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domingo, 10 de julho de 2011

A quadrilha que controla um ministério enriqueceu com obras do PAC


Até a descoberta da quadrilha comandada por chefões do PR, todas as obras do Ministério dos Transportes eram coisa do PAC. Um trecho de 20 metros da Ferrovia Norte-Sul ficou pronto? Três buracos de uma rodovia federal foram fechados? Uma pedra fundamental vai anunciar outra maravilha sem prazo para terminar? Desde janeiro de 2007, quando foi inventado o Programa de Aceleração do Crescimento, nenhuma dessas miudezas escapou do comício com muito foguetório e outra discurseira de Lula.

“O PAC é, sem dúvida nenhuma, o mais bem-elaborado programa de desenvolvimento que este país já produziu”, gabou-se em maio de 2008 num palanque em Cuiabá. Na maior constelação de canteiros de obras do universo, ensinou, atrasos não são sinais de incompetência, mas demonstrações de seriedade. “É importante que as coisas demorem, para serem bem-feitas”, caprichou. “Porque nós estamos cansados neste país de obras mal começadas e paralisadas a vida inteira”.

Mais espantoso ainda, a montagem e a administração do colosso dispensara a criação de um ministério com prédio próprio, ou a contratação de dezenas de executivos, centenas de especialistas, o homem do cafezinho e um porteiro. Bastara uma Dilma Rousseff. Foram suficientes o colo, os cuidados, as advertências e os ensinamentos da supergerente de país que tudo sabia, tudo anotava e tudo vigiava, armada de pitos, power points e telões.

As coisas mudaram dramaticamente com a aparição, na interminável procissão de patifarias, do andor com o escândalo de julho. Assim que se soube do bando criminoso chefiado por Valdemar Costa Neto e composto por vigaristas do PR, todas as obras na área de transportes foram devolvidas ao ministério. O Planalto não tem nada a dizer sobre obras, licitações e consultorias que sangraram impiedosamente verbas do PAC. Estradas federais agora são coisa do DNIT. Quem cuida de ferrovias é uma certa Valec. O PAC, hoje aos cuidados da madrasta Miriam Belchior, não tem nada a ver com obras do PAC que viram caso de polícia.

Além da queda do ministro Alfredo Nascimento, o escândalo da vez provocou abalos profundos em duas fraudes. A primeira é fingir que existe uma “base aliada” onde existe uma base alugada. O preço do PR, por exemplo, inclui o arrendamento do Ministério dos Transportes a um ajuntamento de larápios. O segundo embuste é fazer de conta que o PAC existe. Como se não fosse apenas a soma dos projetos tocados (ou não) por ministérios e estatais, sem vigilância nem controle por parte do Planalto.

Embora vexatória, admitir tal obviedade é a opção menos perigosa para Dilma Rousseff. Caso insista na pose de Mãe do PAC, a presidente será confrontada com duas hipóteses igualmente desmoralizantes. Se sabia da ladroagem que correu solta no Ministério, é cúmplice de muitos crimes. Se não sabia de nada, é tão incompetente quanto qualquer mãe que não sabe sequer o que o filho faz.


( Nossa ! É desanimador ! é só roubo e quem rouba já tem um padrão de vida elevadissimo, não dá para entender , não é para matar a fome ! onde esse povo enfia tanta grana ! Para corrupção deveria haver pena de morte , incluindo familiares , é o jeito de acabar com essa paixão contagiante pelo o dinheiro publico, o cara que rouba esse dinheiro , mata pessoas que não tem atendimento medico ... esse dinheiro faz falta em muitas emergencias desse pais e ele , entre outros, rouba com essa conciencia, não rouba sem querer , então não mata sem querer !)

Nunca antes neste país os larápios federais roubaram tanto e tão descaradamente

“Não foi a corrupção que aumentou; o governo Lula é que tornou as investigações mais rigorosas e eficazes”, recomeça a balir o rebanho companheiro sempre que algum sacerdote da seita se junta à interminável procissão de escândalos. O mantra malandro foi destruído de vez pela descoberta do milagre da multiplicação do patrimônio de Antonio Palocci e pelo desbaratamento da quadrilha em ação no Ministério dos Transportes.

O estuprador de sigilo bancário que se converteu em traficante de influência não foi desmascarado por agentes da Polícia Federal, mas por repórteres da Folha de S. Paulo. Os meliantes a serviço do PR foram identificados por jornalistas de VEJA, não pela Corregedoria Geral da União. Os órgãos de controle do governo não apuram nada. São coiteiros de delinquentes de estimação.

Nunca antes neste país os larápios federais roubaram tanto e tão descaradamente quanto nos últimos oito anos e meio, confirmam as revelações que precipitaram a troca do ministro Alfredo Nascimento por outro figurão do bando liderado pelo deputado federal Valdemar Costa Neto. Em junho de 2002, quando presidia o Partido Liberal, foi o parlamentar paulista quem celebrou o acordo com o PT que resultou na dupla formada por Lula e pelo senador José Alencar, eleito pelo PMDB mineiro mas já a caminho do PL.

As investigações sobre o escândalo do mensalão revelaram que o aluguel do partido custou R$10 milhões. Mais o Ministério dos Transportes, sabe-se agora. Desde janeiro de 2003, Costa Neto administra pessoalmente a formidável cachoeira de contratos bandalhos. Hoje secretário-geral do Partido da República, nascido há cinco anos da fusão do PL com o Prona, o sócio do PT faz mais que indicar ministros: ele nomeia prepostos.

O primeiro foi o mineiro Anderson Adauto. Teve de cair fora em março de 2004, três meses depois de denunciado à Procuradoria-Geral da República pelo então diretor-geral do DNIT, José Antonio da Silva Coutinho, por ter desviado R$32,3 milhões de financiamentos concedidos para obras em estradas pelo Banco Mundial e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento. Oficialmente, Adauto pediu demissão para disputar a prefeitura de Uberaba.

Eleito, confessou no ano seguinte, em depoimento à CPI que investigou o mensalão, que recebera dinheiro do onipresente Delúbio Soares para pagar a gastança da campanha. Hoje filiado ao PMDB e no fim do segundo mandato, o prefeito continua fazendo companhia a Costa Neto no processo em curso no Supremo Tribunal Federal. Embora sejam ambos mensaleiros juramentados, o deputado paulista mereceu mais espaço na denúncia do procurador Antonio Fernando Souza.

Um dos trechos afirma que, “ao longo dos anos de 2003 e 2004, os denunciados Valdemar Costa Neto, Jacinto Lamas e Antônio Lamas receberam aproximadamente dez milhões e oitocentos mil reais a título de propina. O acordo criminoso com os denunciados José Dirceu, Delúbio Soares, José Genoíno e Sílvio Pereira foi acertado na época da campanha eleitoral para Presidência da República em 2002, quando o PL participou da chapa vencedora”.

Como o acordo criminoso incluiu o Ministério dos Transportes, Anderson Adauto foi substituído pelo prefeito reeleito de Manaus Alfredo Nascimento, que ficou no cargo até março de 2006, quando se candidatou ao Senado. Enquanto caçava votos, o baiano Paulo Sérgio Passos, secretário-executivo e militante do PR, tomou conta do gabinete que, em março de 2007, voltou a abrigar o senador eleito pelo Amazonas.

Nascimento afastou-se de novo em abril de 2010, agora para fracassar como candidato a governador. De novo, Passos virou ministro interino. Escolhido por Lula e nomeado por Dilma, Nascimento recuperou em 1º de janeiro de 2011 o emprego que perdeu de vez nesta quarta-feira. Enquanto Passos mantém o gabinete em ordem, Costa Neto trata da escolha do novo ministro. Nesta quinta-feira, o PR comunicou à presidente Dilma Rousseff que o preferido é o senador Blairo Maggi.

Quando ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc avisou que, “se deixarem, o Blairo Maggi planta soja até nos Andes”. Foi ele quem apadrinhou a instalação de Luiz Antonio Pagot na direção-geral do DNIT. Somados o prontuário do afilhado e a frase de Minc, pode-se deduzir que Blairo Maggi, sempre em parceria com Costa Neto, saberá tornar ainda mais produtivos e rentáveis todos os canteiros de obras públicas. O PR vai acabar colhendo alguns bilhões a mais.


A vida mansa dos ministros do baixo clero

Encarregados de descrever a rotina dos integrantes da segunda divisão do primeiro escalão, os repórteres Branca Nunes e Bruno Abbud, do site de VEJA, concentraram-se em três elefantes brancos do Planalto: o Ministério da Pesca e Aquicultura, o Ministério do Turismo e a Secretaria de Assuntos Estratégicos. O minucioso exame das agendas comprova que esses braços da burocracia federal são comandados por ministros do baixo clero que compensam a falta de verbas e prestígio com o salário de R$26,7 mil e privilégios que garantem a vida mansa e boa ─ tão boa e tão mansa que as vezes parece um interminável feriadão.

Eles trabalham pouco, viajam muito, concedem-se folgas de matar de inveja um deputado e não têm motivos para temer cobranças de Dilma Rousseff. Ou por saber que ambos nada fazem ou porque nem sabe direito quem são, a presidente não conversou a sós uma única vez, nos últimos seis meses, com Wellington Moreira Franco (Assuntos Estratégicos) e Pedro Novais (Turismo). Ideli Salvatti nunca foi chamada ao gabinete de Dilma para tratar de pesca. Substituto de Ideli, Luiz Sérgio está condenado a só contemplar a chefe no retrato pendurado na parede.

A reportagem publicada na seção O País quer Saber conduz a uma conclusão desoladora: se fossem absorvidas por outros ministérios, as três inutilidades fariam tanta falta quanto uma Secretaria Especial para Assuntos Extraterrestres. Vão continuar existindo por dois motivos. Primeiro: os contratos com a base alugada incluem a concessão de cargos no primeiro escalão. Segundo: milhões de brasileiros parecem habituados a pagar sem queixas todas as contas do governo.

O dinheiro dos impostos banca tanto a gastança injustificável, como a dos ministros do baixo clero, quanto a epidemia de ladroagem hoje exposta com mais nitidez no Ministério dos Transportes. Mas este é um assunto para o próximo post.




LAST

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