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sábado, 16 de janeiro de 2010

Desespero e caos assolam Haiti quatro dias após terremoto; violência aumenta


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da Folha Online

O Haiti se encontra envolvido no caos após o terremoto que devastou o país e enfrenta problemas de logística para que a assistência chegue aos afetados. Os haitianos de Porto Príncipe, desesperados e cansados de esperar por auxílio e depois de quatro noites dormindo ao relento e entre os cadáveres, começam a deixar a capital ou a saquear comércios e casas, aumentando o risco de atos de violência.

O principal problema para a entrega é logístico. A infraestrutura do país já era precária antes de terremoto, e agora quase inexiste. Um exemplo claro disso é o aeroporto internacional da cidade, que não consegue suportar a quantidade de aeronaves que querem pousar para entregar mantimentos e equipes de resgate de diversos países.


Além disso, há uma grande dificuldade de fazer chegar as provisões a quem precisa, segundo informou o conselheiro da Casa Branca sobre os esforços humanitários do Haiti, Tim Callaghan.

Um exemplo deste problema ocorreu hoje no Estádio Delmas, onde acampam mais de 2.000 pessoas. Um jornalista da agência France Presse constatou que um helicóptero americano tentou distribuir alimentos no local, o que gerou um grande tumulto. Eles tentaram pousar no local, mas os haitianos não abriam espaço. Um soldado começou então a lançar os alimentos, o que gerou o tumulto.

Para membros da ONU no Haiti, a violência aumentará caso a ajuda humanitária não chegue logo nas mãos dos moradores de Porto Príncipe. Porém, ressaltam que 'por enquanto' a lei e a ordem estão sob controle, embora haja exceções.

Orlando Barría/Efe
Pessoas saqueiam lojas em região comercial de Porto Príncipe, devastada por tremor; milhares de pessoas morreram na tragédia
Pessoas saqueiam lojas em região comercial de Porto Príncipe, devastada por tremor; milhares de pessoas morreram na tragédia

Segundo um fotógrafo da agência de notícias Reuters, homens com pedras, facas e martelos disputavam camisetas, sacolas, brinquedos e quaisquer outros itens que pudessem pegar em casas e lojas destruídas. Segundo ele, a polícia que lá estava antes não era mais vista em parte alguma.

Em outra ação, centenas de pessoas saquearam uma área repleta de armazéns comerciais atingidos pelo terremoto que se localiza no centro de Porto Príncipe. Diante da presença de membros da ONU e da polícia, que não intervieram em nenhum momento, a multidão se limitava a esperar que os agentes passassem para voltar a se embrenhar entre os escombros e retirar os produtos armazenados ainda aproveitáveis. Pelo menos cinco pessoas foram até a polícia para denunciar que grupos de assaltantes, alguns armados com paus, tinham roubado seus pertences, aproveitando a confusão do momento.

Apesar do risco de pegarem doenças ou de serem soterrados por edifícios prestes a desmoronar, os haitianos se aventuram entre os cadáveres e os edifícios para buscar água, comida ou bens para revender. Muitos, diante da realidade, se converteram em ladrões.

"Roubam qualquer coisa. De valor ou não. É uma loucura. Nossa ordem é apenas de afastá-los. Não podemos disparar", disse Louis Jean Eficien, oficial da polícia haitiana. "Há muita gente armada e as ruas estão cheias de delinquentes porque todos os presos escaparam", acrescenta outro policial.

Em um grande supermercado quase destruído do bairro rico de Petion Ville, as escavadeiras trabalhavam esta tarde para retirar escombros, observados por centenas de jovens que esperavam que as máquinas abrissem um buraco para entrarem e pegarem algumas das riquezas de suas estantes cheias. Só a presença da polícia armada os impedia de se aproximarem mais.

Enquanto isso, a polícia se postou em alguns cruzamentos importantes ou junto aos postos de gasolina, e começou tímidas patrulhas por algumas avenidas principais.

Em uma dessas patrulhas, a polícia resolveu agir com mais força contra saqueadores. Ela atirou para o ar, empurrou pessoas para o chão e eventualmente chutavam os que eram detidos.

Hillary

Em meio ao aumento da tensão, o país caribenho recebeu hoje a visita a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, a primeira autoridade do primeiro escalão do governo americano a ir ao Haiti.

Ela afirmou que seu país é "amigo e sócio" do Haiti e prometeu continuar ajudando nas tarefas de resgate e reconstrução do país, em coordenação com o governo local. Hillary também garantiu que as forças americanas ficarão no local "hoje, amanhã e previsivelmente no futuro."

Larry Downing/Reuters
Presidente Barack Obama (centro) anuncia fundo para vítimas do tremor no Haiti criado por Bill Clinton (esq.) e George W. Bush (dir)
Presidente Barack Obama (centro) anuncia fundo para vítimas do tremor no Haiti criado por Bill Clinton (esq.) e George W. Bush (dir)

A secretária destacou ainda que havia conversado com Préval sobre a necessidade de restabelecer as comunicações, assim como os serviços de eletricidade e transporte. Estados Unidos e Haiti emitirão amanhã um comunicado conjunto que delineará as tarefas básicas para a reconstrução do país.

Já o presidente americano, Barack Obama, disse que o terremoto no Haiti originou "uma das maiores operações de socorro" da história dos EUA. Hoje ele se reuniu com os ex-presidentes George W. Bush e Bill Clinton e anunciou a criação do "Fundo Clinton-Bush", que será comandado pelos dois e terá a missão de arrecadar doações para os haitianos.

Tragédia

O terremoto aconteceu às 16h53 desta terça-feira (19h53 no horário de Brasília) e teve epicentro a 15 quilômetros de Porto Príncipe, a capital do país.

Ainda não há um dado preciso sobre o número de mortos. A Organização Pan-americana de Saúde, ligada à ONU, diz que pode ter morrido cerca de 100 mil pessoas. Já o Cruz Vermelha estima o número de mortos entre 45 mil e 50 mil. Nesta sexta-feira, governo do Haiti afirmou estimar em 140 mil o total de vítimas.

Mais de 25 mil corpos de vítimas já foram enterrados, declarou neste sábado o primeiro-ministro haitiano, Jean-Max Bellerive. "Vinte mil corpos foram oficialmente retirados pelo Estado, sem contar aqueles retirados pela Minustah [missão de paz da ONU no Haiti], pelas ONGs e pelos voluntários, que somam por volta de 5.000 a 6.000", declarou.

Segundo o ministro da Defesa, Nelson Jobim, 17 brasileiros morreram no país --14 militares e mais três civis, entre eles a médica Zilda Arns e o chefe-adjunto civil da missão da ONU no Haiti, Luiz Carlos da Costa. O corpo de Costa foi encontrado hoje.

Mais 16 militares brasileiros ficaram feridos no terremoto. Eles chegaram ao Brasil ontem, e desde então estão internados no Hospital Geral do Exército, em São Paulo, para um período de quarentena.

Com agências internacionais.




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