MARÍLIA MIRAGAIA
DE SÃO PAULO
CAROLINA VILA-NOVA
DE BERLIM
"Parece que servem sopa aqui. Adoro. Ouvi a conversa na outra mesa", diz Bernadete Fonseca, 51, pouco antes de entrar no táxi que a espera, ao lado do marido, na saída da Forneria San Paolo.
Bernadete vê apenas contornos de luz. Sofre de uma doença que a fez perder quase toda a visão. Conheceu Geraldo Fonseca, 53, (cego desde a infância) quando procurava se adaptar --e há quatro anos estão juntos.
Gostam de frequentar restaurantes, mas nem sempre têm facilidade à mesa. Na sexta-feira (27/5), foram à rua Amauri, o badalado endereço gastronômico do Itaim Bibi (zona sul de São Paulo).
Dos 11 restaurantes dali, somente três --entre eles o Parigi-- têm cardápio em braile, como manda a lei.
Acomodados à mesa da Forneria San Paolo, perguntam ao garçom sobre a especialidade da cozinha. O funcionário ensaia a leitura, mas, 15 minutos depois, finaliza poucas descrições.
Ele é interrompido, a cada instante, por perguntas como "Qual o valor desse prato?". O salão está cheio e ele não segue até o fim da lista.
"O menu em braile dá privacidade. Escolho o que dá água na boca e o que posso pagar", diz Bernadete assim que o atendente se vai.
Para atender aos cerca de 148 mil cegos no Brasil (número do IBGE), não é preciso investimentos altos. A transcrição, feita por instituições como a Dorina Nowill, custa R$ 60 por dez páginas.
Ricardo Calabro/Folhapress | ||
O casal Geraldo e Bernadete Fonseca lê cardápio em braile do restaurante Jam Warehouse, na zona oeste de SP |
OUTRO LADO
A Forneria San Paolo afirma que "nunca recebeu deficientes visuais" e que "tampouco tinha conhecimento da lei". Diz nunca ter recebido a fiscalização e que vai providenciar o cardápio adaptado em breve.
Segundo a Secretaria de Coordenação das Subprefeituras, que responde pela vigilância, "a fiscalização ocorre rotineiramente e todos os estabelecimentos da cidade são vistoriados".
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