22/09/2009
Esse negócio de liderança regional geralmente custa caro e às vezes dá um trabalhão. É o caso, agora, quando o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, entre tantas opções, decide escolher justamente a Embaixada do Brasil em Tegucigalpa para dali ficar cutucando o governo golpista de Roberto Michelleti.
Pelas versões em Brasília, Zelaya tramou toda a volta com o super-aliado Hugo Chávez, da Venezuela, mas só comunicou ao principal interessado -- o governo brasileiro -- depois do fato consumado. Ou seja: ele literalmente mandou uma deputada zelaysta bater à porta da embaixada, pedindo refúgio.
Zelaya não apenas se aboletou na Embaixada, que é território estrangeiro e, portanto, inviolável, como levou a mulher e algo em torno de 70 amigos, assessores, aliados, curiosos. E o clima parece estar irrespirável. Imagine só essa gente toda trancada, depois que Michelleti mandou cortar água, luz e telefone, num cerco que é para Zelaya, mas que atinge a integridade da embaixada.
Para piorar o clima, a embaixada estava acéfala desde que o embaixador de fato, Brian Neele, foi chamado de volta ao Brasil como protesto contra o golpe. O responsável é o encarregado de Negócios, ministro-conselheiro Francisco Catunda Resende, e eu não queria estar na pele dele.
Uma das providências foi liberar os funcionários locais, para que eles não sejam alvos de retaliações dos golpistas. Mas são justamente esses funcionários que cuidam, por exemplo, da limpeza. Sem água e sem limpeza...
Lula, que está em Nova York, ligou para Zelaya pedindo bom-senso e que evite provocar a onça com vara curta. Pedir pode, cumprir é que são elas. Zelaya é do tipo provocador e estava adorando aquelas milhares de pessoas em volta da embaixada, a favor dele. Elas fora afastadas por militares, inclusive aos socos e tapas, de madrugada.
Se o clima dentro já está fedendo, imagine-se como pode ficar do lado de fora. E Zelaya não pode se mexer. Com mandado de prisão decretado pela Justiça, o risco é botar o pé fora e ir para direto na cadeia.
Líder e símbolo de equilíbrio, o Brasil está com uma batata quente de bom tamanho nas mãos.
Eliane Cantanhêde é colunista da Folha, desde 1997, e comenta governos, política interna e externa, defesa, área social e comportamento. Foi colunista do Jornal do Brasil e do Estado de S. Paulo, além de diretora de redação das sucursais de O Globo, Gazeta Mercantil e da própria Folha em Brasília. E-mail: elianec@uol.com.br |
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