Publicada em 24/09/2009 às 00h47m
Ricardo GalhardoSÃO PAULO. Abrigados desde segunda-feira na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa, simpatizantes do presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, recusaram-se a dividir a comida recebida de organismos internacionais com os funcionários brasileiros da representação diplomática. Segundo relatos, as tropas golpistas sitiaram a embaixada e proíbem a entrada de mantimentos.
- A ONU mandou alguma comida para a embaixada e quem recebeu foi o pessoal do presidente Zelaya. Como ninguém nos ofereceu comida, fomos pedir a um auxiliar de Zelaya, mas ele disse que a comida era só para eles (hondurenhos) - disse Isabel Cabral, funcionária da embaixada brasileira que mora há 30 anos em Honduras.
Até terça-feira havia 16 funcionários na embaixada. Doze foram retirados na terça-feira à noite com ajuda da Embaixada dos Estados Unidos, que forneceu pessoal de segurança e um micro-ônibus. Na representação diplomática ficaram apenas o encarregado de negócios, Francisco Catunda, único diplomata brasileiro em Honduras, um técnico em comunicações também brasileiro, um motorista e um mecânico, ambos hondurenhos.
As tropas da polícia e do Exército que sitiaram a embaixada desde terça-feira de manhã não permitem o acesso à representação diplomática brasileira.
-Tentamos levar comida e algumas vestimentas para o nosso pessoal, que está desde segunda-feira só com a roupa do corpo, mas fomos impedidos de passar - disse Isabel.
Segundo ela, o jeito foi mandar um "saquinho" com comida por meio de um vigia.
- A empresa de segurança que presta serviços para a embaixada conseguiu autorização para trocar o guarda. Aproveitamos para mandar um saquinho com comida - relatou Isabel.
Além disso, ela procurou uma das filhas de Zelaya para pedir que os hondurenhos compartilhem a comida com os brasileiros.
- Conheci uma das filhas do presidente e liguei para ela, pedindo para dividirem a comida que a ONU e a Embaixada dos EUA estão mandando. Ela ficou horrorizada ao saber que os brasileiros não recebiam comida e ia falar com o pai. Acho que agora a situação deve estar resolvida - contou.
Depois de passar dois dias presa na embaixada, Isabel não encontrou uma situação muito melhor nas ruas de Tegucigalpa ontem.
- Houve saques a supermercados e a uma loja de eletrodomésticos. Nas lojas de comida é impossível comprar qualquer coisa pois tem muita gente - contou.
Funcionários da embaixada acreditam que depois de ter cortado as linhas de telefonia fixa da embaixada, o governo golpista teria instalado dois bloqueadores de celular em casas vizinhas à representação diplomática do Brasil em Tegucigalpa.
- Os celulares só pegam em alguns lugares da casa - disse Isabel.
A também brasileira Diacuy Mesquita, mineira de Governador Valadares que se casou com um hondurenho e vive há 32 anos em Tegucigalpa, fez um relato da situação.
- A cidade está um caos. É a única forma de explicar. O governo levantou o toque de recolher por algumas horas ontem à tarde e o caos ficou ainda maior. Todo mundo saiu para comprar. Os postos de gasolina também ficaram impraticáveis. Os bancos abriram por poucas horas e as filas eram enormes, ninguém conseguia sacar dinheiro. Escola e trabalho não existem. Ninguém faz mais nada aqui - resumiu Diacuy.
Consultora que presta serviços a programas sociais em várias áreas do país, Diacuy viu de perto as principais calamidades que atingiram Honduras nas últimas três décadas, na maior parte furacões, mas está impressionada.
- É a primeira vez que vejo o país deste jeito. Nem nos furacões esteve tão ruim. A sociedade está dividida entre os que apoiam Zelaya e os golpistas. Nos furacões havia solidariedade. Agora não porque as pessoas estão em lados opostos.Palácio do Congresso Nacional - Praça dos Três Poderes
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