É… Terão os petistas pesquisas instantâneas de opinião a indicar que a violência retórica, o terrorismo eleitoral e a demagogia fazem bem à candidatura de Dilma Rousseff? Só isso explicaria o que parece ser um destrambelhamento da ex-ministra, iniciado já em 1º de Abril, dia seguinte à sua saída do governo. Dilma parece desesperada para dizer que existe, embora o seu discurso de despedida tenha provado que não. O sentido geral de sua mensagem, como está claro, é o confronto entre o governo Lula, de que ela seria procuradora, e o governo FHC, de que Serra seria continuador — coisa que é não só mentirosa, mas, parece, inverossímil também.
Se Dilma não faz questão de ter vaidade intelectual ou política diante de Lula; se não tem a menor disposição de ao menos demonstrar que é capaz de ter uma idéia própria de vez em quando, ela vem compensando essa falta de originalidade com a ofensa e a agressividade gratuitas. E notem que a corrida mal começou; os adversários ainda estão se ajeitando na pista. E ela já se mostra decidida a fazer manobras arriscadas. O que estará dizendo, sei lá, em julho, daqui a quase quatro meses, quando estaremos ainda a três das eleições?
Ontem, ela voltou à carga, aí em solenidade patrocinada pelo PC do B, que decidiu oficializar o apoio à sua pré-candidatura. De novo, lá veio aquela metáfora do “lobo em pele de cordeiro” para se referir à oposição. Ela deve ter achado essa idéia danada de boa. E se emocionou ao falar sobre a… guerrilha do Araguaia, promovida justamente pelo PC do B.
Demonstrando, mais uma vez, que o “protesto” dos sindicalistas da Apeoesp, em São Paulo, era parte de uma estratégia eleitoral dos petistas para atacar José Serra, afirmou que, se eleita, jamais colocará “a polícia na rua para bater em professores”. E acusou a oposição de querer “acabar com tudo o que está sendo feito”.
Eis o que estou chamando de terrorismo, demagogia e violência retórica.
O “lobo em pele de cordeiro”, como é evidente, sugere um discurso falso, que busca ocultar a verdadeira natureza do seu emissor. Quem parece mais ajustado a esse figurino? O candidato do PSDB ou uma petista se ajoelhando no túmulo de Tancredo Neves? A revisão sentimental da guerrilha do Araguaia expõe as vinculações intelectuais de Dilma com um movimento que procurou, a exemplo dela própria (atuou em outras organizações), instituir uma ditadura no Brasil. E isso não lustra as convicções democráticas da pré-candidata. A referência aos professores é provocação barata. Até porque não seria mesmo o governo federal a reprimir coisa nenhuma, mas a Polícia Militar, a exemplo do que fez a do DF no dia 25 de março, quando estudantes, professores e funcionários em greve da UnB tentaram invadir o Centro de Convenções Banco do Brasil, sede provisória do governo federal. Algumas pessoas saíram feridas. A propósito: o Ministério da Educação se nega a negociar com os manifestantes enquanto a greve não acabar. Mais: em São Paulo, está devidamente documentado em vídeo, foram os queimadores de livros de Bebel que partiram para cima da polícia. Dos 20 feridos, 10 eram policiais.
Dilma, como se vê, não está apenas fazendo o discurso do confronto rasteiro. Está também incentivando a pior prática possível do sindicalismo — desde que o alvo seja seu adversário. Deixa entrever a suspeita de que, para vencer a disputa, vale rigorosamente tudo, o que inclui enveredar para a desordem de rua, a greve política e, como exposto em outro post, a manipulação eleitoreira dos sindicatos.
E fica uma questão: se esse é o jogo que conseguimos ver, comos será aquele que se exerce longe dos olhos do público, com um governo que tem, para punir seus adversários, a caneta e, para beneficiar os aliados, uma montanha de dinheiro? Eis o governo republicano de Lula.