Especial para o UOL Notícias
No Rio de Janeiro
A Polícia Civil do Rio de Janeiro vai apurar as informações de um homem que teria sido o melhor amigo de Wellington Menezes de Oliveira, o atirador que invadiu a escola municipal Tasso da Silveira, em Realengo, zona oeste do Rio, na última quinta-feira (7) matando 12 alunos. Oliveira também morreu na ação.
O UOL Notícias conversou com o suposto amigo, que aqui será identificado como G.S. Ele afirmou que também foi aluno da escola Tasso da Silveira e que conhecera Wellington em um templo das Testemunhas de Jeová, há cerca de quatro anos. Segundo o rapaz, que é mais velho do que o atirador, eles rapidamente se identificaram pela devoção religiosa e pelo fato de ambos terem sofrido bullying durante os anos nos quais estudaram na unidade educacional.
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Durante a conversa, ele fez pelo menos quatro menções a passagens da Bíblia –como esta dos Coríntios: "Não vos enganeis: as más conversações corrompem os bons costumes"– e também citou pontos abordados na carta deixada por Oliveira, como a questão da pureza.
"Aquele colégio era cheio de garotas ‘fogosas’. O pessoal até achava que eu era gay, pois as meninas chegavam passando a mão e eu me mantive puro, pois a fornicação é condenada pela sagrada escritura", disse G.S.. Na carta de suicídio, o atirador também usou o verbo "fornicar" de forma a condenar a prática sexual.
De acordo com o amigo, o templo que ambos frequentavam ficava em Realengo, mas acabou se transferindo para outro bairro, não identificado, da zona oeste. G.S. contou que ele, Oliveira e outros jovens foram expulsos em 2008 da entidade por uma determinada liderança religiosa, que ele não quis citar o nome. Em tese, eles teriam entrado em conflito com o "superintendente" das Testemunhas de Jeová na região.
"Ele me expulsou porque eu discordava do discurso mentiroso dele, ele queria que eu fizesse tudo o que os anciões mandam. (...) Por isso ele me considera até hoje um inimigo do templo", alegou, novamente sem identificar os envolvidos.
G.S. afirma que a pressão religiosa foi fundamental para a construção da personalidade criminosa de Oliveira. Ele diz que não esperava que o amigo fosse capaz de invadir uma escola e disparar contra crianças, mas afirma que chegou a suspeitar que Oliveira pudesse cometer algum crime, já que formulava ideias terroristas.
O amigo citou ainda o nome de uma suposta seita que o atirador começou a seguir pela internet: "Os 13 Iluminados". O rapaz associou o massacre de Realengo com o atentado terrorista contra as torres gêmeas de Nova York, no dia 11 de setembro de 2001. "Tudo aconteceu no dia 7 de abril [o massacre na escola]; se você somar sete e quatro são 11. Quantas mortes foram confirmadas até agora? 13. Qual é o nome da seita que ele seguia? Os 13 Iluminados. Tudo está ligado", afirmou. Em tese, o criminoso teria queimado o próprio computador para que a seita não fosse investigada. A reportagem tentou saber mais detalhes sobre a suposta seita –que não foi localizada pela internet –, mas G.S. não deu mais informações.
O amigo de Oliveira também chegou a insinuar uma espécie de "justiça" em relação aos seguidores das Testemunhas de Jeová, dando a entender que o massacre em Realengo seria uma resposta "àqueles que se colocam acima de Deus".
O rapaz, que disse trabalhar no meio artístico, não segue religião alguma atualmente, mas explica que, desde que fora expulso das Testemunhas de Jeová, já passou por mais de 15 igrejas diferentes, a maioria evangélica.
G.S. afirma que perdeu contato com Oliveira há cerca de dois anos. O atirador era filho adotivo do casal Guido Bulgana Cubas de Oliveira e Diceia Menezes de Oliveira, e cresceu em Realengo, mesmo bairro da escola que foi palco do massacre. A mãe adotiva, que também era seguidora de Testemunhas de Jeová, morreu há dois anos. Em entrevista à rádio Band News, uma das irmãs de Oliveira, Roselane, de 49 anos, contou que o rapaz estava morando sozinho em Sepetiba há algum tempo.
G.S. diz que chegou a frequentar a casa de Oliveira no período no qual o criminoso morava em Realengo, tendo contato com os familiares. "Ela [mãe adotiva do atirador] me ensinou a fazer cuscuz", relatou.
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Vizinha diz que amigo é “perturbado”
Uma das vizinhas de G.S., que preferiu não se identificar, disse que o rapaz sempre apresentou comportamento estranho. "Ele é perturbado, tão estranho quanto esse Wellington", afirmou.
Segundo esta vizinha, toda a família do rapaz segue as Testemunhas de Jeová e por isso não falaria com ela, que é de outra religião.
Os investigadores do massacre na escola afirmaram que pretendem checar a veracidade das declarações até a próxima semana e passá-las à chefia da Polícia Civil, que dará continuidade ao processo.
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