Publicada em 22/11/2008 às 20h17m
Adauri Antunes Barbosa - O Globo; CBNSÃO PAULO - O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), discordou no início da noite deste sábado do ex-presidente Fernando Henrique, que havia criticado no começo da tarde a postura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva diante da crise econômica mundial. No encerramento do 5º Encontro dos Tucanos Eleitos de São Paulo, que reuniu 139 prefeitos, 69 vice-prefeitos e 358 vereadores, Serra disse que Lula está, sim, preocupado com a crise econômica mundial.
- Vejo o presidente Lula hoje preocupado com a crise. Inclusive estamos fazendo algumas parcerias. Foi o caso do crédito para a indústria automobilística, o caso agora do adiamento do recolhimento do Simples, que nós estamos de acordo e os estados são fundamentais para isso. Enfim, estamos trabalhando nisso - disse o governador, cujo nome foi unanimidade entre os tucanos como candidato a presidente da República.
FH: 'Não fale bobagem, presidente'O ex-presidente fez críticas à forma como o governo Lula tem enfrentado a crise econômica e foi irônico, chamando Lula de "grande economista", em referência à declaração feita pelo petista de que quando a crise chegasse ao Brasil seria uma marola.
" Nós temos que dizer: o rei está nu aqui, ali, acolá. Põe a roupa, ô presidente. Não diga bobagem, presidente "
Fernando Henrique disse ainda que o PSDB não é a favor do "quanto pior, melhor", e que o partido tem que dar apoio para a situação melhorar. O ex-presidente disse que o PT traiu o eleitor quando manteve as mesmas medidas adotadas pelo PSDB na gestão anterior, sobretudo as medidas adotadas na economia. Disse que a traição vem do fato de o PT ter dito que faria tudo diferente, mas não fez.
- Não precisamos ser agressivos pessoalmente com ninguém, mas nem por isso precisamos dizer que tudo o que o seu mestre fala está certo, porque não está. Nós temos que dizer: o rei está nu aqui, ali, acolá. Põe a roupa, ô presidente. Não diga bobagem, presidente. Seja mais conseqüente com a sua história. Não seja tão rápido no julgamento do que os outros fizeram. Perceba que uma nação se faz no decorrer de gerações. Não seja tão pretensioso. Seja um pouquinho mais humilde - completou Fernando Henrique Cardoso.
O ex-presidente disse que o povo percebe quando as coisas não vão bem.
- Entendo que o presidente deva animar o país. Mas o país não é bobo. O país percebe quando as coisas mudaram. As coisas mudaram no mundo, mudaram para pior. É cíclico? É momentâneo? É, mas nós temos que ter a capacidade de visão do futuro para sair da situação ruim que estamos e não ficar dizendo que não está ruim. Está ruim sim.
Fernando Henrique criticou em seguida a declaração do presidente Lula, para quem quando a crise chegasse ao Brasil seria uma marola.
- Aqui não é marola, não. Vai perguntar para quem está perdendo o emprego hoje, que é mineiro da Vale, se é marola. Não é marola. Marola é quando você não é afetado. Está afetando.
Quando saía da sede social do Jóquei Clube de São Paulo, onde aconteceu o encontro, Fernando Henrique afirmou que não foi duro com o presidente Lula.
- A essa altura da vida só faço discursos amáveis, doces. Mas você acha que o rei tem que estar nu? Não! Quero o rei bem vestido.
Serra diz que é cedo para falar em candidaturaO governador de São Paulo evitou comentar a recomendação de FH de que o PSDB deve ter o nome seu candidato à sucessão de Lula até o segundo semestre do ano que vem. Segundo ele, a possibilidade de o partido decidir em prévia quem será o candidato vai depender do encaminhamento das negociações,
- Tudo depende de como as coisas se encaminhem. Não dá para ter uma resposta agora sobre isso.
Falando aos tucanos paulistas, o ex-presidente disse que o partido precisa se preparar para o futuro decidindo até o segundo semestre do ano que vem quem será o candidato a presidente da República.
- O PSDB tem que se unificar internamente. É bom que no começo do segundo semestre do ano que vem tenhamos um candidato ou uma candidata. Por que? Porque o governo já tem.
FH não quis dizer quem seria o melhor candidato do PSDB entre os governadores Aécio Neves, de Minas Gerais, e José Serra.
- Os dois são bons. Sou presidente de honra do partido. Não posso, antes da hora, antes de conversar com os dois, antecipar. (...) Não adianta dramatizar. Não vai ser assim. Haverá uma convergência. Se não houver temos mecanismos de resolver dentro do PSDB. (...) Acho que é natural, na democracia, não é todo mundo unânime. O que é importante é ter mecanismo que leve no momento necessário à convergência. É isso que o PSDB tem que criar.
Já o secretário-geral do PSDB paulista, César Gontijo, foi taxativo, e disse que o candidato do partido à Presidência da República é o governador José Serra, e que o governador mineiro Aécio Neves é jovem e terá "o momento dele".
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