Veja - 13/09/2010 |
Uma ação judicial expõe os detalhes da guerra entre Eike Batista e Rodolfo Landim - o ex-homem de confiança que o ajudou a ganhar fortunas nos leilões de petróleo
Por alguns anos, o empresário Eike Batista, o homem mais rico do Brasil, não tomava nenhuma decisão sem antes ouvir a opinião do executivo Rodolfo Landim, a quem gostava de apresentar como o seu "braço direito". Ex-presidente da BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras, Landim atraiu da estatal para a empresa de Eike técnicos que conheciam a fundo o mapeamento dos campos de petróleo no litoral brasileiro. Assessorou-o na compra de lotes em leilão e foi peça-chave na própria concepção da OGX - a petrolífera que hoje representa 73% do império do bilionário. Em 2006, durante o voo de volta de uma viagem a trabalho que haviam feito juntos a Londres, eles falavam com entusiasmo sobre o que viria a ser a nova empresa. Num arroubo típico de sua personalidade, Eike arrancou a capa de um caderno e escreveu no verso a Landim: "Gostaria de convidá-lo a fazer parte da minha holding, como cavaleiro da távola do sol eterno, fiel guerreiro e escudeiro. Em vez de uma bela espada, você receberá 1% da minha holding.
Passados três anos, a relação entre os dois perdeu o calor fraterno dos primeiros momentos. Segundo diagnóstico comum de ambos, a convivência entre eles tornou-se "intolerável". Mas Landim guardou a capa do caderno e os rabiscos de Eike feitos a 35000 pés de altitude sobre algum ponto do Oceano Atlântico, quando as ambições conjuntas de ambos voavam ainda mais alto. Uma ação judicial movida por Landim contra Eike quer enxergar nas palavras escritas naquela capa de caderno mais do que juras de amor eterno. Com base nas anotações, Landim cobra agora 1% de todo o patrimônio do rei da "távola do sol eterno". Pelo preço médio das ações das empresas de Eike, isso daria algo em torno de 270 milhões de dólares. Já é, de longe, o mais alto valor exigido na Justiça brasileira por um executivo.
A disputa entre Eike Batista e Rodolfo Landim é também uma guerra de egos, orgulhos profissionais. "Eike absorveu o meu conhecimento, me usou e depois me descartou", é o bordão que Landim repete aos amigos. O empresário rebate: "Ninguém aguenta o complexo de grandeza dele. Para mim, é um executivo como qualquer outro". A disputa na Justiça promete elevar ainda mais o tom. Landim sustenta que havia entre os dois uma sociedade, e não uma relação trabalhista. Nos tempos áureos, Landim chegou a ocupar cadeiras em todos os conselhos de administração do grupo. Palpitava em tudo. Com a OGX, não foi diferente. Seis meses depois de criada, sob seu comando, a empresa captou 4 bilhões de dólares na bolsa de valores. Hoje vale 37,5 bilhões de dólares, sem ainda ter extraído uma gota de óleo. Eike acha que já remunerou suficientemente Landim. Ele diz: "Não faço acordo. Já paguei tudo o que devia a ele em ações, como remuneração por desempenho".
A relação começou a ruir em abril de 2009, quando Eike se reuniu com seus dez principais executivos avisando que seria necessário injetar 200 milhões de dólares no caixa da holding para sanar prejuízos acumulados com apostas equivocadas no mercado de câmbio. Na ocasião, Eike pediu a cada um dos presentes que contribuísse com uma parte do próprio bônus. Justificava: "Quando eu ganho, todos ganham. Mas, se eu coloco a mão no bolso, todos têm de pôr também". Seis executivos discordaram. Landim foi o mais veemente, abrindo uma ardente discussão com o empresário, seguida de semanas de gelo, sem que eles trocassem uma palavra. Logo Landim foi substituído na presidência da OGX pelo próprio Eike. No jargão do mundo dos negócios, Landim fora "colocado na geladeira". Em maio passado, deu-se o desfecho inevitável, a demissão de Landim. Um dos diretores ainda no grupo traduz o desfecho melancólico: "Quando ele chegou aqui, fazia os discursos de Natal da firma. Na hora de sair, nem o boy o cumprimentava mais".
Mesmo que não consiga o dinheiro que pleiteia, Landim sabe que uma ação judicial dessa natureza tem o potencial de provocar estrago na imagem do ex-chefe ou ex-sócio - um de seus objetivos declarados. Para um empresário como Eike Batista, cujas empresas estão em estágio inicial de operação, manter a credibilidade em alta é um dos fatores essenciais para garantir o desempenho das ações na bolsa. Os investidores que compram papéis de companhias como as de Eike - que vendem o potencial futuro de suas atividades e não o lucro imediato - precisam ter certeza de que o comando está unido e o líder tem visão e capacidade reconhecidas. Eike sempre soube atrair os melhores executivos, a quem faz ofertas tentadoras, com repasse de ações. Ele chama isso de "kit felicidade". Foi assim que tirou Landim e mais de meia centena de profissionais de alto nível de concorrentes de peso, como a Vale e a Petrobras. A pecha de descumpridor de promessas não lhe cairia bem. Em seu plano de vingança, Landim quer montar uma nova empresa de petróleo para concorrer com a OGX, com o dinheiro que viria da ação que move contra Eike. Disposto a levar a guerra com seu ex-braço direito até o fim, o bilionário diz: "Só lamento não tê-lo demitido antes". |
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
Um barraco bilionário
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REPORTAGENS
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