Um sujeito que se identifica como Ivaldo Gomes da Silva envia um comentário ao blog. Ele se assina “presidente do Diretório Municipal do PT de Goiatuba” e “professor da FAFICH”. A Fafich é aquela faculdade em que um grupo de formandos convidou Delúbio Soares para ser paraninfo — o que se deu mediante um pagamento de R$ 6 mil. Atenção! Delúbio PAGOU, não recebeu. Pagou e conferiu uma palestra sobre “ética na política”. Depois de rolar de rir, leitor, volte ao texto.
A VEJA noticiou o caso, e eu publiquei um post com a reportagem. Não é que o tal Ivaldo tem o topete de enviar um texto cheio, digamos assim, de moral? Está ofendidíssimo!!! Sei lá do que esse cara dá aula. O que sei é que este “professor universitário” é tão bom no manejo da língua e da lógica quanto Delúbio é no manejo da ética.
O bruto é capaz de cometer coisas como esta:
“1) A escolha do Paraninfo é uma questão que diz respeito aos alunos, e que a direção, a Presidência da Mantedora e os professores não interferem nas escolhas feitas pelos alunos por respeitar a liberdade coletiva, base de nossa Constituição e desta Instituição de Ensino de Superior.”
Eu não o contrataria para anotar recados. Como ele achou que não tinha barbarizado a língua o suficiente, continuou:
“Lembre-se, ainda que as decisões dos alunos não refletem as opiniões do colegiado de educadores, antes, tais escolhas e opiniões são o resultado de toda a formação recebida, da cultura política, formação esta na qual a Revista Veja também é largamente responsável, pois é uma revista amplamente lida na região.”
Ivaldo envia seu texto “enquanto professor da Instituição e Presidente do Partido dos Trabalhadores de Goiatuba”. Como é que é? Eu diria que, como professor e usuário da lógica, ele é um petista, mas, como petista, ele não consegue, por óbvio, ser professor e usuário da lógica. Não sei se me faço entender…
Falando, segundo entendo, em nome de seus colegas (professores) e da faculdade, ele resolve filosofar sobre o mensalão — sempre naquela língua que chega a lembrar o português de vez em quando:
“Nós educadores não precisamos ter a mesma opinião que a Revista Veja sobre a questão do Mensalão, e que a Faculdade, sim, procura manter os alunos a par de todas as discussões políticas nacionais, estaduais e regionais. Temos um entendimento sobre o mensalão bem mais amplo que a Revista Veja. Não achamos que a criminalização das pessoas que são acusadas de praticarem atos semelhantes (financiamento de campanha com dinheiro não contabilizado), venha resolver os problemas de corrupção de nosso país, antes, tal questão passa por uma ampla reforma política, e uma mais ampla ainda reforma social que combata com ainda mais rigor a pobreza em nosso país.”
Ignore, leitor, a vírgula entre o sujeito e o verbo e preste atenção à vírgula ética que separa Ivaldo da decência. Vejam como ele transforma o crime do “companheiro Delúbio” num crime coletivo. Em seguida, reflete sobre o estado de direito e as “modernas democracias” (!):
Nas Modernas Democracias Ocidentais, as Constituições que regem as ações e as relações entre Estado, Justiça e a sociedade garantem a mais ampla defesa para o acusado. O sujeito social, assim, apenas e tão somente só é culpado após o processo ser transitado e julgado. Dessa forma, a instituição responsável pela condenação de algum réu é prerrogativa do Poder Judiciário e não de segmentos isolados e sectários ideológicos.
Que competência! Que destreza! Que bailarino da língua! Quanto saber jurídico! Para ele, um processo “é transitado e julgado”. E o que dizer desta construção: “a instituição responsável pela condenação de algum réu é prerrogativa do Poder Judiciário”?
Lembrem-se que isso é linguagem escrita, hein? Ele tomou especial cuidado ao se expressar. Imaginem isso falando… Imaginem essa salada de conceitos mal-digeridos — ou cuja digestão começou pelo pólo oposto — sendo expelida em sala de aula…
Aí Ivaldo faz algumas acusações bucéfalas e resolveu falar em nome de toda “a região”. O que eu tenho a dizer a ele? Em primeiro lugar, que vá se alfabetizar — moral e gramaticalmente; assim, quem sabe aprenda a se expressar com clareza e pare de justificar o crime. Em segundo lugar, que seja mais respeitoso com seus colegas e com a faculdade: pediu licença para falar em nome deles? Em terceiro lugar, que não se considere “representante” de uma região, já que ninguém o elegeu para tanto.
Por que este texto? O cara enviou o comentário. Decidi ignorar porque nunca publico textos que justificam o crime, como ele faz ao tratar do mensalão. Ivaldo insistiu e mandou outro cobrando a publicação do primeiro. Achou a sua obra tão boa que fez questão de vê-la no blog. Eu procurei poupá-lo de si mesmo. Ele não quis.
Agora entendi como os alunos chegaram a Delúbio. Pobre Fafich! Parece ser refém do sr. Ivaldo e dos petistas. Se não é, tem de botá-lo na rua. Quando menos porque um comentário analfabeto como o que ele me envia depõe gravemente contra a instituição. E isso não é bom para ninguém. Nem para os alunos, que também estão sendo desrespeitados.