correiobraziliense.
Maria Júlia Lledó
Publicação: 17/10/2010 08:15 Atualização: 17/10/2010 09:02
Raimundo Nonato, 66 anos, foi ao Hospital de Base visitar um sobrinho, mas preferiu ficar do lado de fora
Por falta de informações e esclarecimentos, a população teme o contágio pela superbactéria Klebsiella Pneumoniae Carbapenemase (KPC) nos hospitais públicos e privados do Distrito Federal. O ajudante de mecânico Joaquim Batista, 45 anos, foi atingido por um arame no olho direito. Na manhã de ontem, veio de Luziânia para Brasília, em busca de atendimento no Hospital de Base. Amparado pela esposa, enquanto aguardava a consulta em pé, ele mostrava apreensão. “Não sei o que vai acontecer comigo. Ouvi falar da bactéria, mas ainda não recebi nenhuma instrução da equipe do hospital”, contou.
A preocupação do ajudante de mecânico é um reflexo do aumento do número de mortes e de infectados pela superbactéria. Segundo balanço da Secretaria de Saúde divulgado na última sexta-feira, o número de mortos subiu para 15. Já o número de infectados passou de 111 para 135 — um aumento de 21% em apenas uma semana. Em Brasília, o primeiro registro ocorreu em janeiro deste ano. A superbactéria pode ser transmitida por um simples aperto de mão. Mas o contágio mais comum é por meio de instrumentos hospitalares. Uma das formas de se evitar o contato é higienizar as mãos com álcool.
Ontem pela manhã, a professora Lucilene Marcolina dos Santos, 33 anos, visitou uma amiga internada no Hospital de Base. Precavida, mostrou que carregava um recipiente de álcool em gel dentro da bolsa. “Sei que temos que tomar cuidado. O enfermeiro até me passou as instruções para que eu tivesse as mãos limpas. É isso que vou fazer”, disse. A assistente Lisiane da Silva Serra, 22 anos, também tomou precauções. “Passei álcool em gel nas mãos, mas só tive essa recomendação”, conta.
Dúvidas
Ainda assim, muitas pessoas que aguardavam atendimento no hospital ou que acompanhavam familiares e amigos não obtiveram esclarecimentos quanto às formas de contágio pela superbactéria KPC. De Planaltina, o carpinteiro Antônio Gonçalves Souza, 72 anos, trouxe a esposa, que sofre de crise asmática, para ser atendida no pronto-socorro do Base. “Viemos em busca de atendimento e sei que essa questão da bactéria é preocupante, mas não há muito o que fazer. Ou nos arriscamos, ou não somos atedidos”, lamentou.
Já o aposentado Raimundo Nonato Caldeira, 66 anos, mora no Guará e foi ao hospital para visitar um sobrinho, que sofreu uma fratura na perna, após um jogo de futebol. Do lado de fora do pronto-socorro, aguardou a esposa fazer a visita ao familiar na sala de ortopedia. O aposentado não escondeu o receio. “Tenho medo de visitá-lo por causa dessa tal KPC. Como saber que não serei contaminado? Não posso correr o risco”, confessou com pesar, temeroso pelo sobrinho internado.
Cuidados
De acordo com o infectologista Alexandre Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia do Distrito Federal, quem corre mais risco de infecção são pacientes que estão com sonda, catéter, pulsão venosa ou em outra situação que possa favorecer a infecção bacteriana. “Mas para quem visita o paciente, o risco é de ser colonizado pela bactéria, algo muito diferente de ser contaminado. Ou seja, a bactéria pode estar presente nas mãos, nos braços e no trato digestivo do visitante que manteve contato com o paciente, mas ele só correrá o risco de contaminação se sua saúde estiver debilitada e ele estiver com a imunidade baixa”, esclarece.
A preocupação com a limpeza dos locais é outra questão importante para evitar que a bactéria KPC se espalhe nas unidades de tratamento intensivo ou nos locais de atendimento do pronto-socorro. A prevenção é essencial, já que o tratamento é difícil, por conta de sua alta resistência a antibióticos. Para isso, médicos e enfermeiros devem tomar os mesmos cuidados dos visitantes quanto à higienização das mãos, além de utilizar luvas e máscaras para uma prevenção mais efetiva. O isolamento de pacientes com suspeita de contaminação é outra medida de segurança.
De acordo com o balanço da Secretaria de Saúde, os casos de KPC registrados na cidade até agora já atingiram nove hospitais da rede pública e sete unidades da rede privada. Mas, na última sexta-feira, o governo não divulgou o nome dos hospitais, depois de reclamações dos donos de clínicas onde foram registrados infecções pela superbactéria.
MUTANTE E RESISTENTE
O que é a superbactéria e como prevenir novos casos de infecção
* A Klebsiella Pneumoniae Carbapenemase (KPC) é uma bactéria resistente a 95% dos antibióticos existentes no mercado farmacêutico
* Ela surgiu por conta de mutações genéticas, em que a bactéria desenvolveu resistência aos antibióticos como um mecanismo de sobrevivência
* A identificação de casos é feito por meio da análise de material do sistema digestivo
* Entre os pacientes que têm a KPC no corpo, a maioria —cerca de 90% deles — não desenvolve infecções
* Se o paciente estiver com a imunidade baixa, por exemplo, pode desenvolver um processo infeccioso
* Há casos de infecções mais leves, como as que atingem o sistema urinário, até graves pneumonias, que podem levar à morte
* Para tratar os pacientes com infecção, há poucos antibióticos disponíveis. O principal deles, que age contra a KPC, é a polimixina
* Para prevenir novos casos de infecção, médicos, enfermeiros e visitantes dos hospitais devem lavar as mãos e desinfetá-las com álcool 70%
* Profissionais de saúde devem manter as unhas curtas, evitar comer no ambiente de trabalho, usar os cabelos presos e preferir sapatos fechados
Por falta de informações e esclarecimentos, a população teme o contágio pela superbactéria Klebsiella Pneumoniae Carbapenemase (KPC) nos hospitais públicos e privados do Distrito Federal. O ajudante de mecânico Joaquim Batista, 45 anos, foi atingido por um arame no olho direito. Na manhã de ontem, veio de Luziânia para Brasília, em busca de atendimento no Hospital de Base. Amparado pela esposa, enquanto aguardava a consulta em pé, ele mostrava apreensão. “Não sei o que vai acontecer comigo. Ouvi falar da bactéria, mas ainda não recebi nenhuma instrução da equipe do hospital”, contou.
A preocupação do ajudante de mecânico é um reflexo do aumento do número de mortes e de infectados pela superbactéria. Segundo balanço da Secretaria de Saúde divulgado na última sexta-feira, o número de mortos subiu para 15. Já o número de infectados passou de 111 para 135 — um aumento de 21% em apenas uma semana. Em Brasília, o primeiro registro ocorreu em janeiro deste ano. A superbactéria pode ser transmitida por um simples aperto de mão. Mas o contágio mais comum é por meio de instrumentos hospitalares. Uma das formas de se evitar o contato é higienizar as mãos com álcool.
Ontem pela manhã, a professora Lucilene Marcolina dos Santos, 33 anos, visitou uma amiga internada no Hospital de Base. Precavida, mostrou que carregava um recipiente de álcool em gel dentro da bolsa. “Sei que temos que tomar cuidado. O enfermeiro até me passou as instruções para que eu tivesse as mãos limpas. É isso que vou fazer”, disse. A assistente Lisiane da Silva Serra, 22 anos, também tomou precauções. “Passei álcool em gel nas mãos, mas só tive essa recomendação”, conta.
Dúvidas
Ainda assim, muitas pessoas que aguardavam atendimento no hospital ou que acompanhavam familiares e amigos não obtiveram esclarecimentos quanto às formas de contágio pela superbactéria KPC. De Planaltina, o carpinteiro Antônio Gonçalves Souza, 72 anos, trouxe a esposa, que sofre de crise asmática, para ser atendida no pronto-socorro do Base. “Viemos em busca de atendimento e sei que essa questão da bactéria é preocupante, mas não há muito o que fazer. Ou nos arriscamos, ou não somos atedidos”, lamentou.
Já o aposentado Raimundo Nonato Caldeira, 66 anos, mora no Guará e foi ao hospital para visitar um sobrinho, que sofreu uma fratura na perna, após um jogo de futebol. Do lado de fora do pronto-socorro, aguardou a esposa fazer a visita ao familiar na sala de ortopedia. O aposentado não escondeu o receio. “Tenho medo de visitá-lo por causa dessa tal KPC. Como saber que não serei contaminado? Não posso correr o risco”, confessou com pesar, temeroso pelo sobrinho internado.
Cuidados
De acordo com o infectologista Alexandre Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia do Distrito Federal, quem corre mais risco de infecção são pacientes que estão com sonda, catéter, pulsão venosa ou em outra situação que possa favorecer a infecção bacteriana. “Mas para quem visita o paciente, o risco é de ser colonizado pela bactéria, algo muito diferente de ser contaminado. Ou seja, a bactéria pode estar presente nas mãos, nos braços e no trato digestivo do visitante que manteve contato com o paciente, mas ele só correrá o risco de contaminação se sua saúde estiver debilitada e ele estiver com a imunidade baixa”, esclarece.
A preocupação com a limpeza dos locais é outra questão importante para evitar que a bactéria KPC se espalhe nas unidades de tratamento intensivo ou nos locais de atendimento do pronto-socorro. A prevenção é essencial, já que o tratamento é difícil, por conta de sua alta resistência a antibióticos. Para isso, médicos e enfermeiros devem tomar os mesmos cuidados dos visitantes quanto à higienização das mãos, além de utilizar luvas e máscaras para uma prevenção mais efetiva. O isolamento de pacientes com suspeita de contaminação é outra medida de segurança.
De acordo com o balanço da Secretaria de Saúde, os casos de KPC registrados na cidade até agora já atingiram nove hospitais da rede pública e sete unidades da rede privada. Mas, na última sexta-feira, o governo não divulgou o nome dos hospitais, depois de reclamações dos donos de clínicas onde foram registrados infecções pela superbactéria.
MUTANTE E RESISTENTE
O que é a superbactéria e como prevenir novos casos de infecção
* A Klebsiella Pneumoniae Carbapenemase (KPC) é uma bactéria resistente a 95% dos antibióticos existentes no mercado farmacêutico
* Ela surgiu por conta de mutações genéticas, em que a bactéria desenvolveu resistência aos antibióticos como um mecanismo de sobrevivência
* A identificação de casos é feito por meio da análise de material do sistema digestivo
* Entre os pacientes que têm a KPC no corpo, a maioria —cerca de 90% deles — não desenvolve infecções
* Se o paciente estiver com a imunidade baixa, por exemplo, pode desenvolver um processo infeccioso
* Há casos de infecções mais leves, como as que atingem o sistema urinário, até graves pneumonias, que podem levar à morte
* Para tratar os pacientes com infecção, há poucos antibióticos disponíveis. O principal deles, que age contra a KPC, é a polimixina
* Para prevenir novos casos de infecção, médicos, enfermeiros e visitantes dos hospitais devem lavar as mãos e desinfetá-las com álcool 70%
* Profissionais de saúde devem manter as unhas curtas, evitar comer no ambiente de trabalho, usar os cabelos presos e preferir sapatos fechados
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