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domingo, 17 de julho de 2011

A velha e boa inimiga de Lula


Nas Entrelinhas
Autor(es): Leonardo Cavalcanti
Correio Braziliense - 16/07/2011


Falar mal da imprensa é quase um cacoete do petista, uma espécie de hábito adquirido ao longo dos anos de militância sindical e política. O ataque sempre volta aos discursos do ex-presidente por ser de fácil compreensão, sem muita elaboração teórica. Mas, apesar de tudo, eficiente


Luiz Inácio Lula da Silva voltou e encontrou uma plateia perfeita. Na última quinta-feira, o ex-presidente discursou por mais de 30 minutos no congresso da União Nacional dos Estudantes, a UNE, em Goiânia. Entre aplausos e gritos dos fãs, mirou na imprensa, a velha e boa protagonista de ataques lulistas.

Falar mal da mídia é quase um cacoete do petista, uma espécie de hábito adquirido ao longo dos anos de militância sindical e depois política. E esse cacoete sempre volta aos discursos de Lula por ser de fácil compreensão, quase mecânico, sem muita elaboração teórica. Mas, apesar de tudo, eficiente.

Associar a mídia à entidade manipuladora por natureza, sem princípios ou critérios, é reduzi-la ao nada. E isso pode ser um erro amador ou uma astúcia profissional, a depender do autor de tal associação. Desconfio que um ex-presidente da República seja incapaz de se enganar assim tão fácil.

A imprensa tem tantos atores e sotaques — incluindo os dos articulistas, repórteres, fotógrafos, editores, produtores, donos de jornais e televisão — que é impossível analisá-la de pronto. Aliás, se fosse fácil assim, os teóricos da comunicação seriam desnecessários, com todos erros e acertos da academia.

Lula parte em direção à imprensa porque assim é mais rápido montar discursos para mandar recados aos adversários políticos — nem sempre instalados nos jornais, revistas e emissoras de televisão — e se autoelogiar, este sim o esporte favorito dos políticos, qualquer que seja a legenda.

A estratégia é um tanto óbvia: ela, a imprensa, diz que eu faço assim, mas eu faço de outra maneira, melhor, nunca na história deste país fizeram igual. O bom negócio para ele é que ao longo dos últimos oito anos o eleitor gostou do óbvio. E parece continuar gostando. Assim, tome críticas.

Reclamações
Os feitos de Lula durante os oito anos que permaneceu no governo são inquestionáveis, até mesmo para os mais ferrenhos adversários. E isso fez com que ele elegesse a sucessora. Mas não significa que o ex-presidente possa se colocar acima do bem e do mal. E cabe à imprensa mostrar tal coisa.

No caso do último discurso, o de Goiânia, Lula disse que a "imprensa" tenta criar intrigas entre ele e Dilma ao reforçar diferenças do estilo de administrar o governo. "Não precisa ser especialista para saber que somos diferentes", afirmou o ex-presidente. Sim, mas qual é o problema nas comparações?

O próprio Lula reforçou as diferenças entre o governo dele e o de Fernando Henrique Cardoso durante as últimas duas eleições presidenciais. Comparações, quando não levianas, são quase naturais. E publicá-las não torna jornalistas bons ou maus, por mais fraca que a reportagem possa se mostrar.

Fragilidade
Por último, em Goiânia, o ex-presidente reclamou das reportagens sobre as viagens feitas a Brasília para encontros com políticos. Para Lula, o tom das matérias tentaria mostrar uma imagem fragilizada de Dilma, que precisaria dele para se fortalecer entre ministros e parlamentares.

"Só diz que ela é fraca quem não conhece a personalidade dela. Se o babaca que escreveu isso já tivesse sentado com a Dilma 10 minutos ele ia saber que ela pode ter todos os defeitos do mundo, menos ser fraca", disse Lula. Lula não nominou o "babaca". Talvez nem saiba de quem se trata.

De fato, os jornais publicaram reportagens sobre o receio de integrantes do governo com os encontros políticos de Lula. Segundo a tese, a presença do petista mais atrapalharia do que ajudaria Dilma. Por coincidência ou não, Lula deu um tempo de Brasília.

Sobre os erros
A imprensa erra — como qualquer um erra — e Lula tem todo o direito de questionar matérias, repórteres ou articulistas. Aliás, todo cidadão pode e deve fazer isso. Mas tão ruim quanto o partidarismo na mídia contra o petista é o partidarismo favorável ao ex-presidente.







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