Está tudo ao contrário. Antigamente, era o stablishment que queria controlar a liberdade sexual. Agora é a liberdade sexual que quer enquadrar o stablishment.
Esse projeto de lei que o Senado vai votar, criminalizando atos de preconceito contra os gays, não poderia ser mais preconceituoso.
Pelas novas regras propostas para a vida em sociedade, se um proprietário não alugar seu imóvel para um homossexual, por exemplo, pode ir preso. O motivo pode até ter sido a falta de confiança no fiador, mas o inquilino recusado poderá alegar que foi discriminado por sua opção sexual.
E por aí vai, com desdobramentos igualmente autoritários para seleção profissional, tratamento na rua etc. Chamar um sujeito burro de “jumento” pode. Chamar um gay de “bichona” vai dar cadeia. A ditadura politicamente correta ainda vai te mandar tratar cachorro vira-latas de sua excelência.
Esse virtuosismo estúpido quer que negros tenham matrículas raciais nas universidades – o que é, por si só, humilhante e discriminatório. Em vez de afirmar culturalmente o quanto é sadia a liberdade sexual e afetiva, cria-se uma mordaça para reprimir os retrógrados. Moralismo combatido com moralismo.
Por que o pinguço é no máximo um inconveniente, e o maconheiro tem aura de bandido? De novo, por obra e graça do moralismo das leis.
O desastre da institucionalização do preconceito é estudado de forma brilhante no livro “A arte perniciosa: A repressão penal aos capoeiras na República Velha”, do advogado Renato Neves Tonini, que está sendo lançado pela editora Lúmen Júris.
O autor mostra, entre outros aspectos, como a criminalização da capoeira no Brasil do século 19 fermentou o preconceito entre elite e povo. De quebra, indica o quanto esse tipo de regra arbitrária vira fonte de corrupção policial e judiciária.
Pelo visto, o Brasil nunca vai entender que o comportamento dos cidadãos não se corrige a canetadas.
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