06 de julho de 2010 • 22h23
Jornalistas lotam a frente do Departamento Geral de Polícia Especializada do Rio, onde o adolescente prestou depoimento
Foto: Douglas Shineidr/Futura Press
As informações prestadas à polícia do Rio de Janeiro pelo adolescente de 17 anos, apreendido na casa do goleiro do Flamengo, Bruno Fernandes das Dores Souza, nesta terça-feira, sobre a morte da estudante Eliza Samudio, são diferentes do que foi apurado pela polícia de Minas Gerais durante as investigações e depoimentos de algumas das mais de 30 testemunhas ouvidas.
Uma fonte da polícia do Rio de Janeiro, que ouviu o depoimento do jovem afirmou, que o adolescente disse que Eliza está morta. Ele teria confirmado, ainda, que deu uma coronhada na mulher, de 25 anos, que teria um filho com o jogador. Para agredir Eliza, o jovem teria usado uma arma de Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, amigo do Bruno e um dos principais investigados pela polícia no caso.
De acordo com a fonte policial, durante o depoimento, o jovem teria entrado em contradição, e algumas das informações seriam diferentes do que foi apurado pela Polícia de Minas Gerais. O jovem deve ser acusado por sequestro e será transferido para o juizado de menores ainda hoje.
A apreensão do adolescente ocorreu depois que a polícia recebeu uma denúncia de um tio do menor para uma rádio, dizendo que ele estava escondido na casa de Bruno, no Recreio. Ao ouvir o relato, a polícia de Minas entrou em contato imediatamente com a Delegacia de Homicídios, que conseguiu apreender o menor.
De acordo com o tio, Eliza teria sido enganada por Macarrão e levada para um "passeio de carro". O adolescente estaria escondido no banco de trás do Land Rover do atleta. A testemunha disse que ouviu do adolescente que Bruno pagou R$ 3 mil para um homem chamado Cleiton entregar o corpo a um traficante e sumir com o cadáver. "A menina foi desossada ali. Está enterrada, o garoto sabe e a hora que pressionarem ele conta tudo. Eles enterraram os ossos da garota e concretaram tudo", disse o motorista.
A polícia de Minas quer esclarecer em que data que Eliza teria sido morta, se isso realmente aconteceu. No depoimento prestado aos policiais cariocas, o garoto, que seria primo de Bruno, teria afirmado que feriu Eliza no dia 5 de junho, dentro do jipe Land Rover quando ela estaria sendo trazida do Rio de Janeiro para o sítio do atleta em Esmeraldas, na região metropolitana de Belo Horizonte. No carro estariam o jovem, Eliza, o bebê de 4 meses, e Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, amigo de Bruno. Eliza não teria morrido pela coronhada, mas o rapaz não soube explicar as circunstâncias do óbito.
Entretanto a polícia mineira afirma ter provas de que Eliza esteve no sítio do jogador entre os dias 6 e 9 de junho. A primeira é o depoimento de uma testemunha que diz ter visto Eliza no dia 8 tomando sol com Bruno e outros dois amigos na piscina da propriedade. A mulher, que trabalha em uma casa no Condomínio Turmalina foi localizada pelo Terra e afirmou, com exclusividade, que não tinha dúvidas da passagem da ex-amante de Bruno pelo local.
"Depois que eu vi a foto dessa menina na televisão, não tenho dúvidas: é ela mesmo. No dia ela vestia um short jeans e uma camiseta branca e estava na área da piscina com o Bruno e mais dois amigos", disse a testemunha, que depois da entrevista também foi localizada pela polícia e confirmou a informação em depoimento.
A segunda prova que a equipe liderada pelo chefe do Departamento de Investigação de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DIHPP), Edson Moreira, diz ter é uma suposta ligação telefônica realizada por Eliza no dia 9 de junho. O delegado Wagner Pinto, chefe da Delegacia de Homicídios de Belo Horizonte, confirmou que a ligação foi verificada a partir da quebra do sigilo telefônico de Eliza.
"Ela teria ligado para uma amiga em São Paulo e afirmado que estaria na região de Betim (cidade vizinha à Esmeraldas) e que estaria bem", disse. Policiais visitaram hotéis da cidade e não localizaram qualquer vestígio da passagem de Eliza pela região.
A terceira prova é, para a polícia, a mais intrigante. Elenilson Vítor, irmão de criação de Macarrão, e um dos caseiros do sítio de Bruno teria afirmado que Eliza e o filho ficaram em um quarto da propriedade entre os dias 6 e 8 de junho.
Vítor disse, inclusive, no seu segundo depoimento na madrugada da quinta-feira passada, que era ele o responsável por levar comida para mãe e filho no quarto. Além de Vítor, pelo menos outras cinco pessoas foram intimadas a prestar depoimento novamente por ter, supostamente mentido, ou dado declarações que levantaram dúvidas após o surgimento de novas evidências.
Um dos homens apontados pelo adolescente, ouvido hoje no Rio, como o responsável pelo sumiço do corpo de Eliza, após ela ter chegado ferida a Minas Gerais, seria Cleiton da Silva Gonçalves, 22 anos. Segundo o boletim de ocorrência registrado pela Polícia Militar de Contagem, no dia 8 de junho, era ele quem dirigia o jipe Land Rover de Bruno quando o carro foi apreendido em uma blitz por estar com impostos atrasados.
No veículo foram encontradas manchas de sangue humano, segundo laudo do Instituto de Criminalística a Polícia Civil. O órgão deverá divulgar nesta quarta-feira o resultado do exame de DNA feito a partir do sangue encontrado no carro e que está sendo comparado com o material genético colhido na saliva do pai de Eliza, Luiz Carlos Samudio, do filho dela, Bruno Samudio, e da mãe dela, Sônia Fátima Moura, que chegou na noite desta quarta-feira a Belo Horizonte.
Teria sido Cleiton também quem, em 10 de junho, dia que houve uma partida de futebol no sítio de Bruno, teria comentado com uma pessoa uma frase que foi repetida em depoimento por uma testemunha: "Aquela lá é passado, não vai dar problema mais", se referindo possivelmente à Eliza.
Cleiton da Silva Gonçalves já foi ouvido na Delegacia de Homicídios de Contagem, na semana passada, e negou envolvimento no desaparecimento de Eliza. O carro dele, uma Blazer cor branca, está no Instituto de Criminalística da Polícia Civil sendo periciada desde segunda-feira.
Macarrão seria a segunda pessoa que estaria presente no suposto dia do crime. O advogado dele, Ércio Quaresma, afirmou nesta terça-feira que o depoimento do adolescente à polícia do Rio de nada valia e classificou como "fantasiosa" a história contada por ele, de que o corpo teria sido jogado a um cachorro da raça Rotweiller.
O delegado Édson Moreira afirmou que até sexta-feira deverá ouvir o goleiro Bruno, Macarrão, e um primo do atleta. A mulher de Bruno, que foi indiciada pela polícia pelo crime de subtração de incapaz, por ter, segundo testemunhas, tentado esconder o filho de Eliza, vai prestar depoimento no DIHPP às 14h desta quarta-feira.
O caso
Eliza está desaparecida desde o dia 4 de junho, quando teria saído do Rio de Janeiro para Minas Gerais a convite de Bruno. No ano passado, a estudante paranaense já havia procurado a polícia para dizer que estava grávida do goleiro e que ele a teria agredido para que ela tomasse remédios abortivos para interromper a gravidez. Após o nascimento da criança, Eliza acionou a Justiça para provar a suposta paternidade de Bruno.
No dia 24 de junho, a polícia recebeu denúncias anônimas dizendo que Eliza teria sido espancada por Bruno e dois amigos dele até a morte no sítio de propriedade do jogador, localizado em Esmeraldas, na Grande Belo Horizonte. Durante a investigação, testemunhas confirmaram à polícia que viram Eliza, o filho e Bruno na propriedade.
Na noite do dia 25 de junho, a polícia foi ao local e recebeu a informação de que o bebê apontado como filho do atleta, de 4 meses, estaria lá. A atual mulher do goleiro, Dayane Rodrigues do Carmo Souza, negou a presença da criança na propriedade. No entanto, durante o depoimento dos funcionários do sítio, um dos amigos de Bruno afirmou que ela havia entregado o menino na casa de uma adolescente no bairro Liberdade, em Ribeirão das Neves, onde foi encontrado. Por ter mentido à polícia, Dayane Souza foi presa. Contudo, após conseguir um alvará, foi colocada em liberdade. O bebê foi entregue ao avô materno.
O goleiro do Flamengo e a mulher negam as acusações de que estariam envolvidos no desaparecimento de Eliza e alegam que ela abandonou a criança.