEM-PE) disse que, da forma como vem conduzindo a política externa, "o presidente vem provocando constrangimentos aos países que visita e a nós brasileiros".
Também se associaram ao protesto de Arthur Virgílio os senadores José Agripino (DEM-RN), João Tenório (PSDB-AL), Sérgio Guerra (PSDB-PE), Alvaro Dias (PSDB-PR) e Heráclito Fortes (DEM-PI).
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