No açougue, carne até 77% mais barata |
Autor(es): Jorge Freitas |
Correio Braziliense - 16/07/2011 |
Clientes fogem dos preços pouco competitivos dos supermercados e voltam ao bom e velho comércio de bairro
Os consumidores estão retomando um antigo hábito: comprar carne em açougues. Aos poucos, abandonam os supermercados, principais responsáveis pela decadência do negócio, e lotam os antigos estabelecimentos em busca de peças bovinas cortadas na medida certa para seus almoços e churrascos. Além da qualidade do produto, do tratamento personalizado e da conversa amena em torno dos balcões iluminados, a vantagem é o preço atraente. Segundo levantamento do Correio, no Plano Piloto, no Guará, em Taguatinga e em Ceilândia, um quilo de picanha sai, em média, 77% mais barato se for comprado no açougue da vizinhança. De dez cortes de carne, somente o acém tem preço menor nas grandes redes varejistas. "É mais cômodo. É só estalar os dedos e eles vêm entregar a carne", afirma Glaúcia Hipólito, 52 anos, cliente do açougue J. Silva, no Guará 2. "No supermercado, a fila é muito grande." O autônomo Fernando Rocha, 25 anos, prefere os estabelecimentos pequenos porque considera as instalações mais higiênicas. "Aqui, o preço é bem mais em conta também", assegura. O vendedor Cristiano Souza da Silva, 25, acha a qualidade da carne melhor e aponta outra vantagem: o pagamento adiado. "No supermercado, não conheço ninguém. Aqui, o açougueiro é meu amigo e faz fiado", atesta o freguês, com uma folga de 30 dias para quitar o débito. Já o militar Roni Cavalcanti, 38 anos, gasta por mês cerca de R$ 80 com o produto. "Quando falta carne no meio do mês, até posso ir ao supermercado. Nas compras mensais, prefiro o açougue, pois sai mais em conta", confirma. Os preços dos açougues são menores por causa dos benefícios fiscais que os comerciantes recebem no Simples Nacional, imposto unificado que favorece micro e pequenas empresas com tributação de 3% a 8% sobre o faturamento. Os supermercados pagam 9,25% do Programa de Integração Social (PIS) e da Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (Cofins), além dos outros tributos. Também arcam com custos maiores de aluguel e manutenção das lojas, nas quais a carne é apenas um dos muitos itens à venda, com margem de lucro de 15%, nível inferior ao de outros produtos nas prateleiras. No ano passado, a venda de carnes respondeu por 7,6% das receitas do setor. Segundo o superintendente da Associação Brasileira dos Supermercados (Abras), Tiaraju Pires, a cobrança do PIS e da Cofins atrapalha a competitividade do segmento, que não têm saída a não ser repassar os custos aos consumidores. "Os supermercados são prejudicados pelo sistema tributário. Buscamos com o governo federal a isenção de toda a cadeia produtiva da carne, já que os frigoríficos não pagam essas contribuições e os açougues são beneficiados pelo Simples", diz. O diretor da Abras em Brasília, Angelo Oliveira, completa: "O problema é que os açougues trabalham num mercado mais informal do que os supermercados, que têm custo operacional muito alto". Precauções "Se existe carne clandestina no DF, é em pequena quantidade. Os clientes querem produto de qualidade e os comerciantes sabem que é melhor trabalhar com carne de boa origem", diz o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Carnes Frescas do DF, Raimundo Nonato. Segundo a diretora de Inspeção de Produtos de Origem Animal do DF, Cristina Barbosa Taques, as redes de supermercados adquirem peças embaladas a vácuo da origem, enquanto os açougues realizam a desossa da carcaça do gado no próprio estabelecimento, o que diminui seu custo, mas aumenta os riscos. Cristina lembra que todas as carnes e derivados vendidos no DF devem ter o selo de inspeção distrital (SID) ou o federal (SIF). "Essa é a garantia de segurança. A comercialização desses produtos sem os selos caracteriza infração à legislação sanitária vigente, sendo passível de apreensão e posterior inutilização", afirma. O supermercado Dona de Casa, do Guará 2, defende a procedência e a higiene de sua loja. "Toda carne é resfriada e in natura. Os açougueiros a cortam na frente dos clientes e as pedras onde isso é feito são substituídas e lavadas a cada duas horas", garante a nutricionista da empresa, Naira Lygia Silva. |
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