O Brasil Maravilha inventou a mobilidade social sem movimento, prodígio que permite a qualquer pobre subir na vida sem que o salário suba. Em 2009, por exemplo, milhões de famílias com renda mensal acima de R$1.126 foram transferidas para a classe média sem que vissem a cor de um único centavo a mais. O milagre, operado por alquimistas da Fundação Getúlio Vargas, consumou-se com a mera mudança da quantia que separa os dois mundos. A classe média continuou do mesmo tamanho, só que engordada pela multidão de pobres. Ficou tudo igual, mas diferente.
O assombro acaba de ser reprisado pela demarcação da fronteira onde termina a pobreza extrema e começa a pobreza sem radicalismo. Nesta semana, Dilma Rousseff revogou de vez a promessa da candidata e decidiu que o universo da miséria está reservado não a quem ganha menos que um quarto do salário mínimo (R$ 136,25, neste outono), mas aos que seguem respirando com menos de R$ 70 por mês. Deixaram de ser oficialmente miseráveis, portanto, 3 milhões de brasileiros.
A partir de agora, alguém que sobrevive com R$ 71 pode permitir-se um olhar superior ao topar com o vizinho estacionado um real abaixo. Em compensação, o miserável de carteirinha, será socorrido pelo Programa Nacional de Erradicação da Pobreza Extrema e terá mais chances de chegar ao fim do mês. O brasileiro dos R$ 71 não demorará a descobrir que sairá ganhando se doar ao PT R$ 1 por mês e reivindicar uma vaga no programa.
No Brasil de Lula e Dilma, ser promovido a pobre é pior que continuar miserável.
Coluna do
Augusto Nunes
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