Publicada em 16/09/2008 às 10h26m
O GloboBRASÍLIA e SALVADOR - A ficha de inscrição para o próximo vestibular da Universidade Federal da Bahia (UFBA) pede aos candidatos que indiquem a sua etnia e oferece uma série de opções para os estudantes, mas não cita a raça branca. Quem se considera branco, portanto, deve marcar a categoria "outras". As demais opções listadas no formulário são: "preto", "pardo", "índio descendente", "aldeado" (no caso de índios que vivem em aldeias) e "quilombolas".
O pró-reitor de Ensino de Graduação da UFBA, Maerbal Marinho, disse que a omissão da raça branca tem caráter meramente operacional. Isso porque, segundo ele, a ficha lista apenas as etnias beneficiadas pelo sistema de cotas da universidade, que reserva 45% das vagas para estudantes de escolas públicas, com subcotas para os autodeclarados negros e índios.
Militante negro se diz surpreso com medidaDiferentemente de outras instituições de ensino, argumentou Maerbal, os candidatos no vestibular concorrem pelo sistema de cotas automaticamente. Para isso, basta que assinalem uma das cinco opções beneficiadas pela reserva de vagas na inscrição via internet.
- As etnias que constam no formulário correspondem às que concorrem a uma das vagas no sistema de cotas. É assim desde 2005.
" Inconsciente ou conscientemente, a universidade está levando quem é euro-descendente a fazer a experiência de não se ver refletido "
A falta de uma opção específica para candidatos brancos surpreendeu frei David Santos, fundador da Educafro, rede de cursos pré-vestibulares para negros e pobres.
- O ideal é que o sistema de informática da universidade colocasse todas as opções. Se não colocou, eu gostaria de ouvir o reitor da universidade. Isso merece um debate - afirmou frei David, ressalvando que desconhece detalhes do sistema de inscrição no vestibular da universidade baiana.
Para ele, no entanto, a omissão serve para que os candidatos brancos sintam na pele a exclusão a que pretos e pardos são submetidos no país:
- Inconsciente ou conscientemente, a universidade está levando quem é euro-descendente a fazer a experiência de não se ver refletido, a exemplo do que sofre e sofreu a comunidade indígena e negra em vários setores da sociedade brasileira.
O pró-reitor, no entanto, rejeita qualquer interpretação de racismo às avessas. Ele destacou que os candidatos devem preencher um questionário socioeconômico que registra outras opções étnicas, incluindo a branca.
- Só está destacado quem tem direito às cotas. Se eu botar brancos, alguém pode dizer que é asiático e reclamar, assim como um índio americano e por aí vai. Onde a gente acabaria essa lista? - afirmou Maerbal.
UFBA reserva 45% de vagas para alunos de rede públicaA UFBA reserva 45% de suas vagas no vestibular para egressos da rede pública, sendo que 2% vão para descendentes de índios e os demais 43% seguem a seguinte lógica: 80% dessas vagas são preenchidas por autodeclarados pretos e pardos e os demais 20% para outras etnias.
A vestibulanda Laine Lima dos Santos, de 22 anos, que assinalou a opção "parda" na ficha eletrônica, disse que a omissão pode fomentar um preconceito ao contrário:
- Acho errado que não tenha a opção branca no formulário, porque existem pessoas que têm pais europeus, são brancas e não podem explicitar sua etnia. Acho importante a valorização do afro-descendente, mas isso não pode gerar preconceito às avessas.
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