RIO - Em janeiro deste ano, um diagnóstico de leucemia levou Cláudio Mello e Souza, um dos jornalistas mais conhecidos do país, a ficar internado desde então no hospital Copa d'Or, a poucas centenas de metros do seu apartamento, na Rua Santa Clara. Durante os sete meses de luta contra a doença, o jornalista não escondia sua preocupação com a conclusão de seus dois últimos projetos: um livro de entrevistas sobre o escritor português Eça de Queiroz - uma de suas grandes paixões - e a biografia do ex-governador da Guanabara Carlos Lacerda, de quem foi amigo.
- Papai, durante este tempo tempo, alternava seu estado de espírito conforme as reações ao tratamento da leucemia, mas acho que o que mais o afligia era o medo de não concluir os dois livros - conta o filho Pedro Mello e Souza, de 49 anos.
Se nos últimos anos Cláudio se dedicava mais a seus projetos literários, foi na imprensa que construiu velozmente, a partir do seu ingresso na redação do "Diário Carioca", em 1959, aos 24 anos de idade, uma carreira que o transformaria numa referência do jornalismo carioca. O Havaiano de Ipanema ou O Remador de Ben-Hur - como o amigo Nelson Rodrigues o eternizaria em crônica, por conta de seu bronzeado permanente - ficaria pouco tempo no seu primeiro jornal. Em 1960, iria duas vezes para o "Jornal do Brasil". A primeira passagem pela publicação seria brevíssima, pois aceitou o convite para participar do governo Jânio Quadros, dirigindo a Fundação Cultural de Brasília. Com a renúncia do presidente, Cláudio regressaria ao "JB", agora para editar o Caderno B.
Em 1966, o seu nome ganha mais popularidade, ao passar a apresentar, com Heron Domingues, os telejornais da noite da TV-Rio, Canal 13. Um ano depois, nova mudança: assume a direção da revista "Fatos & Fotos". O seu trabalho ali fez com que o empresário Adolpho Bloch o convidasse para dirigir as sucursais europeias de seu grupo. Por conta disso, viveu em Lisboa e Paris.
O início do seu relacionamento com as Organizações Globo se daria com o seu retorno ao Brasil. Trabalhou inicialmente no Departamento de Projetos Especiais da Rede Globo. Ao mesmo tempo, o ainda fervoroso botafoguense - mais tarde, ele diria que seu culto à estrela solitária dimunuíra bastante, pois aquele Botafogo por quem se apaixonara na juvnentude não existia mais - passaria a assinar coluna esportiva no GLOBO, que marcaria época ao longo dos anos 80. Não demorou para que Cláudio acumulasse também o cargo de editor de Esportes.
Deixaria o cargo dois anos e meio depois, em 1983, para assumir nova tarefa nas Organizações Globo: a criação de campanhas especiais. Em 1990, convidado pelo jornalista Roberto Marinho, Cláudio Mello e Souza assumiria o cargo de assessor da presidência da Rede Globo.
O jornalista esportivo voltaria a se destacar no fim dos anos 90, quando participou da equipe fundadora do "Extra".
Menos conhecida, mas igualmente elogiada era a atividade literária de Cláudio. Pelas páginas do Suplemento Dominical do "JB", dirigido por Mário Faustino, foram conhecidos seus primeiros poemas, em 1959. Lançaria desde então três livros de poesia: "O domador de cavalos", "Corpo e alma" e "O passageiro do tempo".
Homem de vários interesses, como a obra de Eça, a música clássica e mitologia, ele sempre estava envolvido com algum projeto. Em maio de 2001, lançou "Helena de Troia - O papel da mulher na Grécia de Homero", pela Lacerda Editores. Sete anos mais tarde, chegaria às livraria "Arquivinho n 4: Nelson Rodrigues", obra fundamental para os admiradores do dramaturgo e jornalista.
Cláudio Mello e Souza morreu hoje, aos 76 anos. Era pai de Pedro, de 49 anos, e Eduardo, de 47 - de seu primeiro casamento, com Maria Augusta Rebouças -, e de Maria Eduarda, de 11 anos, sua filha com Leila Abrantes. O seu velório será amanhã, das 7h às 11h, na Ordem do Carmo, no Cemitério do Caju. Numa cerimônia reservada à família, ele será cremado na próxima quarta-feira, também no Caju.
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