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domingo, 16 de novembro de 2008

A nova ciência da ressuscitação

Médicos preparam mudanças no socorro às vítimas de parada cardíaca para salvar mais vidas

Mônica Tarantino

Método diferente Timerman usa boneco para mostrar ação de massageador cardíaco

A cada ano, o coração de 450 mil americanos e 260 mil brasileiros pára repentinamente de bater. A média mundial de sobrevivência a essa falha, conhecida como parada cardíaca, fica em torno de apenas 3%. O pouco sucesso em reanimar esses pacientes tem feito os cientistas pensar no que ainda falta descobrir para trazê-los de volta das fronteiras da morte com maior eficiência. "Precisamos achar novos caminhos para salvar mais vidas", disse à ISTOÉ Lance Becker, diretor do Penn's Centro de Ciência da Ressuscitação, na Universidade da Pensilvânia. No sábado 8, nos Estados Unidos, serão apresentados os últimos avanços nesse campo durante uma reunião agendada no congresso anual da Associação Americana de Cardiologia. O objetivo é discutir as novas regras de atendimento que serão divulgadas em 2010 pelo Comitê Internacional de Ressuscitação.

Mudanças serão feitas em pontos importantes. Uma delas é em relação à ventilação artificial. Hoje, o suporte é dado o mais rápido possível. Em dois anos, será usado somente se o indivíduo manifestar insuficiência cardíaca ou continuar inconsciente até dez minutos após a parada. A alteração se deve a um achado recente - e surpreendente - feito pelo médico Becker. Ele descobriu que as células do cérebro e do coração - as primeiras atingidas pela falta de circulação sangüínea nos minutos seguintes a uma parada - não morrem em quatro ou cinco minutos pela privação do oxigênio levado pelo sangue, como se acreditava. Ao contrário, elas continuam vivas por mais de uma hora e só deixam mesmo de funcionar quando o suprimento de oxigênio é reiniciado.

A explicação para o fenômeno é que as grandes doses de oxigênio fornecidas abruptamente inundam rápido demais as células já vulneráveis com nutrientes que podem acelerar sua degeneração e morte. "Por isso, os novos métodos de socorro prevêem o abastecimento de oxigênio de modo gradual e nos casos indicados", afirma Sérgio Timerman, diretor do Instituto do Coração (InCor) e das Escolas de Ciências da Saúde da Faculdade Anhembi Morumbi e membro do Comitê Internacional de Ressuscitação.

A respiração boca a boca também terá uso restrito. Há trabalhos provando que é melhor fazer a massagem cardíaca ritmada e contínua nos primeiros minutos do que interrompê-la para o boca a boca. Isso porque os movimentos ajudam a retomada da circulação de um modo mais fisiológico. Por causa dessa constatação, começam a surgir os primeiros aparelhos de massagem cardíaca, como o Autopulse. Ele se ajusta ao peito do paciente e faz o movimento em ritmo cadenciado e na pressão correta. Usada na Europa, a novidade está sendo avaliada pelo médico Timerman.

"Baixar temperatura corporal ajuda a preservar células"
Karl Kern, Universidade do Arizona

Em um futuro próximo, após o primeiro socorro o paciente poderá ser tratado com hipotermia, que corresponde a baixar a temperatura corporal de 36,5ºC para 30ºC a 32ºC. Dessa maneira, diminui-se o metabolismo das células, especialmente as do cérebro. É uma forma de reduzir danos a seu funcionamento. "O ideal é que os hospitais comecem a oferecer este método", afirmou à ISTOÉ Karl Kern, da Universidade do Arizona, Estado em que estão sendo criados centros com esse recurso. No Brasil, instituições de renome começam a se preparar para isso. No ano que vem, por exemplo, o InCor iniciará testes com a técnica.







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