terramagazine
Lecticia Cavalcanti
De Recife (PE)
O número sete, desde a mais remota antiguidade, é sobretudo um
símbolo. Para Pitágoras, por exemplo, era a perfeição. Para Hipócrates,
"mantém no ser todas as coisas; dá vida e movimento; influencia os seres
celestes". Para os egípcios, representação da vida eterna, fechando um
ciclo completo. O mundo foi criado em sete dias (seis de trabalho, mais
um de descanso). Cada período lunar tem esses mesmos sete dias. Como
sete são os dias da semana. E as cores do Arco Íris - vermelho, laranja,
amarelo, verde, azul, anil e violeta. Oceanos são cinco, mas os
"grandes mares" são mesmo sete - Adriático, Arábico, Cáspio, Golfo
Pérsico, Mediterrâneo, Negro, Vermelho. O número aparece, também, em
muitas passagens da Bíblia. Sete são as chagas de Cristo, os sacramentos
(batismo, confirmação, eucaristia, sacerdócio, penitencia,
extrema-unção, matrimonio), as virtudes (castidade, generosidade,
temperança, diligencia, paciência, caridade humildade), os pecados
capitais (vaidade, avareza, ira, preguiça, luxúria, inveja, gula). Na
Grécia, sete eram os sábios - Thales de Mileto, Bias, Cleopulo, Misom,
Quilon, Pitaco, Sólon. E as cerimônias do culto a Apolo se davam sempre
no sétimo dia de cada mês, o que faz lembrar que celebramos nossos
mortos no sétimo dia de suas mortes. De Recife (PE)
São sete também as notas musicais, as maravilhas do mundo antigo (Jardins suspensos da Babilônia, Estátua de Zeus, Templo de Diana, Mausoléu de Halicarnasso, Colosso de Rodes, Farol de Alexandria e Pirâmides do Egito) e as do mundo moderno, escolhidas no dia 07/07/2007 (Machu Picchu, Taj Mahal, Chichén Itzá, Cristo Redentor, Grande Muralha da China, Ruínas de Petra, Coliseu de Roma). Como se fosse pouco, no início de setembro foram escolhidas as sete maravilhas da gastronomia de Portugal. Eleitas, por votação popular, na Antiga Escola de Cavalaria de Santarém. "Há dez anos, a Gastronomia foi considerada patrimônio imaterial de Portugal, alcançando o estatuto de valor cultural que define a nossa identidade enquanto povo. Hoje prestamos uma justa homenagem a este patrimônio único dos portugueses que resulta dos hábitos que gerações aperfeiçoaram ao longo dos tempos", afirmou Luis Segadães, organizador da iniciativa. Para constar, foram essas as maravilhas:
* Alheira de Mirandela (região de Trás-os-Monte e Alto Douro). Servido quase sempre como entrada. Assada na brasa (suave) ou frita em azeite, aproveitando sua própria gordura.
* Queijo da Serra da Estrela (Centro do país). Preparado com leite cru das ovelhas da região (raça Bordaleira), coalhado com flor do cardo e sal marinho. O queijo foi imortalizado por muitos escritores importantes, entre eles Gil Vicente e Eça de Queiroz.
* Caldo Verde (região do Minho). Tem como ingredientes azeite, alho, cebola, chouriço, couve-galega, água e sal. Tudo posto no fogo em tradicional panela de ferro, usando para mexer apenas colher de pau. Servir, depois de pronto, em tigelas de barro. O poeta Arnaldo Ferreira descreve essa sopa, num poema que ficou conhecido pela voz de Amália Rodrigues, "Uma Casa Portuguesa", que diz assim: "Basta Pouco, Poucochinho p'ra alegrar, uma existência singela ... É só Amor, pão e vinho, e um Caldo Verde, verdinho a fumegar".
* Arroz de Marisco (da Praia de Vieira, em Leiria). Arroz (do tipo Carolino) cozido em tacho de barro, junto com ameijoas, camarão, lagosta, coentro e pimentão. Servir logo que fique pronto.
* Sardinha Assada (região de Setúbal). "Puxar a brasa à nossa sardinha" é, no sentido literal e figurado, importante e determinante no preparo da receita: colocar a sardinha com barriga pra dentro, usando grelha dupla; assar em fogo brando; virar de vez em quando, até que estejam assadas. Servir em cima do pão, também tostado na brasa.
* Leitão da Bairrada (Beira Litoral). Cerca de três mil leitões (especialmente os da raça Bisara) são servidos, por dia, nos restaurantes da região. Temperados apenas com alho, pimenta e sal, espetados em vara de madeira e assados muito lentamente, em forno de lenha (de eucalipto ou vide). Depois de assados, são cortados em pedaços e servidos em travessa, com a pele sempre virada para cima. Acompanha batatas cozidas com a pele, laranja e salada.
* Pastel de Belém (Lisboa). Receita original do Mosteiro dos Jerônimo, que passou a ser conhecida a partir de 1834 (quando foram extintas todas as ordens religiosas de Portugal). É que, para sobreviver, os pobres padres passaram a vender os tais pastéis, que ficaram conhecidos como "Pastel de Belém". Até hoje, feitos segundo uma receita "secreta" do convento, exclusivamente conhecida por seus mestres pasteleiros .
RECEITA: ALHEIRA DE MIRANDELA
INGREDIENTES: 1 alheira, óleo, batata e ovo
PREPARO: Faça, na parte externa da alheira, um corte superficial. Frite em bastante óleo (muito quente). Depois de frita, retire do óleo, escorra em papel e reserve. Sirva acompanhada com batata frita e ovo frito.
Nenhum comentário:
Postar um comentário