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quarta-feira, 27 de julho de 2011

Minoria trata depressão em São Paulo

  • 26 de julho de 2011 |
  • 23h18 |

Categoria: Saúde

Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, que colaborou com o mapa mundial da depressão (Foto: Filipe Araujo/AE)

Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, que colaborou com o mapa mundial da depressão (Foto: Filipe Araujo/AE)

FELIPE ODA
TATIANA PIVA

Apenas 37,3% dos paulistanos com episódios de depressão grave recebem algum tipo de tratamento. Essa é uma das conclusões de um estudo mundial sobre a doença publicado ontem pela revista científica BMC Medicine. Na pesquisa, os dados referentes ao Brasil são representados exclusivamente por São Paulo e se referem a um período de coleta de dados compreendido entre 2004 e 2007. A falta de tratamento foi constatada nos 12 meses anteriores à aplicação dos questionários aos pacientes.

Numa lista de 18 países que tiveram seus índices de depressão avaliados, o Brasil apresentou a maior prevalência da doença, com 10,4%. Se comparado aos países que integram o grupo de pesquisa do País (formado por nações de baixa e média renda, como China e Índia), esse índice é altíssimo: a média de prevalência da depressão nessas nações foi de 5,9%. “Isso foi uma surpresa até mesmo para nós. Precisaríamos de um novo estudo para compreender essa prevalência”, afirma a professora Maria Carmen Viana, do Departamento de Medicina Social da Universidade Federal do Espírito Santos (Ufes), uma das responsáveis pelo estudo no País.

No Brasil, as informações foram coletadas pela pesquisa São Paulo Megacity Mental Health Survey, que também tem a coordenação da professora Laura Helena Andrade, do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. Exatamente 5.037 paulistanos foram entrevistados – eles responderam a um questionário idêntico àquele aplicado aos demais participantes do estudo. No mundo, 89 mil pessoas foram ouvidas pela pesquisa e o Japão apresentou a menor prevalência da doença, com 2,2%.

O mapa da depressão é uma iniciativa da Organização Mundial de Saúde, com coordenação da Universidade de Harvard, nos EUA, e participação de órgãos parceiros. A ideia era estudar a classificação e o grau do transtorno psiquiátrico. Para ser classificada como paciente de depressão grave (caracterizada pela condição duradoura do transtorno, por pelo menos duas semanas), a pessoa deveria preencher cinco de nove critérios da doença.

No Brasil outra constatação que chamou a atenção dos pesquisadores foi a prevalência da doença na população jovem: pacientes com idade entre 18 e 34 anos têm, em média, de 3 a 5 vezes mais probabilidade de sofrer do quadro grave do transtorno – essa mesma situação se aplica aos maiores de 65 anos. Em países de baixa renda, ficou constatado que o início da depressão se dava dois anos mais cedo.

Dos diagnosticados com depressão grave e que tiveram acesso a algum tipo de tratamento (1.878 pessoas, no total), apenas 23% tiveram auxílio de um especialista em saúde mental. Outros 15% foram tratados por clínicos gerais e 0.3% por “serviços comunitários não médicos, como assistentes sociais e igrejas”, segundo a professora Maria Carmen.

A baixa taxa de tratamento nos pacientes depressivos segue o “padrão internacional”, afirma Sérgio Baxter Andreoli, professor do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “São números parecidos aos registrados em outros países. E os que buscam tratamento, correspondem aos pacientes com grau mais avançado da doença.”

Para Evelyn Bromet, da Universidade de Nova York e responsável pelo estudo nos Estados Unidos, os números de prevalência do transtorno são um alerta. “Demonstramos que a depressão é uma preocupação de saúde pública. (Os dados) podem ajudar iniciativas globais para reduzir o impacto da depressão na vida dos indivíduos e reduzir a carga para a sociedade.”

Mulheres
O estudo também confirmou a maior suscetibilidade das mulheres à doença. A proporção é de duas mulheres com o transtorno para cada homem doente.

Participaram do estudo 20 instituições

A Pesquisa Mundial sobre Saúde Mental, realizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), é coordenada globalmente pelo professor Ronald Kessler, da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, autor de diversas pesquisas sobre transtornos psiquiátricos. Pesquisadores de 20 centros de várias partes do mundo colaboraram com a coleta de dados para o estudo da OMS, que incluiu análise de outros transtornos, além da depressão.

Os 18 países participantes do estudo sobre depressão foram divididos em dois grupos: alta renda (Bélgica, França, Alemanha, Israel, Itália, Japão, Holanda, Nova Zelândia, Espanha e Estados Unidos) e baixa ou média renda (além do Brasil, Colômbia, Índia, China, Líbano, México, África do Sul e Ucrânia).

Para traçar um mapa da depressão nesses países, o mesmo questionário e critérios para classificação do tipo de transtorno e grau da doença foram utilizados em todas as 89 mil pessoas ouvidas. Mas o alcance do estudo em cada país foi diferente. No Brasil, por exemplo, 5.037 pacientes da região metropolitana de São Paulo participaram da pesquisa. Na Nova Zelândia, cerca de 12 mil pessoas de diversas regiões do país foram ouvidas.

“O que altera muito os resultados”, admite Maria Carmen Viana, professora do Departamento de Medicina Social da Universidade Federal do Espírito Santos (Ufes) e uma das coordenadoras nacionais da pesquisa.

A Organização Mundial da Saúde calcula que 121 milhões de pessoas sofram com episódios graves de depressão no mundo. Segundo a Pesquisa Mundial sobre Saúde Mental, a doença é uma das principais causas de incapacidade em todo o mundo.

“Os dados epidemiológicos, no entanto, não estão disponíveis em muitos países, em especial os de baixa e média renda, como o Brasil”, esclarece a pesquisadora Carmen. “Por isso é tão importante termos esse tipo de estudo de base populacional.”

Medicamentos e terapia ajudam a levar vida normal

Foi por conta de sintomas como tristeza excessiva, dores fortes de cabeça, fraqueza, desânimo, pensamentos de morte e vontade de ficar sozinha, que a costureira M. T. P, de 48 anos, resolveu procurar ajuda. Antes de fazer isso, contudo, passou três anos sofrendo com a doença, sem tratamento. Chegou a passar por vários exames, mas nenhum deles apontava qualquer alteração.

Até que o clínico geral a encaminhou a um psiquiatra. “Não entendia como os exames não apontavam nada já que a gente sofre fisicamente a doença”, conta a costureira. Passados três anos, ela finalmente recebeu o diagnóstico correto e começou o tratamento com medicações e consultas terapêuticas. Mas não reagiu bem aos antidepressivos. “Era como se eles não tivessem efeito.”

Para descobrir o porquê, no ano passado M. fez parte de uma pesquisa na Universidade de São Paulo (USP) para pessoas que não respondem bem a tratamentos contra a depressão. “Continuava não reagindo bem e eles acharam melhor eu interromper a medicação”, lembra. Meses depois, M. descobriu ser também soro positiva para hepatite C, o que pode ter interferido nas reações à medicação. “Hoje em dia o diagnóstico da depressão está muito banalizado. É preciso ter mais cuidado e critério”, opina.

O técnico em eletrônica A. V., de 36 anos, recebeu o diagnóstico da depressão há um ano e, desde então, tem seguido o tratamento. “Tomo remédios todos os dias e faço psicoterapia uma vez por semana”, conta. “Hoje, sou uma pessoa normal, lido com os meus problemas e a pressão no trabalho de uma maneira equilibrada.”

A.V. lembra, no entanto, que nem sempre foi assim. Até descobrir a doença, ele passou por momentos de muita euforia e depressão profunda, o que dificultava seu relacionamento até mesmo com a família.







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