Hamilton Pavam | | | População lotou as galerias da Câmara com cartazes e narizes de palhaço para protestar contra “pacotão” | O presidente da Câmara de Rio Preto, Oscarzinho Pimentel (PPS), debochou, tratou dezenas de cidadãos rio-pretenses como palhaços e, no momento em que o projeto que aumenta para 23 o número de cadeiras no Legislativo seria rejeitado, decidiu encerrar a sessão alegando falta “de condições de trabalho.” “Falta de condições de trabalho”, para Oscarzinho, seria a presença de populares que lotaram as galerias da Câmara para protestar contra o pacote de horrores recheado de projetos imorais.
Por conta do passa-moleque de Oscarzinho, vereadores foram obrigados a deixar o prédio do Legislativo escoltados pela Polícia Militar para evitar manifestação de estudantes, representantes de sindicatos e associações de moradores, que ficaram revoltados com a manobra. A decisão de Oscarzinho para encerrar a sessão ocorreu durante a votação do projeto que pretende criar seis cadeiras no Legislativo, passando das atuais 17 para 23, o que gera um impacto anual de R$ 2,3 milhões ao erário.
Sem os 12 votos necessários para aprovar a emenda à Lei Orgânica do Município (LOM), a proposta seria rejeitada. “Não tinha 12 votos”, disse Jorge Abdanur (PSDB), contrário à proposta. Maurin Ribeiro (PC do B), Pedro Roberto (Psol), Dinho Alahmar (PSB), Walter Farath (PR) e Marco Rillo (PT) também se manifestaram contra o aumento de cadeiras.
Antes de Oscarzinho encerrar a sessão, foi formado um cordão de policiais militares no plenário para proteger os vereadores da ira de munícipes. Oscarzinho alegou à imprensa que o major da Polícia Militar Marcelo de Oliveira Burgati teria lhe dito, durante o intervalo da sessão, que a PM não estaria preparada para coibir possíveis manifestações no local. O argumento do vereador, no entanto, foi rechaçado por Burgati.
“Disse a ele que garantia a segurança. O barulho das pessoas iria continuar e até aumentar com o ingresso de mais pessoas no plenário. Mas tinha condições de manter a segurança sim”, afirmou o major. De acordo com a PM, 50 policiais foram deslocados para garantir a “ordem pública.” Por isso, a oposição coloca sob suspeita a medida de Oscarzinho de encerrar a sessão sem votar o mérito dos projetos na pauta. “Vou encaminhar o que ele (Oscarzinho) fez para análise do Ministério Público”, disse Marco Rillo (PT).
Com a decisão do presidente da Casa de encerrar a sessão, a proposta que cria 230 cargos comissionados e 266 gratificações na Prefeitura não foi aprovada na íntegra. Somente a legalidade foi aprovada. Será necessário agora nova votação para sua aprovação no mérito, o que deve ocorrer na próxima terça-feira.
O projeto dos apadrinhados tem impacto de R$ 14 milhões anuais aos cofres públicos. Cerca de 15 apadrinhados demitidos por decisão da Justiça participaram da sessão. O projeto que eleva o salário do prefeito de R$ 9 mil para R$ 12,9 mil, do vice-prefeito de R$ 4,5 mil para R$ 6,3 mil e dos secretários municipais de R$ 7,7 mil para R$ 8,4 mil também só teve sua legalidade aprovada.
Veja abaixo videorreportagem sobre a sessão
Hamilton Pavam | | Centenas de estudantes foram à Câmara de Rio Preto protestar contra aumento de vereadores e de salários e pediram a renúncia de Oscarzinho Pimentel presidente |
Pressionados pela população, os vereadores já haviam adiado a votação do projeto que prevê um aumento de 75% do salário dos vereadores, passando de R$ 4,8 mil para R$ 8,4 mil a partir de 2013. Diversas pessoas estavam empunhando cartazes com a palavra: “não!” Antes de adiar a proposta, vereadores chegaram a aprovar emenda que reduzia o reajuste para R$ 6 mil, o que também não foi digerido pelos cidadãos.
Foi então que Eduardo Piacenti (PPS), autor da emenda, retirou a proposta e se manifestou contra qualquer reajuste. Decisão que irritou Walter Farath (PR), que, por conta do recuo de parlamentares em aprovar o aumento, se referiu a dois colegas, sem revelar nomes, como “tangas frouxas” por não respeitar suposto acordo para aprovar os projetos mesmo com a pressão da população. “Homem. Não respeitam acordos.” O Diário aprovou que os “tangas frouxas” seriam Manoel Conceição (PPS) e Emanuel Tauyr (DEM).
Estudantes lotam galerias da Câmara
Estudantes do colégio Coopen e representantes de instituições de Rio Preto lotaram as galerias da Câmara, ontem, para protestar contra o pacote de horrores apresentado pelos vereadores. “Nenhum trabalhador tem reajuste salarial de 75%. Esse projeto de aumento salarial para os vereadores é uma vergonha. Não concordamos com isso. E o prefeito também está agindo errado. Ele deve priorizar concursos públicos e não contratar apadrinhados”, disse o estudante Felipe Cabral, 16 anos.
Para a advogada Sandra Gentil, não há necessidade de reajustar os salários dos vereadores, porque eles têm outras profissões e já são remunerados por essas atividades. “É vergonhoso. O reajuste no salário e o aumento do número de vereadores atinge a população. O povo vai pagar essa conta”, afirmou. Hamilton Pavam | | Estudante é barrada por policiais; no detalhe, tomates apreendidos |
Barrados
Uma manobra do presidente da Câmara, Oscarzinho Pimentel (PPS), impediu que manifestantes acompanhassem a sessão da Câmara. Oscarzinho distribuiu 50 senhas para assessores de vereadores, que ocuparam os lugares destinados às pessoas que queriam acompanhar a sessão.
Quem ficou do lado de fora do prédio do legislativo também protestou contra o aumento de cadeiras na Câmara e também contra o reajuste salarial dos vereadores e do prefeito. “Não aceitamos isso. É vergonhoso. Impediram as pessoas de entrar na Câmara, que a casa do povo”, gritou a professora Alaíde Pinheiro.
Tumulto
Os estudantes Marília Botelho e Luciano de Deus Pereira tentaram furar o bloqueio, avançando sobre os policiais. Eles não conseguiram passar pelo cordão de isolamento. “Fui barrado pela polícia como se eu fosse um bandido. Os vereadores ganham uma fortuna e não fazem nada pela nossa cidade”, afirmou Pereira.
Ovos e tomates são apreendidos por PM
Ao final das sessões extraordinárias, ontem, os vereadores foram obrigados a sair da Câmara escoltados por policiais militares, que fizeram dois cordões de isolamento - dentro da Câmara e na rua - para impedir a aproximação das pessoas que protestavam contra o aumento no número de vereadores e o reajuste salarial dos parlamentares e do prefeito de Rio Preto. Revoltados, populares ameaçaram atacar vereadores com ovos e tomates, que foram apreendidos pela PM. Hamilton Pavam | | Polícia Militar teve de cercar manifestantes para garantir segurança de vereadores, que saíram escoltados |
Os policiais interditaram trechos da rua Silva Jardim e da avenida Alberto Andaló para que os vereadores pudessem sair em segurança da garagem da Câmara.
Ocorrência
Durante as manifestações contra o pacote de horrores da Câmara, policiais militares registraram uma ocorrência de ato obsceno. O manifestante José Francisco Carminatti Wenceslau abaixou a calça e mostrou a bunda para os vereadores. Ele foi retirado das galerias da Câmara por policiais militares que elaboraram o boletim de ocorrência.
O crime de ato obsceno é punido com detenção de três meses a um ano ou multa. O boletim de ocorrência foi entregue ao Plantão Policial e o manifestante será chamado para prestar depoimento no 1º Distrito Policial. Wenceslau não quis comentar o episódio. Temendo novo protesto, os policiais militares impediram que o manifestante retornasse para as galerias da Câmara.
Internautas mobilizam rede
Desde as primeiras horas da manhã de ontem, a votação do pacotão de horrores pela Câmara de Rio Preto foi tema de debates nas redes sociais na internet. Assim que surgiu a informação de que o governo mobilizava apadrinhados para pegar as 200 senhas que seriam disponibilizadas para acompanhar a sessão, internautas começaram a se mobilizar e organizar movimentos de protesto tanto no Twitter quanto no Facebook. Hamilton Pavam | | Ao saber que Oscarzinho encerraria sessão, policiais fizeram cordão de isolamento no plenário |
Mas foi por meio do Twitter que a maioria dos internautas se mobilizou e combinou as formas de protesto. O movimento ganhou força depois do desafio lançado por tuiteiros para colocar a hashtag #vergonhariopreto nos “trending topics”, que são os assuntos mais comentados do dia no microblog.
Centenas de internautas passaram então a comentar o pacote de horrores e identificar suas mensagens com a tag da “vergonha.” Um dos internautas, identificado como Marquinhos, diz que comprou 50 narizes de palhaço que foram distribuídos aos munícipes presentes na sessão.
O assunto ganhou força e deixou os limites de Rio Preto. O jornalista Maurício Ferraz, repórter do Fantástico, chegou a postar no seu perfil que “Rio Preto está destruída. Só tem buraco. E agora prefeitos e vereadores querendo aumento.” Outro tuiteiro, Guh_Dias10, chegou a questionar a necessidade de mais vereadores. Muitos também postaram manifestos, como Osvald_T: “Leis que aumentam os salários e o número de vereadores para 23. Sou contra.”
Apesar do empenho dos internautas rio-pretenses, a tag #vergonhariopreto não conseguiu entrar entre os 10 assuntos mais comentados do Twitter. Fica para a próxima.
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